Amigo próximo de Luciano Pavarotti, o pianista de maestro Leone Magiera, revela no livro "Pavarotti Visto da Vicino" (algo como "Pavarotti visto de perto") que a última performance do tenor italiano antes de morrer - em setembro do ano passado - na verdade foi dublada. As informações são do jornal "The Guardian".
Em fevereiro de 2006 durante a abertura dos Jogos de Inverno de Turim, Pavarotti, que tratava de um câncer no pâncreas, subiu ao palco para apresentar a ária Nessun Dorma. Segundo Magiera, o cantor de ópera estava inseguro sobre sua capacidade e teria decidido dublar a performance, forjando uma apresentação ao vivo que foi transmitida pela televisão para milhões de espectadores.
"A grande carreira de Pavarotti terminou com uma performance virtual, algo triste, mas inevitável", diz Leone Magiera, pianista e maestro que trabalhou com o astro por muitos anos, que revela o truque no livro. "Seria perigoso demais para ele, por causa de sua condição física, arriscar fazer uma apresentação ao vivo diante de espectadores do mundo todo".
Magiera conta que o truque levou dias para ser desenvolvido. "Primeiro eu gravei várias versões da orquestra tocando a ária, então levei as fitas para o pequeno estúdio na casa de Pavarotti em Módena. Ele escolheu a melhor versão antes de acompanhá-la cantando, enquanto gravávamos".
No livro, Magiera diz: "Ele encontrou forças para repetir até que ficasse completamente satisfeito. Então ele desabou em sua cadeira de rodas e fechou os olhos, exausto".
Menos de uma semana depois, antes da cerimônia de abertura das Olimpíadas, Pavarotti foi filmado no palco dublando a gravação, enquanto a orquestra fingia tocar atrás dele. Na grande noite, o vídeo foi apresentado pela televisão.
"A orquestra fingiu que tocava para a platéia, eu fingi conduzir e Luciano fingiu cantar. O efeito foi maravilhoso", Magiera escreve no livro.
O efeito foi bom o suficiente para que um fã escrevesse no site YouTube depois de assistir ao vídeo: "Saber quando cortar esssa nota final para encaixar em uma gravação seria quase impossível... É ao vivo, é ele".
Olhando para trás, Magiera diz preferir se lembrar de outra performance de Pavarotti, nos anos 90, quando ele cantou no Teatro Amazonas vazio. Construído em 1896 por barões da borracha, o opulento teatro foi retratado no filme "Fitzcarraldo".
"Ele estava determinado a cantar nessa antiga casa de ópera em Manaus, onde ele estava convencido de que Caruso havia se apresentado. Nós fomos para lá de barco, conseguimos um piano, mas encontramos o teatro fechado. Mesmo assim, entramos e ele cantou duas árias de "Tosca", "E lucevan le stelle" e "Recondita armonia" para um público de cerca de cinco pessoas".
(©
O Globo) |