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Chefe mafioso italiano é preso no Brasil

22/05/2009

Foto: Divulgação

Leonardo Badalamenti, filho de Gaetano Badalamenti, um dos antigos chefões da máfia siciliana, morto em 2004
 

Numa operação internacional contra o crime organizado, polícias de quatro países prenderam 20 pessoas acusadas de associação com a máfia e transações ilícitas, entre elas Leonardo Badalamenti, o suposto chefe

Badalamenti é filho de Gaetano Badalamenti, um dos antigos chefões da máfia siciliana, morto em 2004.

A operação, chamada "Cento Passi", ocorreu simultaneamente na madrugada desta sexta-feira na Itália, Espanha, Venezuela e Brasil, culminando com a prisão de 20 pessoas de nacionalidade italiana, acusadas de associação mafiosa, corrupção e fraude.

No Brasil, agentes da polícia federal em colaboração com a Interpol, prenderam Badalamenti, 49 anos, em São Paulo, cidade onde morava, segundo o procurador Vittorio Teresi, um dos coordenadores da operação.

"Badalamenti foi detido em São Paulo, diante de nosso pedido de prisão provisória para fins de extradição", disse Vittorio Teresi à BBC Brasil.

O tenente coronel Strada, da polícia de Florença, que participou das operações, afirmou que a polícia brasileira fez um excelente trabalho porque não era fácil encontrar Leonardo Badalamenti, que vivia na cidade com o nome falso de Carlos Massetti.

Títulos falsos

O grupo chefiado por Badalamenti é acusado de tentar negociar títulos de investimento falsos, através de agentes financeiros.

"Leonardo Badalamenti era um dos coordenadores destas operações, feitas para tentar negociar títulos falsos no circuito financeiro internacional através de algumas filiais do Banco da Venezuela nos Estados Unidos, na própria Venezuela e na Inglaterra", informou o procurador Teresi.

O grupo de mafiosos queria negociar títulos falsos da dívida pública venezuelana por um total de cerca US$ 1 bilhão, que poderiam garantir abertura de crédito em bancos de diversos países, entre eles o Lehman Brothers de Baltimore, nos Estados Unidos, além de uma filial do Shanghai Bank em Hong Kong e um banco inglês.

Os institutos de crédito e os agentes financeiros, com base num atestado de depósito de papéis falsos garantido por um funcionário corrupto do Banco Central da Venezuela, deveriam autorizar o financiamento de centenas de milhões de dólares que seriam investidos em operações muito rentáveis.

Bloqueio

Segundo o magistrado, as tentativas de negociação de títulos falsos ocorreram entre dezembro de 2003 e abril de 2004 e não tiveram êxito porque o sistema de controle internacional dos bancos detectou algo de errado e bloqueou as operações.

"Fomos informados do caso porque, na época em que ocorreram, estávamos investigando as atividades das pessoas envolvidas".

Após a prisão de Leonardo Badalamenti, as autoridades italianas aguardam a decisão sobre sua extradição para a Itália.

Segundo o tratado de extradição, assinado pelos governos da Itália e do Brasil em 1989 e promulgado em 1993, após a prisão, ele deve permanecer detido à espera da decisão do Supremo Tribunal Federal.

O caso da extradição de Badalamenti vai entrar na pauta do STF, que já tem o polêmico caso do ex-terrorista Cesare Battisti para examinar. A decisão pode levar alguns meses.

Leonardo Badalamenti é filho do "chefão" Gaetano, conhecido como Dom Tano Badalamenti, morto aos 81 anos numa prisão nos Estados Unidos, em 2004. Seu envolvimento com o tráfico de drogas ficou comprovado em 1984 através da operação "Pizza Connection".

"Conhecemos muito bem os Badalamenti", disse o procurador.

Gaetano Badalamenti era o "padrinho" da máfia siciliana até os anos 80, quando iniciou uma guerra pelo poder com o clã adversário dos "corleoneses", que venceram e assassinaram quase toda a família Badalamenti.

Dom Tano fugiu para o Brasil e depois se transferiu para os Estados Unidos.

(© UOL Notícias)


Itália investiga ligações entre a Máfia e usinas eólicas na Sicília

Guy Dinmore
Em Palermo (Itália)

Magistrados que lutam contra a Máfia na Sicília deram início a uma ampla investigação do setor de energia eólica, no qual suspeita-se que autoridades, empresários e quadrilhas locais estejam participando conjuntamente da construção de lucrativas usinas eólicas antes que estas sejam vendidas para companhias multinacionais.

Subsídios italianos e da União Europeia para a construção de usinas eólicas e os mais elevados índices de garantia de investimento do mundo - 180 euros (US$ 240, 160 libras esterlinas) por quilowatt/hora para a eletricidade produzida nessas instalações - transformaram o sul da Itália em um mercado muito atraente para o crime organizado.

ReutersRoberto Scarpinato, um promotor veterano no combate à Máfia na capital regional, Palermo, disse ao "Financial Times" que a sua investigação, que teve início na semana passada, concentra-se nas três grandes províncias de Palermo, Trapani e Agrigento.

Uma investigação anterior de um caso ocorrido próximo a Trapani, no oeste da Sicília, resultou em oito prisões em fevereiro último, levando a acusações de que existe um possível esquema no qual uma importante família mafiosa oferece dinheiro e votos em troca de licenças para a construção de usinas eólicas.

A "Operação Vento" revelou que a Máfia prometeu a autoridades locais em Mazara del Vallo dinheiro e voto em troca de ajuda para a aprovação de projetos de usinas eólicas.

Os mafiosos suspeitos seriam vinculados a Matteo Messina "Diabolik" Denaro, um líder fugitivo de um clã da Máfia, que faz parte da lista dos criminosos mais procurados da Itália. Os promotores suspeitam que há o envolvimento da Máfia na emissão de licenças e na construção de usinas eólicas que depois são vendidas a companhias italianas e estrangeiras.

Autoridades locais disseram ao "Financial Times" que, em uma tentativa de controlar esse setor, suspeita-se que a Máfia teria destruído duas torres eólicas que estavam armazenadas no porto de Trapani após elas terem sido desembarcadas de um navio proveniente do norte da Europa.

"Este é um sistema sofisticado de conexões com empresários e políticos. Um pequeno grupo de indivíduos controla o setor eólico. Existem muitas companhias, mas quem as controla são as mesmas pessoas", acusa Scarpinato, cujas investigações concentram-se na evolução da Máfia rumo a uma organização empresarial moderna.

A Cosa Nostra da Sicília está evoluindo e descobrindo novas oportunidades de negócios, incluindo o setor de energias renováveis. Para isso, ela aproveita-se da sua histórica influência sobre o território e o setor de construção, bem como da sua capacidade de corromper autoridades locais.

Várias usinas eólicas construídas por companhias suspeitas de terem ligação com a Máfia ficaram sem funcionar durante um ou dois anos, em alguns casos devido a problemas de construção. "Isso é impressionante. Empreiteiras obtêm dinheiro público para construir usinas eólicas que não produzem eletricidade", disse o promotor.

Os governos regionais na Sicília, bem como os da Calábria e de Basilicata, no continente, suspenderam as autorizações para a construção de novas usinas eólicas por suspeitarem de atividades criminosas e devido à confusão sobre quem é o verdadeiro proprietário dos projetos.

A maioria - ou a totalidade - das usinas eólicas da Sicília tiveram início como projetos executados por empreiteiras locais, algumas das quais especularam em um mercado secundário para a obtenção de licenças. Após a conclusão das obras, a maioria delas foi vendida para multinacionais através de intermediários italianos. A International Power, do Reino Unido, é a maior operadora de energia eólica na Itália. Participam ainda do setor a Enel, da Itália, e a Eon, da Alemanha, que comprou parte da Endesa, da Espanha, em 2007. A EDF, da França, também participa. Embora as companhias internacionais conheçam a identidade das suas empreiteiras sicilianas, não há evidências de que eles tivessem conhecimento do envolvimento da Máfia.

Embora a Itália esteja muita atrasada no sentido de atingir até 2020 as metas de emissões estabelecidas pela União Europeia, o setor de energia renovável está crescendo vigorosamente e atraindo investimentos estrangeiros consideráveis. A International Power tornou-se a maior operadora em 2007 com a aquisição, em 2007, das usinas eólicas da Maestrale, em sua maioria italianas, incluindo cinco na Sicília, por 1,8 bilhão de euros.

A Itália é o quarto maior produtor europeu de eletricidade a partir da energia eólica.

(© UOL Notícias)

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