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Itália comemora "renascimento" de seu cinema após
Cannes |
Efe
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Por Silvia Aloisi
Reuters/Brasil Online ROMA (Reuters) - Enquanto a França celebra a vitória de um filme seu no festival de Cannes, a Itália também comemora o renascimento de seu cinema, depois de obter dois prêmios importantes na maior competição de filmes do mundo.
"Gomorrah", um filme pesado sobre a máfia de Nápoles, e "Il Divo", sátira da vida do ex-premiê Giulio Andreotti, levaram o segundo e o terceiro prêmios respectivamente, ganhando o respeito da crítica tanto em casa quanto no exterior.
Os prêmios foram um incentivo bem-vindo pelo cinema italiano, que passou os últimos anos procurando a própria identidade e já foi declarado como decadente. Os prêmios aos dois filmes foram manchete na Itália na segunda-feira, chamando mais atenção que o grande vencedor, o francês "Entre Les Murs", do diretor Laurent Cantet.
"Se houvesse um vencedor real da competição, seria o cinema italiano", disse Paolo Mereghetti, importante crítico do Corriere della Sera.
"É importante convencer o público internacional - que é a força de Cannes - de que nosso cinema está voando alto de novo", disse.
O tom não poderia ser mais diferente do que o usado no ano passado, quando os filmes italianos ficaram de fora da competição principal em Cannes, e o diretor norte-americano Quentin Tarantino chamou o cinema italiano de "deprimente".
"Os filmes mais recentes que vi são todos iguais. Eles falam de meninos crescendo, ou meninas crescendo, ou casais em crise, ou férias dos debilitados mentais", disse Tarantino em junho, em uma entrevista.
Desta vez, os críticos dizem que "Gomorrah", de Matteo Garrone, e "Il Divo", de Paolo Sorrentino, lançam um olhar inovador sobre temas importantes - a máfia e a corrupção política.
"Em uma indústria que parecia estar acabando...de repente, dois diretores que ainda nem têm 40 anos mostram que uma nova geração de cineastas nasceu olhando a realidade do nosso país, suas sombras e vergonhas, sem medo", escreveu Natalia Aspesi, que cobriu o festival para o jornal La Republica.
(©
O Globo)
Foram eles o Grand Prix para Gomorra e o atribuído pelo júri, para Il Divo Luiz Carlos Merten, Cannes Foi um bom ano para a Itália, que ganhou dois prêmios importantes do júri presidido por Sean Penn, no 61º Festival de Cannes - o Grand Prix, atribuído a Gomorra, de Matteo Garrone, e o prêmio do júri, para Il Divo, de Paolo Sorrentino. O filme de Garrone trata da Camorra, a Máfia napolitana, podendo ser visto como uma espécie de Cidade de Deus italiano, mostrando o envolvimento de jovens com o tráfico e o crime organizado. Os jovens são as grandes vítimas de Gomorra, mas o filme, embora rigoroso, aposta num verismo que Paolo Sorrentino trata de evitar no superior Il Divo, filme conceitual em que ele usa o personagem de Giulio Andreotti, político que domina a vida italiana há mais de meio século, para refletir não só sobre o poder, mas sobre a arte, o próprio cinema. Andreotti, magnificamente interpretado pelo ator-fetiche de Paolo Sorrentino, Toni Servillo, é um personagem de si mesmo. Um político que não apenas não acredita na ética, como pensa que um homem que siga princípios muito rígidos será fatalmente um homem ridículo num mundo em que os valores perderam o sentido.
O júri atribuiu o prêmio de direção ao cineasta turco Nuri Bilge Ceylan, por The Monkeys (Três Macacos), trabalho muito elaborado que não deixa de colocar em xeque novamente a política. O protagonista é um motorista que, cooptado por um político que tenta a reeleição, assume a autoria de um acidente com morte, do qual o outro é responsável. O motorista vai preso, sua mulher vira amante do político e, rejeitada por ele, enlouquece de desejo. Há ainda o personagem do filho e a família desintegra-se numa fascinante releitura do melodrama criminal, que o cineasta trata por meio de uma mise-en-scène muito inteligente, na qual se destaca justamente o uso que ele faz da paisagem, integrando-a ao drama humano.
Se o prêmio de atriz para Sandra Corveloni foi surpresa - Linha de Passe é um filme coral de Walter Salles e Daniela Thomas, no qual os atores que fazem os filhos também poderiam aspirar à honraria, por meio de um prêmio coletivo de interpretação -, o de melhor ator para Benicio Del Toro, embora discutível, era o máximo com que o Che de Steven Soderbergh poderia sonhar. Benicio agradeceu a Soderbergh, à sua coragem em fazer um filme tão pouco convencional, em termos de biografia hollywoodiana. "Sem a firmeza da direção de Steven, não conseguiríamos lograr este trabalho tão complexo", ele disse. Agradeceu também ao próprio Ernesto Che Guevara, cuja vida, confessou na entrevista, lhe era estranha quando garoto, em Porto Rico. Só mais tarde, na cidade do México, descobriu que havia farta literatura sobre o personagem e ficou possuído pelo desejo de contar sua história - em espanhol.
Sean Penn e seus colegas de júri (as atrizes Jeanne Balibar e Natalie Portman, o ator Sergio Castelito, os diretores Marjani Satrapi, Alfonso Cuarón e Apichatpong Weerasethakul) saíram-se bem naquela que poderia ser a melhor cilada para todos. Mesmo meio decepcionante, havia a expectativa pelo prêmio que Clint Eastwood iria ganhar com The Exchange. Um mito como o xerife Clint não poderia ser ignorado pelo júri, que lhe atribuiu um prêmio especial, dividido com Catherine Deneuve, a matriarca que está morrendo de câncer em Conte de Nöel, de Arnaud Desplechin. O que Nuri Bilge Ceylan faz pelo melodrama criminal, Desplechin faz pelo melodrama de fundo mais romântico - e ambos, como Salles e Daniela, colocam em discussão a família, como célula-base da organização social.
O prêmio para Sandra Corveloni foi o segundo da noite, seguindo-se ao de roteiro, atribuído aos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, por Le Silence de Lorna. No geral, foi uma premiação consensual, com uma Palma de Ouro honrosa - para Entre les Murs, de Laurent Cantet -, mas o júri esqueceu-se de alguns dos mais belos filmes desta 61ª edição. O repórter do Estado conseguiu apurar que havia um movimento entre os jurados da crítica para premiar Two Lovers, de James Gray, mas ele foi reprovado pelo presidente daquele júri. Embora perdedor, Two Lovers permanece na lembrança como um dos mais belos filmes de Cannes, em 2008, ao lado do drama Cingapura My Magic, dirigido por Eric Khoo, cujo ator, Francis Bosco, por justiça e por direito, teria de ser o melhor, se Sean Penn e seus amigos não tivessem decidido que era preciso atribuir um prêmio importante para Che.
Os Premiados
PALMA DE OURO - Entre Les Murs, de Laurent Cantet (FRA) GRANDE PRÊMIO - Gomorra, de Matteo Garrone (ITA) PRÊMIO DO JURI - Il Divo, de Paolo Sorrentino (ITA) MELHOR DIRETOR - Nuri Bilge Ceylan, por Three Monkeys (TUR) MELHOR ATOR - Benicio del Toro (foto), por Che (EUA) MELHOR ATRIZ - Sandra Corveloni, por Linha de Passe (BRA) MELHOR ROTEIRO - Jean-Pierre e Luc Dardenne, por Le Silence de Lorna (ITA) CAMARA D'OR (DIRETOR ESTREANTE) - Hunger, de Steve McQueen (ING) MELHOR CURTA-METRAGEM - Megatrón, de Marian Crisan (ROM) PRÊMIO ESPECIAL PELO 61º ANIVERSÁRIO DO FESTIVAL - Catherine Denueve PRÊMIO REGARD NEUF - O Muro, curta de Tião (BRA) | | | |
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