Cientista nega tese de 'Anjos e Demônios', e quem
liga?
21/05/2009
Foto: Divulgação
Longa baseado no livro é a nova, e
elogiada, parceria de Ron Howard e
Tom Hanks
Luiz Carlos
Merten - O Estado de S. Paulo
Presidente
da Federação Mundial de
Cientistas e emérito da
Universidade de Bolonha, Antonio
Zichichi tem, mais do que
ninguém, autoridade para
desmontar o castelo de cartas
sobre o qual se assenta Anjos e
Demônios, o novo thriller de Ron
Howard adaptado de Dan Brown,
com Tom Hanks na pele do
semiólogo Robert Langdon. Zichichi,
religioso e antidarwiniano, foi
o homem que descobriu a
antimatéria em 1965. Segundo
ele, sua descoberta não pode ser
roubada e muito menos contida
num recipiente, mas é isso que
ocorre em Anjos e Demônios, a
nova parceria com a qual a dupla
Howard/Hanks espera superar a
receita bilionária do O Código
da Vinci.
Embora arrasado pelos críticos,
o thriller anterior arrebentou
nas bilheterias, é verdade que
no mercado externo mais do que
nos EUA. O Brasil foi um dos
países em que o Código andou
muito bem. Se qualidade tem
algum reflexo na bilheteria,
então Howard e Hanks podem
contar com um sucesso maior. O
novo filme é melhor, como
thriller. O roubo da antimatéria
desencadeia uma caçada humana
com momentos eletrizantes e leva
o Vaticano a pedir ajuda a um
homem no qual não confia, mas do
qual precisa, Robert Langdon.
Com seu conhecimento dos
símbolos religiosos, só Langdon
poderá seguir a trilha sugerida
pelos illuminatti (sociedade
secreta do século 15), que
parecem estar por trás de todo o
episódio. Tal é o ponto de
partida de Anjos. Para deixar o
leitor mais informado sobre o
filme que vai ver, é bom
acrescentar que a Igreja
Católica, em Anjos, está
particularmente vulnerável
porque o papa morreu e o
conclave está reunido em Roma,
para escolher seu sucessor.
Howard e seus roteiristas
(Daniel Koepp e Akiva Goldsman)
também tomaram uma liberdade -
embora Anjos e Demônios tenha
sido escrito antes de O Código
Da Vinci, eles transferiram a
ação para depois.
O repórter do Estado encontra-se
com Howard no Castel
Sant'Angelo. A entrevista, desta
vez, ao contrário do encontro
com Tom Hanks, não é individual,
mas é como se fosse, porque o
outro jornalista que dela
participa é da Indonésia, no
outro lado do mundo, e não está
muito interessado no encontro.
Ele preferia estar falando com
Ewan McGregor, que faz o
camerlengo (cardeal que
desempenha, interinamente, as
funções do papa), e não com o
diretor. O repórter leva a
Howard o protesto do cientista
que inventou a antimatéria. "Sei
disso, mas tivemos um
conselheiro científico que disse
que, se fosse possível, seria do
jeito como apresentamos. Anjos e
Demônios não é um documentário
científico nem religioso. É uma
ficção, mas tudo o que estamos
mostrando é plausível, e isso
faz toda a diferença", ele diz.
O diretor não esquenta a cabeça
por causa disso. Para ele, Anjos
é um filme de
'bomba' e o que
Robert Langdon faz é correr para
desarmá-la. Ele se mostra mais
interessado pelos illuminatti.
"Quando li Anjos e Demônios pela
primeira vez, foi o que
realmente ficou comigo. Essa
sociedade secreta perseguida
pela Igreja tinha entre seus
integrantes Galileo Galilei e
Bernini. O que aconteceu com
eles? Os illuminatti existem até
hoje? Meu Deus, se eu não me
interessasse por isso, com o que
mais iria me interessar?" Na
trama de Anjos e Demônio, os
illuminatti sequestram quatro
cardeais, que ameaçam eliminar,
um após o outro. É para evitar
que isso ocorra que o Vaticano
chama Robert Langdon, e ele tem
a ajuda de uma cientista -
Vittoria, interpretada pela
israelense Ayelet Zurer -, que o
acompanha na sua via-crúcis
através de Roma. Só ela poderá
desarmar o mecanismo que
explodirá a antimatéria,
dissolvendo o Vaticano em luz,
como ameaçaram, há séculos, os
illuminatti.
Howard dispara sua resposta,
quando o repórter pergunta,
afinal, o que havia de tão
interessante para que ele
voltasse a Dan Brown e Robert
Langdon. "Basicamente, as
questões que Dan levanta são
originais e provocantes, mas o
que realmente pesou foi que
Anjos é muito mais
cinematográfico do que O
Código." Não durante a
entrevista, mas mais tarde, em
pleno tapete vermelho, Howard
confessou à imprensa brasileira
que gosta muito do Código e, se
tivesse de fazer o filme de
novo, "não mudaria nada". A
colaboração com Tom Hanks é
outro fator de enriquecimento. É
o quarto filme que fazem juntos,
após Splash - Uma Sereia em
Nossa Vida, Apollo 13 e O
Código. "Tom é um ator que soma
intelecto, curiosidade e senso
de humor. Tudo isso se ajusta ao
personagem de Robert Langdon.
Ele fica mais rico e profundo.
Minha experiência me diz que o
espectador não vai desgrudar o
olho dele."
O próprio Dan Brown participou
da coletiva de lançamento de
Anjos e Demônios, em Roma.
Embora solicitado pela imprensa,
ele nada antecipou sobre o novo
livro, que sai em setembro. O
que disse é o que já está em seu
site. The Last Symbol, O Último
Símbolo, narra a terceira
aventura de Robert Langdon, numa
narrativa que dura exatas 12
horas. Segundo o escritor,
Howard e Hanks poderão fazer de
O Último Símbolo um filme
'terrific' (incrível,
maravilhoso). O que pensa o
diretor? "Se Dan falou está
falado. Não temos nada acertado,
apenas uma opção pela
preferência, mas se o livro for
tão elétrico quanto Anjos e
Demônios, acho que será
impossível resistir à tentação
de narrar mais uma aventura de
Robert Langdon." O que faz dele
um personagem tão atraente para
o diretor? "Robert não é um
herói convencional. Ele é mais
um mestre da dedução como
Sherlock Holmes. Numa
civilização da imagem, como a
nossa, vive de identificar e
interpretar os signos.
Movimenta-se muito, mas quase
não age e certamente não é
violento. Nesse sentido, ele
está na contracorrente do cinema
atual. Seu sucesso é a prova de
que existe um público que quer
informação, não apenas emoção."
Serviço
Anjos e Demônios (Angels &
Demons, EUA/ 2009, 140 min.) -
Drama. Dir. Ron Howard. 16 anos.
Cotação: Bom
Vaticano rompe silêncio em relação a "Anjos e Demônios"
Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O sucesso de livros e filmes
como "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios" deveria fazer a Igreja
Católica repensar a maneira como emprega a mídia para se apresentar, disse
na quarta-feira o jornal do Vaticano.
O L'Osservatore Romano publicou dois editoriais sobre a
première de "Anjos e Demônios" em Roma na segunda-feira passada, pondo fim a
um silêncio institucional oficial em relação ao filme.
Os editoriais não criticaram nem elogiaram o filme, mas
ofereceram um misto de comentários positivos e negativos.
Um dos editoriais tachou o filme de "efêmero", mas também
admitiu que ele "prende a atenção" e chamou o trabalho de câmera de
"esplêndido". Disse que o filme é "pretensioso", mas que a direção de Ron
Howard é "dinâmica e atraente".
Um dos editoriais, intitulado "O Segredo de seu Sucesso",
diz que a Igreja deveria se perguntar por que uma visão "simplista e
parcial" dela, conforme mostrada nas obras de Dan Brown, encontra tanto eco,
mesmo entre católicos.
"Seria provavelmente um exagero considerar os livros de Dan
Brown um sinal de alarme, mas talvez eles devam ser um estímulo para que se
repense e renove a maneira como a Igreja emprega a mídia para explicar suas
posições sobre as questões mais candentes do momento", diz o editorial.
Em "Anjos e Demônios", o simbologista Robert Langdon retorna
à tela grande para tentar ajudar o Vaticano a resgatar cardeais sequestrados
que estão sendo assassinados de hora em hora.
Para desativar uma bomba-relógio, ele tem que encontrar e
decifrar pistas ligadas a uma sociedade secreta secular chamada Illuminati.
Diferentemente do que fez no caso de "O Código Da Vinci", o
Vaticano manteve silêncio oficial antes do lançamento de "Anjos e Demônios",
talvez porque sua condenação de "Código Da Vinci" proporcionou ao filme uma
quantidade incalculável de publicidade gratuita que acabou por favorecer
suas bilheterias.
"O Código Da Vinci" desagradou ao Vaticano e a alguns
católicos devido a sua trama, segundo a qual Jesus teria se casado com Maria
Madalena e tido filhos, dando origem a descendentes cuja existência a Igreja
teria mantido em segredo durante séculos.
Ron Howard acusou o Vaticano de tentar opor obstáculos às
filmagens em Roma de "Anjos e Demônios". Foi preciso recriar cenas do
Vaticano e de algumas igrejas de Roma em Los Angeles.