Mostra
reúne 60 obras do pintor
ítalo-brasileiro Volpi, com enfoque nas
décadas de 50 e 60
Táia
Rocha
Considerado um dos maiores coloristas da
pintura brasileira, Alfredo Volpi ganha,
a partir de quarta-feira, uma mostra com
60 obras no Instituto Moreira Salles. Em
Volpi: dimensões da cor, a curadora
Vanda Kablin optou por um recorte nas
décadas de 50 e 60 na obra do artista,
depois de uma longa pesquisa com
colecionadores do Rio e de São Paulo.
Durante a exposição, será lançado o
livro 6 perguntas sobre Volpi, um debate
em que a curadora lança seis questões
sobre o pintor e seis grandes
intelectuais das artes respondem, com
diferentes pontos de vista: Rodrigo
Naves, Sônia Salzstein, Lorenzo Mammì,
Paulo Sérgio Duarte, Alberto Tassinari e
o pintor Paulo Pasta. O livro estará à
venda no lugar.
– Volpi
nunca aderiu a nenhum movimento, mas, a
essa época, flertou com o concretismo
brasileiro – esclarece Vanda.
Em
1898, aos 2 anos, Alfredo Volpi deixou
sua cidade natal, Lucca, na Itália, no
auge da imigração italiana para o
Brasil. Seus pais se estabeleceram em
São Paulo, como tantos conterrâneos, e a
família se manteve com a venda de
queijos e salames. Para aumentar o
rendimento familiar, o filho tornou-se
tipógrafo e fez ornamentação de paredes
e outros trabalhos que exigissem bom
gosto e um apuro estético que já
começava a se denunciar.
Em
1914, pintou sua primeira tela e, até
1988, quando morreu, não parou de
produzir. A relação de telas catalogadas
já ultrapassa 2.400 ítens de importância
inegável para as artes plásticas
brasileiras:
– Ele
nunca se naturalizou no país, mas não se
pode falar em linguagem pictórica
brasileira sem falar em Volpi – resume a
curadora.
Volpi
iniciou sua produção embebido no
naturalismo do fim do século 19, escola
que primava pela representação realista
e que foi perdendo o apelo aos poucos,
com o advento da fotografia. Quanto mais
se distanciava do naturalismo, mais o
pintor se aproximava dos ares
modernistas, que o inspirou claramente a
partir dos anos 50, depois de uma viagem
à Europa, na qual conheceu de perto o
trabalho de Giotto e Henri Matisse e se
encantou.
Jogos cromáticos
Na
década de 50, opta por uma economia
tonal notável, com tons mais sóbrios e
menos variados, opção que seria virada
ao avesso na década seguinte, quando as
telas se enchem novamente de cores
vibrantes e tropicais. Nos anos 60, são
os fragmentos das paisagens já
simplificadas que se tornam elementos de
quadros modernos, repetindo-se em jogos
formais e cromáticos.
– Volpi
optou pelo abandono cada vez mais
notável das formas conhecidas e, assim,
passou a usar detalhes das fachadas e
das paisagens marítimas que já pintava e
as formas passaram a ser mais
ferramentas de um exercício cromático do
que representações figurativas de fato –
conta Vanda. – Nesse contexto, nem mesmo
as bandeiras são compreendidas como
objetos: são quadrados dos quais foram
excluídos triângulos, estão longe da
bandeira de festa junina a que muitos
atribuem a forma.
Outro
aspecto particular da obra do pintor é a
técnica que adotou depois da visita a
seu continente natal: a têmpera. Pouco
usado por artistas contemporâneos no
Brasil, o método consistia em mesclar
pigmentos a ovos, cravos da índia e
vinagre, numa mistura que tornava a
tinta mais aderente e ideal para o uso
de chassis de madeira.
– Seu
primeiro contato com a têmpera foi numa
capela em Pádua, cujo teto Giotto
pintou– observa Vanda. Ele ficou
obcecado pelo lugar, voltou 18 vezes
durante a mesma viagem para observar os
detalhes, e acabou por adotar a
fabricação artesanal de seus materiais:
tanto das tintas quanto dos chassis.
Como a
tinta misturada a claras de ovos se
tornava rala, as pinceladas das obras de
Volpi são facilmente identificáveis.
A
exposição reúne telas e chassis
majoritariamente pequenos, no que o
pintor classificou como tamanho "um", de
24cm X 33cm. As obras pequenas, no
entanto, não devem ser encaradas como
meros ensaios para versões ampliadas: já
carregavam o vigor e a excelência de
obras primas.
– Essas
obras foram expostas no máximo duas
vezes, são quase inéditas para o público
e até mesmo para especialistas. Algumas
eram reproduzidas mais tarde em tamanhos
maiores, outras não – salienta.