GUILHERME AQUINO
De Milão
A sexta edição do Festival Internacional de Dança Contemporânea tem como tema a beleza e pretende discutir a obsessão do culto ao ego, a conquista da beleza e a pressão da mídia sobre o mito da aparência.
Com curadoria do brasileiro Ismael Ivo - que dirige o evento pela quarta vez consecutiva - o festival deste ano conta com 15 espetáculos, dirigidos por coreógrafos de diversas partes do mundo.
"Beauty" (beleza, em inglês) é a continuação da pesquisa iniciada pelo brasileiro sobre a relação do corpo com o mundo contemporâneo. Ivo assumiu a Bienal de Dança de Veneza em 2005 e iniciou uma trilogia colocando o corpo no centro do universo. Com Body Attack, Underskin e Body&Eros, Ismael Ivo lançou as bases para explorar a descoberta do corpo humano através dos movimentos dos bailarinos.
Nesta edição, o olhar crítico do brasileiro quer mostrar ao mundo a obsessão e a pressão pela beleza e transformar a dança em instrumento político de liberação da arte. "Chega de dizer que a dança é a cerejinha da torta. Não!", exclama Ismael Ivo, em entrevista à BBC Brasil.
Conceito
Ismael Ivo, diretor da Bienal de Dança de Veneza, que tem como tema a beleza |
"A beleza é complexa, o sentimento de beleza é complexo. Será a arte a amante da beleza? Qual é o conceito de beleza?", questiona Ivo. Para tentar responder à pergunta, o coreógrafo convidou as principais companhias de dança dos Estados Unidos e da Europa, além de organizar seminários e mesas-redondas para a discussão do tema.
Entre os participantes deste ano estão Frédéric Flamand, Stephen Petrônio, Michela Lucenti e a escritora Germaine Greer, autora do livro O Eunuco Feminino.
O artista e fotógrafo Davide Michalek abre o Festival no dia 14 de junho com o espetáculo "Slow Dancing", que traz 46 fotografias de coreografias interpretadas por dançarinos, projetadas em três telões espalhados pela cidade durante todo o evento. "Chain of Feathers", do jovem coreógrafo Mauro de Candia, encerra a Bienal de Dança no dia 29.
Outros destaques do evento são a Bonachela Dance Company, com "Square Map of Q4", de Rafael Bonachela, e os espetáculos "Beauty and the Brut Bloom" e "This is the Story of a Girl in a World", de Stephan Petronio com um time de artistas que elabora o ritmo pop com coreografia de vanguarda.
Brasil
Além do curador brasileiro, o espetáculo "Métamorphoses", de Frédéric Flamand também irá contar com talentos do Brasil. Encenado pelos dançarinos do Ballet National de Marseille, a companhia francesa escolheu os irmãos Campana para contribuir com a cenografia e figurino.
Para interrogar sobre os mitos da beleza contemporânea da tecnologia, da eterna juventude, Frédéric Flamand "vestiu" o espetáculo com as criações de Fernando e Humberto Campana. Pegasus, Narciso e Medusa são alguns dos personagens que "dançam" a metamorfose.
Segundo Frédéric Flamand, os brasileiros conseguiram elaborar em representação cenográfica a marca registrada de seus trabalhos com materiais recicláveis refletindo a metamorfose nos mundos animal, vegetal, mineral e espiritual.
O coreógrafo, dançarino e diretor da Bienal de Dança de Veneza, Ismael Ivo, diz que "o corpo, o movimento e o indivíduo continuam em evolução", e que "a dança é uma das expressões mais antigas desta obra inacabada na qual tudo sempre se transforma", finaliza.
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UOL Diversão & Arte)