Uma temerária combinação entre altas doses de álcool, drogas e comportamento sexual desregrado tem levado a taxas alarmantes de doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens italianos e de outros oito países europeus. Tal realidade, pouco conhecida, foi exposta por um estudo realizado pela BioMed Central, que submeteu 1.341 jovens entre 16 e 35 anos a um questionário destinado a reunir dados demográficos, comportamentais e sociais acerca do histórico do uso de drogas e relacionamentos sexuais. Na Itália, a pesquisa foi realizada com jovens venezianos.
"Milhões de jovens europeus hoje tomam drogas e bebem de uma maneira que altera suas decisões sexuais e aumenta suas chances de manter relações sem proteção ou de se arrepender sobre relações", diz o coordenador do estudo, Mark Bellis, diretor do Centro de Saúde Pública da John Moore's University, em Liverpool. "Mas apesar das conseqüências negativas, verificamos que muitos estão deliberadamente tomando essas substâncias para alcançar efeitos sexuais bem específicos", afirma ele.
Entre as conclusões, o estudo classificou o uso recreacional de drogas como uma “epidemia” que expõe milhões de jovens europeus ao “consumo rotineiro de substâncias que alteram suas decisões sexuais e aumentam as ocorrências de sexo sem proteção e de arrependimento pós-relação.” Para muitos dos entrevistados, o uso de entorpecentes se tornou uma parte integral de sua estratégia de aproximação para o sexo, estabelecendo, assim, perigosos vínculos psicológicas e físicos e levando ao uso continuado de substâncias lícitas e ilícitas.
Os italianos têm a sua primeira relação sexual, em média, aos 16 anos. Evento que tende a ocorrer mais cedo quando ligado à utilização de substâncias específicas, cada uma relacionada a fins sexuais determinados. Por exemplo, 28.6% dos usuários europeus de álcool reconheceram sua utilidade como facilitador de encontros sexuais; enquanto 26.2% dos que usam cocaína fazem-no para prolongar a relação sexual.
A associação entre o sexo e as diferentes substâncias tem início cedo. O uso de álcool, maconha, cocaína e ecstasy antes dos 16 anos é quase sempre relacionado ao sexo. No entanto, há diferença entre os gêneros. Frente aos garotos, a utilização de drogas antes dos 16 anos por meninas está ligada a um maior aumento nas freqüências de relações sexuais. Em relação ao álcool, 36% dos jovens italianos haviam consumido e mantido relações sexuais antes dos 16 anos, comparados com quase metade dos entrevistados em Viena, na Áustria, 37% em Palma, na Espanha, e 30% em Liverpool, no Reino Unido.
Em Veneza, 23.7% dos jovens já consumiram ecstasy, 38% Cocaína, 77.7% maconha e 95.7% já ingeriram bebidas alcoólicas. Outros dados revelam que usuários de cocaína têm cinco vezes mais chance de terem se envolvido sexualmente com cinco ou mais parceiros nos últimos 12 meses, enquanto o uso de drogas em geral está intimamente ligado ao relacionamento com múltiplos parceiros.
Outra conclusão alarmante é a perene associação entre a embriaguez e o uso de entorpecentes com um aumento no comportamento de risco e no sentimento de arrependimento após o sexo. Aqueles que disseram ter ficado bêbados nas quatro semanas anteriores à pesquisa tinham mais chances de ter tido relações sexuais sem preservativos e de ter se arrependido de uma relação nos últimos 12 meses.
Ainda segundo Bellis, o estudo demonstra que as estratégias para incentivar o sexo seguro e reduzir o abuso de álcool e drogas têm de ser repensadas, sem perder de vista a sólida vinculação entre ambos os comportamentos.
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Oriundi)