O velho com cirurgia plástica facial está de volta. Mas o que Silvio Berlusconi planejou para esta terceira ocasião em que ocupa o cargo de primeiro-ministro? Uma coisa é certa: o partido Liga Norte, antiimigração, irá se mostrar propenso a exercitar o poder recém-conquistado
Alexander Smoltczyk Em Roma
Quando Silvio Berlusconi fez o seu discurso de posse aos líderes europeus em 2001, em uma reunião de cúpula da União Européia na cidade belga de Laeken, o então chanceler alemão Gerhard Schröder removeu os seus fones de ouvido após ouvir as primeiras sentenças do premiê italiano. Ele calculou que ou o intérprete era incompetente, ou estava bêbado.
Mas não havia problema com a tradução. O homem realmente falava daquela maneira. Era como se Berlusconi ainda estivesse em clima de campanha, fazendo um discurso de palanque em alguma piazza italiana. O orador chegou até a provocar um sorriso no então presidente francês Jacques Chirac.
Desde aquela ocasião, Il Cavaliere - como Berlusconi é conhecido - nunca conseguiu se livrar do estigma, entre os seus congêneres europeus, de ser um líder que não se deve levar a sério. O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair foi o único que realmente deu bola para Berlusconi: Blair visitou Berlusconi na Sardenha, e os dois líderes mostraram-se unidos no apoio à Guerra do Iraque.
Mas, desta vez, as coisas serão diferentes. Após a vitória eleitoral de Berlusconi na semana passada, a chanceler alemã Angela Merkel imediatamente convidou o primeiro-ministro eleito da Itália para uma visita a Berlim, a fim de enviar ao premiê um sinal claro de que desta vez ele está sendo levado a sério. A idéia de Merkel é obter mudança por meio do compromisso e do envolvimento - pelo menos para prevenir o desenvolvimento de uma aliança entre os dois baixinhos de ego gigantesco que estão no poder em Paris e em Roma.
Aliás, Berlusconi não é mais apenas um desastre que pode ser simplesmente ignorado. Após a sua vitória eleitoral, o primeiro-ministro italiano de 71 anos de idade tornou-se finalmente o "emblema de uma era" para a Itália, conforme anunciou o jornal liberal de esquerda "La Repubblica". A Europa terá que aturar Berlusconi durante pelo menos mais alguns anos.
A coalizão de centro-direita de Berlusconi obteve 46,8% dos votos para a Câmara dos Deputados do parlamento italiano e cerca de 9% a mais do que o Partido Democrático, de centro-esquerda, de Walter Veltroni, em ambas as casas parlamentares. Como resultado do novo limite mínimo de 4% dos votos na Itália, a aliança "Arco-Íris" de esquerdistas e verdes desapareceu completamente do parlamento, da mesma forma que a extrema-direita de políticos nostálgicos pela era de Mussolini. A nova regra significa que em vez de 36 partidos no parlamento, como havia no passado, agora há apenas seis. Pier Ferdinando Casini, do partido de centro UDC, descreve a nova constelação partidária como uma espécie de "sistema alemão".
Agora o fenômeno Berlusconi traz alguma similaridade com o gaullismo francês ou o peronismo argentino: um líder carismático que é odiado de forma tão intensa quando é adorado, e que possui a habilidade de identificar o humor popular e de agir de acordo com este fator. Dependendo da situação deste mercado eleitoral, ele pode ser um rebelde ou um conservador, um liberal ou um autoritário. Ele é um camaleão das convicções, com uma capacidade infalível de farejar as oportunidades do momento.
Os jornais declararam que a vitória de Berlusconi foi acachapante, e os resultados foram de fato aceitos com o mesmo fatalismo com que uma pessoa conforma-se com um terremoto. Na noite das eleições, só os turistas podiam ser vistos nas ruas de Roma, e as praças estavam vazias. Até mesmo em frente às sedes dos partidos era difícil ver alguém. Não houve carreatas com buzinas barulhentas, e tampouco comemorações desafiadoras entre os perdedores. Parecia que a Itália tinha aceitado que o seu destino é o eterno retorno do velho com cirurgia plástica facial.
Após as suas vitórias de 1994 e 2001, Berlusconi viu-se ocupado, tendo que lidar com as suas companhias e os processos movidos contra a sua pessoa. Mas agora estas preocupações não existem. Os seus negócios vão de vento em popa. Os antigos julgamentos de Berlusconi por corrupção, fraude e uso de propinas para compra de testemunhas foram cancelados porque o estatuto de limitações expirou, ou então foram simplesmente abandonados. Quanto aos seus julgamentos em andamento, os seus advogados os mantêm sob controle.
Sob este aspecto, os seus oponentes podem pelo menos nutrir esperanças de que desta vez Berlusconi esteja falando sério sobre reformas estruturais. "Ninguém pode escapar desta situação com desculpas esfarrapadas", disse o presidente Carlo Azeglio Ciampi, ao fazer um comentário sobre a clareza da atual conjuntura.
"Haverá momentos difíceis", declarou Berlusconi na sua primeira entrevista coletiva à imprensa, na qual ele anunciou até "medidas impopulares" e "sacrifícios e cortes dos privilégios e gastos da administração pública". Esta abordagem é tão populista quanto arriscada. Em nenhuma outra área os sindicatos italianos são tão poderosos quanto no setor público.
Os preços das ações das companhias de cimento e construção subiram acentuadamente depois que Berlusconi prometeu que uma ponte proposta para a Sicília seria construída rapidamente. Ele prometeu ainda que não serão poupados esforços no sentido de se encontrar uma solução para os problemas da empresa aérea deficitária Alitalia "dentro de um mês". A Air France e a KLM retiraram a sua oferta de compra no início de abril, depois que Berlusconi e os sindicatos criticaram a proposta de liquidação da companhia aérea nacional.
Showgirls e xenófobos Na primeira reunião de gabinete do novo governo Berlusconi, talvez na semana que vem, os impostos sob propriedade para aqueles que compraram imóvel pela primeira vez provavelmente serão abolidos. Isso será uma medida popular em um país de proprietários de imóveis, e os únicos perdedores serão as prefeituras. No entanto, a proposta eleitoral de última hora feita por Berlusconi no sentido de abolir os impostos sobre automóveis e motonetas não está mais sendo cogitada. O vencedor da eleição também parece ter perdido o interesse na sua promessa de reformar a confusa lei eleitoral italiana. "Afinal de contas, ela funcionou bem", disse Berlusconi, explicando que só é necessária uma pequena correção no Senado.
A aliança de Berlusconi, a Liberdade Popular, na verdade perdeu votos em relação à eleição de 2006. Desta vez ele deve a sua vitória claramente à Liga Norte, que captou mais de um milhão de votos novos para garantir-lhe uma maioria.
A Liga Norte, um partido regional liderado pelo agitador político Umberto Bossi, beneficiou-se da insatisfação generalizada com a elite política. Pela primeira vez, entre os seus eleitores havia tanto operários da Fiat quanto proprietários das pequenas e médias empresas que margeiam a auto-estrada que liga Milão a Verona.
Seria um erro tratar a Liga Norte como apenas um grupo direitista xenófobo. O partido tem maior semelhança com o conservador partido alemão da Baviera, União Social Cristã (CSU), do que com a ultra-direitista Frente Nacional francesa. É uma força ancorada na sua região, e o partido agora é suficientemente forte para obrigar Berlusconi a federalizar as instituições financeiras italianas.
O partido democrata-cristão UDC, de Casini, não conseguiu ser o mais importante na eleição, e, em vez disso, está agora entrando para as fileiras da oposição. Isto também foi uma revolução - pela primeira vez o clero italiano não será capaz de influenciar diretamente o governo secular.
Ao que parece, o centro político da Itália deslocou-se para o norte.
Equipe Berlusconi Detalhes sobre a composição do novo gabinete de Berlusconi emergiram nos últimos dias. Ao contrário do que sugeriam comentários anteriores, o novo governo não será mais enxuto e não terá mais mulheres do que o seu predecessor. Dos 18 cargos de gabinete, apenas dois têm a possibilidade de serem ocupados por mulheres.
O ex-jornalista Gianni Letta, que é a mão direita de Berlusconi, lidará com as questões políticas cotidianas como vice-primeiro-ministro. Franco Frattini, o atual vice-presidente da Comissão Européia, será ministro das Relações Exteriores, um posto que já ocupou anteriormente, de 2002 a 2004. Giulio Tremonti também retornará a uma posição que já ocupou, a de ministro das Finanças. Raffaele Lombardo será o homem de Berlusconi na Sicília, onde assumirá o cargo de presidente regional.
O conservador partido Aliança Nacional provavelmente controlará os ministérios da Justiça e da Defesa. O líder do partido, Gianfranco Fini, escolheu para si o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, e também foi encarregado de transformar a vaga aliança Povo da Liberdade em um partido tradicional.
Mara Carfagna, uma ex-showgirl, está sendo cogitada para o cargo de ministra da Solidariedade Social e/ou Assuntos da Família. A advogada de 32 anos atualmente dirige a liga feminina no partido de Berlusconi.
Porém, na segunda-feira (21/04), Berlusconi afirmou que a lista do seu gabinete ainda não está completa, e advertiu que está guardando algumas surpresas. Enquanto isso, a Liga Norte anunciou em comentários publicados na segunda-feira que os seus cargos no gabinete incluiriam o de ministro do Interior, ministro das Reformas e ministro da Agricultura. Bossi disse que o cargo de vice-primeiro-ministro iria para o polêmico membro da liga Roberto Calderoli, que no passado ultrajou os muçulmanos com comentários e atos antiislâmicos, como, por exemplo, o fato de ter usado uma camiseta com as caricaturas dinamarquesas de Maomé. Acredita-se que o próprio Bossi será o ministro das Reformas, apesar da sua saúde combalida. Ele ainda está se recuperando de um grave derrame que sofreu quatro anos atrás.
O candidato de centro-esquerda, Walter Veltroni, escapou por pouco de uma derrota esmagadora com o seu recém-criado Partido Democrático. Ele sofreria pressões para renunciar caso o seu partido obtivesse menos de 33% dos votos. O partido acabou ficando com 33,17% dos votos para a Câmara dos Deputados e 33,69% para o Senado.
Como o aparente herdeiro da era Prodi, Veltroni não conseguiu penetrar no cerne da classe média, tendo atraído apenas eleitores da esquerda radical. Como resultado, Veltroni, que é ex-comunista, garantiu que, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, não há mais facções comunistas no parlamento italiano.
Os resultados são até perturbadores para os anticomunistas. Os sindicatos perderam importantes parceiros no parlamento, e não se sabe como é que o ressentimento social e a insatisfação econômica irão se expressar dentro da nova constelação política. Já existem temores de que surjam movimentos não parlamentares e greves ilegais. O ex-presidente Francesco Cossiga chegou a falar sobre a possibilidade de que ocorra uma nova onda de terrorismo de esquerda, no estilo dos anos 1970.
O fato é que estes são tempos excitantes na Itália.
Tradução: UOL
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UOL Mídia Global/Der Spiegel)
Paixão de Berlusconi entra no governoF. J. Gonçalves com agência Apesar das críticas que fez às nomeações de nove mulheres para o governo espanhol, o recém-reeleito primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, vai colocar quatro ministras no executivo. Uma delas será nada mais nada menos do que Mara Carfagno, ex-miss, modelo e apresentadora de TV, que Berlusconi cortejou publicamente, para grande fúria da mulher. Ao que se sabe o líder de governo pretende entregar à escultural deputada conservadora o Ministério da Família. A escolha tem o seu quê de irónico,especialmente após as críticas a José Rodríguez Zapatero. É que Mara, convertida à política pela mão de Berlusconi e eleita para o Parlamento em 2006 pelo Forza Italia, continua a ser mais conhecida pelos dotes físicos do que pelas capacidades de chefia. Recorde-se que o assédio público a Mara levou Verónica Lario, mulher de Berlusconi, a exigir (e conseguir) desculpas tão públicas quanto o assédio. Berlusconi, durante uma entrevista na TV, disse à modelo: "Se não estivesse casado, casava contigo agora mesmo." Além do da Família, especula-se que os outros ministérios ‘femininos’ sejam os da Justiça (Giulia Bongiorno), da Igualdade de Oportunidades (Stefania Prestigiacomo) e da Agricultura (Adriana Poli Bortone). Outros nomes dados como muito prováveis para o governo são: Umberto Bossi – líder da Liga do Norte, parceiro de coligação do Forza Italia, que deverá ser um dos dois vice-primeiros-ministros – e Franco Frattini, a quem caberá os Negócios Estrangeiros.
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Correio da Manhã-Portugal) Fabio Porta: Brasil terá representante na Câmara dos Deputados italiana Fabio Porta será o primeiro deputado, residente no Brasil, na Câmara dos Deputados, representando os italianos no exterior. Foto: Divulgação O sociólogo Fabio Porta, coordenador da Unione Italiani nel Mondo – Sudamerica, é o representante dos ítalo-brasileiros na Câmara dos Deputados na Itália. Eleito pelo Partido Democrático (PD), na circunscrição exterior, América do Sul, ele foi o único candidato residente no Brasil a ser eleito nas eleições Parlamentares italianas, cuja apuração foi encerrada na última quarta-feira (16). A defesa de uma Itália mais atenta aos milhares de italianos residentes no Brasil, a necessidade de melhorias na rede consular da América do Sul e a denúncia da insustentável situação das filas para a cidadania, enfrentadas pelos ítalo-descendentes, nortearam a campanha de Fabio Porta, que também propõe que o tema emigração receba maior atenção nos bancos das escolas italianas. Saiba mais sobre Fabio Porta Natural de Caltagirone (Italia), Fabio Porta, 44 anos, é casado, tem duas filhas e reside na cidade de São Paulo. Ele é formado em Sociologia Econômica na Universidade de Roma - La Sapienza, com especialização em Educação de adultos, cursada na Universidade de Firenze. Em 1986, passou a se dedicar à formação e ao desenvolvimento de projetos voltados à cooperação internacional de assistência social, entre a Itália e países da América Latina, no âmbito da UIL – Unione Italiana del Lavoro. Fabio Porta vive no Brasil desde 1998, quando assumiu a coordenação geral da UIL, assumindo a responsabilidade pela direção de todas as entidades mantidas no Brasil: Patronato ITAL , com filiais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro; UIM (União dos Italianos no Mundo), o CAAF (Centro de Assistência Fiscal) e a organização não governamental “Progetto Sud”, voltada à geração de trabalho, emprego e renda. Neste mesmo ano, foi um dos fundadores do Centro Ponte Brasilitalia que presta assistência a 150 famílias de uma favela da periferia oeste da cidade de São Paulo. Em 1999, foi nomeado Conselheiro Técnico da Câmara Italiana de Comércio e Indústria. Desde 2005, é vice-presidente do Comites de São Paulo. Informações e contato e-mail fabioporta@fabioporta.com
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Oriundi) |