Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Roma elege um prefeito com raízes fascistas
Repleta de referências históricas na arquitetura, a cidade de Roma terá em sua administração um forte vínculo com uma faceta controversa do passado. Gianni Alemanno, um político com raízes no neofascismo, acaba de ser eleito prefeito da capital italiana. Como candidato da aliança Povo da Liberdade, liderada pelo primeiro-ministro eleito Silvio Berlusconi, Alemanno surpreendeu na semana passada ao derrotar Francesco Rutelli, do Partido Democrata, de centro-esquerda, que já foi duas vezes prefeito de Roma.
Não surpreendeu, porém, pelo discurso, coerente com o tom adotado durante a campanha. “Nosso objetivo agora é expulsar todos os que tenham cometido crimes”, anunciou ele, referindo-se aos 20 mil imigrantes que, segundo seus cálculos, se encontram nessa situação – parte deles ciganos. “Começaremos a desmantelar os acampamentos nômades ilegais, que são 85 em Roma.” Alemanno se beneficiou da onda pró- Berlusconi que começou a tomar conta do país desde que o magnata da imprensa venceu a esquerda em eleições realizadas duas semanas antes.
Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os comunistas ficaram fora do Senado e da Câmara. A guinada para a direita foi reforçada na terça-feira 29 pela escolha de Renato Shifani, outro aliado de Berlusconi, para a presidência do Senado.
20 mil estrangeiros radicados em Roma devem ser expulsos, segundo Gianni Alemanno, por estarem envolvidos em algum tipo de crime
À frente da Prefeitura de Roma, Alemanno rompe com a alternância de poder na administração municipal, que desde 1945 se dava entre a Democracia Cristã e a esquerda. Ele chega com a marca do passado neofascista, que incluiu oito meses de prisão por atacar com coquetel Molotov a antiga embaixada soviética em Roma, em 1982.
Na campanha, causou polêmica até pela cruz que costuma usar no pescoço. “A cruz celta que levo é um símbolo religioso”, esclareceu, já que alguns partidos de extrema-direita usam a mesma cruz como símbolo. No momento da eleição, uma coincidência. Aconteceu em 28 de abril, mesma data em que, 63 anos antes, o ditador Benito Mussolini foi fuzilado por partigiani (combatentes antifascistas) que o surpreenderam tentando escapar da Itália com a amante, Clara Petacci.
Levados para a Piazzale Loreto, em Milão, seus corpos ficaram pendurados de ponta-cabeça num posto de gasolina, expostos à execração pública. Reflexo da violência de uma era, a cena encerrou um regime baseado na exaltação ao nacionalismo, que encontrara terreno fértil na Itália a partir de 1919, quando o país enfrentava grave crise econômica, política e social. Apelando à violência de esquadrões conhecidos como “camisas negras”, Mussolini defendia um Estado totalitário e buscava restaurar a glória dos tempos do Império Romano.
Seu regime perseguiu comunistas, socialistas, liberais e, por fim, devido à influência do nazismo, os judeus. Um período de intolerância que Alemanno jura (jura?) estar cada vez mais distante.
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Franco Frattini pretende endurecer com os estrangeiros. Foto: Divulgação
Tempos mais rigorosos para os estrangeiros que têm como destino a Itália estão por vir. Ao menos é o que fica evidente nas mais recentes declarações de Franco Frattini, que deverá ser o novo ministro do Exterior do governo Silvio Berlusconi. Em entrevista ao Il Giornale, esta semana, o atual vice-presidente da Comissão Européia acenou com a possibilidade de expulsar os estrangeiros que não disponham de um mínimo de dinheiro, que lhes permita sobreviver.
A referência seria o parâmetro de renda mensal que estabelece, na Itália, quem é pobre, ou seja, 970 euros para duas famílias. Segundo Frattini, abaixo dessa faixa, a pessoa não poderá ficar mais do que 90 dias no país e será enviada de volta ao país de origem.
O mote principal da entrevista, realizada pela jornalista Enza Cusmai, foi a escalada de violência perpetrada no país por delinqüentes oriundos da Romênia. Na opinião de Frattini, para expulsar quem se envolveu em alguma ilegalidade, bastaria aplicar a diretiva da União Européia que trata do assunto, o que não vem sendo feito na Itália.
Frattini observou ainda que o decreto de Segurança, adotado pelo governo Prodi após uma italiana ter sido morta por um romeno, não foi aplicado como deveria. Ele defende que quem cometer delitos classificados como odiosos deve ser preso, ter o seu processo analisado rapidamente, e ser expulso em seguida, para cumprir pena em seu país de origem. Afinal, lembra, ao menos um terço dos presos na Itália são estrangeiros.
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Oriundi)