O Centro
Internacional de Semiótica e Comunicação
(Ciseco) realiza, no período de 28 de
setembro a 2 de outubro de 2009, em
Japaratinga, Alagoas, o seu Pentálogo
Inaugural abordando o tema
Transformações da midiatização
presidencial: corpos, relatos,
negociações, resistências. O evento
deverá reunir pesquisadores, docentes e
intelectuais brasileiros e
internacionais, com diferentes inserções
em universidades da França, Argentina,
Itália, Chile, Colômbia, Estados Unidos,
México, Venezuela, Bolívia e Brasil.
Envolve também a presença de
especialistas, e quadros das áreas
políticas, marketing e administração.
Este Pentálogo registra o início das
atividades do Ciseco, e tem como seu
principal convidado o escritor,
filósofo e lingüista italiano Umberto
Eco, da Universidade de Bolonha
(Itália), na condição de conferencista
da Sessão de Abertura deste evento
inaugural.Sobre o Pentálogo Inaugural
O Pentálogo Inaugural abordará como
tema central “Transformações da
midiatização presidencial: corpos,
relatos, negociações, resistências”. O
que motiva e justifica o debate dessas
questões neste momento? Sintomas
múltiplos, variados, mas convergentes,
parecem indicar que ao longo dos
primeiros anos do novo milênio, a função
presidencial, enquanto posição executiva
dos regimes democráticos, está em
processo de mudança profunda, pelo menos
na Europa e nas Américas. Em função
disso, o Pentálogo estudará os processos
de construção do lugar presidencial
hoje, a partir da presença dos processos
midiáticos. Examinará a incidência das
mídias num conjunto de eleições
presidenciais do continente Americano:
eleição e reeleição de Lula; ascensão de
duas mulheres a presidência (Chile e
Argentina); de um representante das
culturas indígenas na presidência
boliviana; de um bispo católico no
Paraguai; e também pela primeira vez,
nos Estados Unidos, a eleição de um
político negro para presidência. Na
Europa se destaca o retorno de
Berlusconi à presidência do Conselho de
Ministros na Itália, no que pese os
múltiplos escândalos aos quais está
associado, e no que pese ao seu papel de
controle de um império midiático em seu
próprio país. Forte acentuação do
presidencialismo na França, com uma
simultânea e explícita exibição do
vínculo entre a classe política e o
mundo do espetáculo.
Participantes
Os participantes do Pentálogo são
personalidades científicas e acadêmicas
com inserção em várias instituições
universitárias internacionais. A
conferência inaugural será proferida
pelo Professor Umberto Eco (Università
degli Studi di Bologna, Itália). O
evento terá também expositores os
convidados especiais de várias
universidades do mundo. Está prevista
ainda uma conferência do Ministro-Chefe
da Secretaria de Comunicação Social do
Governo Federal, Jornalista Franklin
Martins, sobre as “Relações entre
Políticas de Comunicação e a Função
Presidencial”.
Haverá também exposições a cargo dos
membros diretores do Ciseco: Amilton
Glaucio de Oliveira (Universidade
Federal de Alagoas), Antônio Fausto Neto
(Unisinos), Antonio Heberlê
(Universidade Católica de Pelotas);
Eliseo Verón (Universidad de San Andrés,
Argentina), Geraldo Luiz dos Reis Nunes
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro), Giovandro Ferreira
(Universidade Federal da Bahia).
O evento terá como coordenadores de
trabalho os professores Jean Mouchon
(França), Antônio Fausto Neto (Brasil),
Eliseo Verón (Argentina).
Sobre Umberto Eco
Nascido em Alexandria, Umberto Eco,
aos 77 anos, é mundialmente reputado
por seus diversos ensaios universitários
sobre a semiótica, a estética medieval,
a comunicação de massa, a lingüística e
a filosofia. É, também, titular da
cadeira de Semiótica e diretor da Escola
Superior de Ciências Humanas na
Universidade de Bolonha, além de
colaborador em diversos periódicos
acadêmicos, colunista da revista semanal
italiana L'Espresso e professor honoris
causa em diversas universidades ao redor
do mundo. Eco é, ainda, notório escritor
de romances, entre os quais O nome da
rosa e O pêndulo de Foucault.
Umberto Eco iniciou a sua carreira como
filósofo sob a orientação de Luigi
Pareyson, na Itália. Seus primeiros
trabalhos dedicaram-se ao estudo da
estética medieval, sobretudo aos textos
de Santo Tomás de Aquino. A idéia
principal defendida por Eco, nesses
trabalhos, diz respeito à idéia de que
esse grande filósofo e teólogo medieval,
que, como os demais de seu tempo, é
acusado de não empreender uma reflexão
estética, trata, de um modo particular,
da problemática do belo.
A partir da década de 1960, Eco se
lança ao estudo das relações existentes
entre a poética contemporânea e a
pluralidade de significados. Seu
principal estudo, nesse sentido, é a
coletânea de ensaios intitulada Obra
Aberta (1962), que fundamenta o conceito
de obra aberta, segundo o qual uma obra
de arte amplia o universo semântico
provável, lançando mão de jogos
semióticos, a fim de repercutir nos seus
intérpretes uma gama indeterminável
porém não infinita de interpretações.
Ainda na década de 1960, Eco
notabilizou-se pelos seus estudos acerca
da cultura de massa, em especial os
ensaios contidos no livro Apocalíticos e
integrados (1964), em que ele defende
uma nova orientação nos estudos dos
fenômenos da cultura de massa,
criticando a postura apocalíptica
daqueles que acreditam que a cultura de
massa é a ruína dos "altos valores"
artísticos - identificada com a Escola
de Frankfurt, mas não necessariamente e
totalmente devedora da Teoria Crítica -,
e, também, a postura dos integrados -
identificada, na maioria das vezes, com
a postura de Marshall McLuhan -, para
quem a cultura de massa é resultado da
integração democrática das massas na
sociedade.
A partir da década de 1970, Eco passa
a tratar quase que exclusivamente da
semiótica. Eco descobriu o termo
"Semiótica" nos parágrafos finais do
Ensaio sobre o Entendimento Humano
(1690), de John Locke, ficando ligado à
tradição anglo-saxónica da semiótica, e
não à tradição da semiologia relacionada
com o modelo linguístico de Saussure.
Pode-se dizer, inclusive, que a teoria
de Eco acerca da obra aberta é
dependente da noção peirceana de semiose
ilimitada. Nesta concepção do "sentido",
um texto será inteligível se o conjunto
dos seus enunciados respeitar o saber
associativo. Ao longo da década, e
atravessando a década de 1980, Eco
escreve importantes textos nos quais
procura definir os limites da pesquisa
semiótica, bem como fornecer uma nova
compreensão da disciplina, segundo
pressupostos buscados em filósofos como
Kant e Peirce.
São notáveis a coletânea de ensaios
As formas do conteúdo (1971) e o livro
de grande fôlego Tratado geral de
semiótica (1975). Nesses textos, Eco
sustenta que o código que nos serve de
base para criar e interpretar as mais
diversas mensagens de qualquer subcódigo
(a literatura, o subcódigo do trânsito,
as artes plásticas etc.) deve ser
comparado a uma estrutura rizomática
pluridimensional que dispõe os diversos
sememas (ou unidades culturais) numa
cadeia de liames que os mantêm unidos.
Dessa forma, o Modelo Q (de Quillian)
dipõe os sememas - as unidades mínimas
de sentido - segundo uma lógica
organizativa que, de certo modo, depende
de uma pragmática. A sua noção de signo
como enciclopédia é oriunda dessa
concepção.
Como conseqüência de seu interesse
pela semiótica e em decorrência do seu
anterior interesse pela estética, Eco, a
partir de então, orienta seus trabalhos
para o tema da cooperação interpretativa
dos textos por parte dos leitores.
Lector in fabula (1979) e Os limites da
interpretação (1990) são marcos dessa
produção, que tem como principal
característica sustentar a idéia de que
os textos são máquinas preguiçosas que
necessitam a todo o momento da
cooperação dos leitores.
Dessa forma, Eco procura compreender
quais são os aspectos mais relevantes
que atuam durante a atividade
interpretativa dos leitores, observando
os mecanismos que engendram a cooperação
interpretativa, ou seja, o
"preenchimento" de sentido que o leitor
faz do texto, procurando, ao mesmo
tempo, definir os limites
interpretativos a serem respeitados e os
horizontes de expectativas gerados pelo
próprio texto, em confronto com o
contexto em que se insere o leitor.
Além dessa carreira universitária,
Eco ainda escreveu cinco romances,
aclamados pela crítica e que o colocaram
numa posição de destaque no cenário
acadêmico e literário, uma vez que é um
dos poucos autores que conciliam o
trabalho teórico-crítico com produções
artísticas, exercendo influência
considerável nos dois âmbitos. Ver,
abaixo, a relação completa de suas obras
que circularam ou circulam no mercado
editorial brasileiro.