Sob forte comoção, 10 mil pessoas
participam de funeral coletivo na região
de Áquila; mortos chegam a 290
Reuters, AP, AFP e Efe,
ÁQUILA, ITÁLIA
Sob decreto de luto nacional, uma
multidão de cerca de 10 mil pessoas
velou ontem em Coppito, vilarejo vizinho
de Áquila, 205 vítimas do terremoto que
devastou a região de Abruzzo, centro da
Itália. Ontem, o número de mortos chegou
a 290. Embora garanta que não há risco
de novos sismos, o governo italiano
admitiu que pelo menos mil réplicas
foram registradas na região desde
segunda-feira, quando ocorreu o
terremoto devastador de 6,3 graus na
escala Richter.
Fotos e flores foram depositadas por
parentes, amigos e desconhecidos sobre
os caixões, divididos em duas cores para
diferenciar a faixa etária das vítimas.
Os marrons eram de adultos. Os brancos,
cerca de 20, de crianças. Parentes e
participantes da cerimônia beijavam e se
agarravam aos caixões, enquanto o
cardeal Tarcisio Bertone, secretário de
Estado do Vaticano, conduzia as orações.
"Sinto que meu coração renasceu, porque
debaixo desses escombros há o desejo de
reconstruir, de recomeçar, de fazer
planos, de sonhar", disse o cardeal.
Um imã também participou do velório em
respeito às vítimas muçulmanas.
Visivelmente emocionado, o premiê
italiano, Silvio Berlusconi, segundo
homem mais rico do país, disse ontem que
ofereceria como abrigo aos desalojados
as luxuosas casas de campo que integram
seu patrimônio. "Farei tudo o que posso
também. Ofereço minhas residências",
afirmou o premiê.
Berlusconi disse que há 40 mil
desabrigados. Mas Agostino Miozzo,
porta-voz da agência de defesa civil
italiana, declarou que 31 mil pessoas
perderam suas casas na tragédia, das
quais 20 mil estão acampadas em tendas
improvisadas em lugares onde a
temperatura chega a 10°C. O restante,
segundo Miozzo, foi instalado em hotéis
nas cercanias de Áquila.
No vilarejo de Onna, o tremor vitimou um
oitavo da população local. Sobre a
possibilidade de novos tremores, o
funcionário da defesa civil Marco
Volponi, que trabalha em um dos
acampamentos de sobreviventes, admitiu
que "o clima é de medo". Mas,
oficialmente, especialistas em Roma
descartam a possibilidade de novos
terremotos com a mesma intensidade do
tremor de segunda-feira.
O promotor-geral de Áquila, Alfredo
Rossini, abrirá uma investigação sobre
os materiais e métodos usados nas
construções dos prédios da cidade. A
investigação, segundo o diário La
Repubblica, pretende responder por que
alguns prédios ofereceram tão pouca
resistência ao terremoto.
Passados cinco dias da tragédia, equipes
de resgate ainda conduzem buscas em toda
região de Abruzzo. Ontem, a expectativa
aumentou depois que bombeiros escutaram
ruídos sob os escombros em Áquila.
"Trouxemos cães farejadores e eles
ficaram bastante agitados", contou um
bombeiro. Ele alertou que o barulho pode
ter sido feito por um animal. Até a
noite, as buscas não haviam sido
encerradas. Autoridades italianas
garantiram que os trabalhos seguirão até
a Páscoa.
Berlusconi afirmou que quatro cidadãos
romenos foram presos por saquear lojas,
mas garantiu que não foram registradas
ondas de saque. Os detidos serão
julgados em tendas improvisadas em
Áquila.
DRAMA
Entre as vítimas já identificadas, a
mais idosa tinha quase 100 anos. A mais
jovem, 6 meses. Evandro Testa, de 96
anos, morto no terremoto, nasceu em
1913. Antonio Loavan Ghiroceanu, a
vítima mais nova, havia nascido em 11 de
dezembro. Sobre o caixão do bebê foram
depositadas flores e um pequeno macacão
azul com o desenho de um passarinho.
Entre a multidão do velório, Anna
Difilice, que perdeu seu filho Fábio, de
20 anos, disse que não sabe o que fará
agora. "Só sei que jamais abandonarei
esta cidade. Nunca."
PRECE FINAL
Tarcisio Bertone
Número 2 do Vaticano
"Sinto que meu coração renasceu, porque
debaixo desses escombros há o desejo de
reconstruir, de recomeçar, de fazer
planos, de sonhar"
Sílvio Berlusconi
Premiê italiano
"Também farei tudo o que posso para
ajudar os desabrigados. Ofereço minhas
residências"
Marco Volponi
Defesa civil
"O clima é de medo"
TRAGÉDIA EM NÚMEROS
290 mortos
confirmados
20 mil pessoas
estão em tendas improvisadas pela defesa
civil italiana
11 mil abrigados
em hotéis espalhados por toda região de
Abruzzo
1 mil tremores
secundários atingiram a área desde
segunda-feira
205 vítimas
foram veladas ontem
(©
Estadão)
Familiares enterram vítimas de terremoto na Itália; premiê pede união
Foto: Pier
Paolo Cito/Associated Press
O cemitério da cidade italiana de Áquila, cidade italiana mais atingida pelo
terremoto de segunda-feira passada (6), recebeu nesta sexta-feira os primeiros
caixões após
funerais
de Estado pelas 289 vítimas. O premiê italiano, Silvio Berlusconi,
participou da cerimônia e pediu aos milhares de familiares e moradores da região
de Abruzzo que mantenham "clima de união".
"Diante de um acontecimento como este, não apenas pe necessário, mas
indispensável, um clima de união", disse Berlusconi, que visitou, logo após o
funeral, a sala de controle da Agência de Proteção Civil.
O cemitério de Áquila, capital de Abruzzo, receberá 150 dos mais de 200
caixões expostos nesta sexta-feira no funeral, entre eles, 20 caixões brancos de
crianças.
O primeiro corpo a chegar ao cemitério local foi o de Rosa Antonini, a frente
do interminável cortejo de carros fúnebres que percorre as ruas de Áquila após a
realização do funeral de Estado na Praça de Armas da Escola da Guarda de
Finanças.
Os caixões das vítimas foram levados nos ombros por membros das forças de
segurança e das equipes de resgate italianos até os carros que os conduziram por
uma cidade que nesta sexta-feira chora a tragédia causada pelo terremoto do dia
6 e as mais de 500 réplicas --tremores secundários de intensidade menor que
ocorrem depois de terremotos-- que atingiram a região, destruíram cerca de 10
mil edificações e deixou milhares de desabrigados.
O funeral de Estado foi presidido pelo secretário de Estado vaticano, o
cardeal Tarcisio Bertone, e dele participaram os máximos representantes das
instituições italianas, entre eles o presidente da República, Giorgio
Napolitano, e Berlusconi.
"Digo a vocês, como pai, que entendo a dor que isto pode representar", disse
o premiê, que classificou a tragédia como "terrível, angustiante e lancinante".
Papa
A cerimônia do funeral começou em Áquila, cidade mais devastada pelo
terremoto e pelos mais de 500 tremores seguintes, com a leitura de uma mensagem
do papa Bento 16 lida pelo seu secretário pessoal, Georg Gaenswein.
O papa, que, na mensagem disse se juntar "ao luto dos que choram" por seus
próximos, deve visitar a região após as celebrações da Páscoa neste fim de
semana.
Bento 16 rezou pela "cura rápida dos feridos", cerca de 1.500, segundo dados
do governo italiano, enquanto as pessoas próximas às vítimas, em prantos, com as
mãos sobre a cabeça, escutavam a mensagem lida por Gänswein.
"Eu me sinto espiritualmente próximo de vocês para dividir esta angústia e
pedir a Deus pelo descanso eterno" dos desaparecidos, acrescentou o papa.
O número dois do Vaticano, o secretário de Estado, Tarsicio Bertone, que
oficia a cerimônia junto ao arcebispo de Abruzzo, Guisseppe Molinari, realizou a
homilia diante de milhares de familiares das vítimas e moradores da região, que
teve cerca de 10 mil edificações danificadas pelos tremores.
"Nos inclinamos perante o enigma indecifrável mas é também uma ocasião
preciosa para entender qual é o valor e o significado da vida".
Com agências internacionais
(©
Folha Online)
L'Italia in lutto piange i morti d'Abruzzo
Foto:
Reuters
dell'inviato Matteo Guidelli
L'AQUILA - Le donne, le madri, sono sempre le piu' forti: ma non ce n'e' una
che, passando davanti alla bara di Antonio Iovan, che ha vissuto solo 5 mesi
e che ora sta chiuso in 50 centimetri di legno bianco, sia riuscita a
trovare dentro di se' quella forza che le impedisse di piangere. Non e' un
funerale qualsiasi, questo dell'Aquila, perche' 205 bare tutte insieme sono
troppe: i morti della stazione di Bologna furono 85, due volte e mezzo meno
di quelli di oggi. E quelli della Moby Prince 140, 65 in meno.
A Gemona, nel terremoto del Friuli del '76 morirono 369 persone, ma non ci
fu un rito collettivo. Ecco, all'Aquila oggi c'e' stata una cosa nuova a cui
solo la storia, domani, dara' un nome e che difficilmente l'Italia
dimentichera'. 205 bare tutte insieme non ci sono mai state: 50 per fila,
quattro file, ciascuna di 300 metri. Fanno male. Cosi' come annienta la
Spoon River che c'e' sopra: foto, biglietti, peluche, una maglia da rugby,
un solo fiore, un anello. Ricordi di vite sparite. Alle 7 sono gia' la',
mentre i primi parenti cominciano ad arrivare in questa immensa scuola della
Guardia di Finanza, che e' l'unica cittadella sopravvissuta di una citta'
distrutta.
''Dio voglia che da questa insopportabile e assurda storia di morte nasca
una nuova e luminosa storia di vita e di speranza'' dice dall'altare il
vescovo dell'Aquila, Giuseppe Molinari, anche lui terremotato, strappando un
applauso convinto durante una cerimonia, che, senza colonne, capitelli e
organi, perde un po' di solennita', ma acquista molta umanita'. Ha ragione,
Molinari e i primi a saperlo sono proprio gli aquilani che riscoprono nella
piazza d'Armi della caserma l'Agora' greca, il centro della vita in comune:
si avvicinano, si rincontrano, si abbracciano, ricordano. ''Ce la faremo'';
''Lo sapevo che stavi bene'', ''Non piangere, vieni qui''; ''Ero in bagno,
perche' sono salvo non lo so''; ''Fate una new town'', Fate l'Aquila 1,
l'Aquila 2 , l'Aquila 24 , ma fatela'', ''Dammi la mano''; ''Mamma domani
posso andare da Giulia?''. Mai come oggi lo Stato e' presente. Con le prime
quattro cariche dello Stato, i ministri, l'opposizione dentro e fuori il
Parlamento, le forze armate e quelle di polizia, i Comuni, le Regioni e le
Province e i volontari. Defilati, scegliendo di non togliere ai parenti
spazio davanti alle bare. C'e' lo Stato, perche' sa che questa partita non
la puo' perdere, pena la perdita di dignita' di un Paese. Napolitano e'
stretto nel cappotto nero e i suoi occhi passano da una bara all'altra non
riuscendo a nascondere la sofferenza. Berlusconi piange: lascia il settore
riservato alle autorita' e si piazza tra i parenti in piedi. Stringe mani,
accarezza volti.
Ad un giovane inginocchiato prova a infondere fiducia. ''Non in ginocchio,
ma schiena dritta''. Ma e' difficile anche per un ottimista come il
Cavaliere crederci fino in fondo. ''Esperienza lancinante - dira' poi - non
dimentichero'''. Bertolaso, l'uomo delle emergenze, e' spaesato, lui cosi'
sempre presente e sicuro. Loro, i parenti, sono invece nella terra di
nessuno: quel mondo di dolore senza risposte, dove soli si entra e soli si
esce. C'e' chi non ce la fa e sviene, chi sta seduto affianco alla bara del
proprio caro, chi guarda nel vuoto per non guardare dentro di se'. Ci sono i
sopravvissuti della casa dello studente, uno dei simboli di questo incubo. E
ci sono le mamme di Onna, il paese distrutto, 39 morti su 250 abitanti,
stanno mano nella mano, facce dure, di gente che sa cosa vuol dire soffrire,
perche' la vita, anche prima del terremoto, non era facile.
E facce dolci, di gente semplice e genuina. C'e' anche il sindaco
dell'Aquila Massimo Cialente, terremotato anche nell'anima. ''Devo salutare
troppi amici, troppi vicini, troppi figli di colleghi in quelle bare. E' una
tragedia''. ''Questa cosa segnera' la storia dell'Aquila - conferma il
presidente della Regione, Gianni Chiodi - questo e' il giorno del dolore per
la citta' e dell'Italia''. A tutti loro si rivolge Benedetto XVI nel
messaggio letto dal suo segretario, padre Georg Gaenswein. ''Vi sono
spiritualmente vicino in questa immane tragedia - scrive il papa - non
bisogna cedere allo sconforto, perche' questo e' il momento di impegno in
sintonia con lo Stato''. C'e' anche il messaggio del presidente dell'Ucoii
Mohammed Nour Dachan, perche' tra le vittime ci sono anche sei musulmani e
non importa che le loro bare oggi qui non ci sono. I morti sono tutti
uguali, come dovrebbero essere i vivi. ''Il Dio unico - dice - aiuti
l'Abruzzo a tornare a fiorire''.
Ma non e' oggi il giorno per scacciare l'incubo. Lo ricordano a tutti madre
e figlia che i vigili del fuoco tirano fuori dalle macerie proprio mentre
sono in corso i funerali. Sono morte domenica e solo ieri e' stata segnalata
la loro scomparsa. Da qualche altra parte, nel centro deserto dell'Aquila,
ci sono ancora morti da trovare. E incubo, peggiore, sono gli sciacalli,
quei quattro romeni che con la complicita' di una loro concittadina che
faceva la badante a un vecchio hanno svaligiato la casa mentre l'Aquila
piangeva i suoi morti. Segno che il mondo sa essere cattivo e brutto anche
quando potrebbe risparmiarselo. Meglio, allora, tornare ad Antonio Iovan e i
suoi cinque mesi: se ne e' andato con la mamma Darnica e il papa' Laurentiu.
Romeni venuti in Italia a cercare un futuro migliore e morti da italiani.
Assieme ad Alessio, Caterina, Adriana, Salvatore, Giuseppina, Chiara,
Michele, Maria Incoronata...
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