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Favela carioca é destaque na Bienal de Arte de Veneza

Reuters

Ranieri e Nelcirlan reproduziram uma favela carioca
 

Trabalho de 300 m2 reproduz morro do Rio em escala 20 vezes menor

Reuters

VENEZA - Veneza, a cidade rodeada por canais, é conhecida por muitos atributos, mas agora será conhecida também por sua representação de uma favela brasileira na Bienal de Arte de Veneza.

A exposição, aberta neste domingo ao público, inclui pontos de tráfico de drogas, policiais, um hospital e até um campo de futebol, embora seja pelo menos 20 vezes menor que uma favela de verdade.

O denominado "Projeto Morrinho", criado por moradores de uma favela de verdade do Rio de Janeiro, está entre os mais comentados na Bienal de Artes de Veneza, considerada como o prêmio Oscar de cinema para as artes visuais.

Aqueles que estão por trás do projeto brasileiro se sentem constrangidos quando são chamados de "artistas". Para eles, tudo começou como uma brincadeira, na qual eles construíam sua própria versão de casas através da vida que eles observavam ao seu redor.

"Nunca pensei que fosse arte. Nós só estávamos brincando", disse Maycon Souza de Oliveira, que iniciou o projeto com o seu irmão mais velho há quase uma década, quando tinha sete anos. "Agora estou convencido", acrescentou Oliveira.

Seu modelo de favela no Rio de Janeiro tem 300 metros quadrados. Para fazer uma versão menor em Veneza, eles trouxeram do Brasil mais de 5 mil tijolos e usaram 120 metros cúbicos de areia. Eles levaram três semanas para construir a favela.

Durante os últimos dias, a elite artística internacional chegou à Veneza para uma visita às apresentações da bienal, e teve a oportunidade de conhecer a rotina de uma favela.

Artistas e críticos se maravilharam diante das ladeiras e casas coloridas, e tiraram fotos com os autores da obra.

"Acredito que as favelas são uma parte importante do Brasil. Mas é uma parte escondida. Você não pode entrar lá", afirmou Silke Eberspacher, uma visitante alemã que esteve presente na pré+inauguração do bienal.

Ela já visitou o Brasil quatro ou cinco vezes, mas como a maioria dos turistas, nunca colocou os pés em uma favela.

(© Agência Estado)


Cinco brasileiros participam da Exposição Internacional de Arte de Veneza

 

 
Trabalhos do artista cearense Leonilson, morto em 1993, estarão expostos em Veneza. Foto: Divulgação

A Exposição Internacional de Arte de Veneza, que acontece de 10 de junho a 21 de novembro, contará com a apresentação de trabalhos de cinco representantes brasileiros, dois argentinos, dois colombianos e um nicaragüense. Intitulada Pensa com i sensi – Senti com la mente. L’ art al presente, a mostra, uma das mais importantes do mundo, contará com uma centena de expositores de 77 países, número recorde. 

Eliane Tedesco, de Porto Alegre; Iran Do Espirito Santo, de São Paulo; Waltercio Caldas, do Rio de Janeiro; o Morrinho Group, também do Rio de Janeiro, além de trabalhos de Leonilson, artista de Fortaleza já falecido, são os nomes brasileiros da mostra.

Leòn Ferrari e Guillermo Kuitca, de Buenos Aires, representam a Argentina, enquanto Rosario Lopez e Oscar Muñoz representam a Colômbia juntamenteJosé Alejandro Restrepo que, embora tenha nascido na França, vive naquele país atualmente.

Nata a Bogotà, Colombia, 1970. Vive e lavora a Bogotà, Colombia. Já Ernesto Salmeron, da Nicarágua, completa o time de latino-americanos presentes em Veneza.

Guaritas

A porto-alegrense Eliane Tedesco participará da mostra com o trabalho Guaritas, imagens desses pequenos cúbicos destinados a seguranças. Leia trechos de um depoimento da autora sobre o seu trabalho:


 
As guaritas de Eliane Tedesco, de Porto Alegre, também estarão presentes no grande evento da arte internacional. Foto: Divulgação

Há alguns anos atrás, em minhas caminhadas por Porto Alegre, passei a colecionar imagens de guaritas para seguranças espalhadas pela cidade. Essas construções mínimas permitem o abrigo de um ou dois adultos em pé ou sentados, a caracterização de espaço para trabalho fica evidenciada pela configuração vertical e estreita, que não comporta um adulto deitado. Vejo-as como casas nas quais não é possível dormir, ou seriam caixas que demarcam territórios?

Detenho meu olhar nas singularidades impressas nas guaritas pelo uso e pelo tempo. As marcas do uso, do cuidado, ou do desleixo ali depositados são a matéria que quero destacar. De alguma forma, as guaritas são demarcações que dizem respeito a uma certa coletividade, para mantê-las é preciso uma organização no quarteirão onde estão situadas. Um grupo de moradores as mantêm, assim como aos vigias que as habitam, dessa forma, talvez possam ser vistas como vestígios das preocupações territoriais com a segurança coletiva e/ou com o abrigo do segurança.

O meu processo de observação e registro fotográfico das guaritas urbanas de Porto Alegre iniciou-se como um documento de trabalho para as instalações que criei entre 98 – 2001, nomeadas Cabines para Isolamento e, desde então, venho desenvolvendo essa coleta de imagens. O registro fotográfico é apenas uma etapa. Fazem parte do processo as centenas de deslocamentos pela cidade, nos quais registro mentalmente o encontro com uma guarita que me interesse, certamente passo por ela, ao acaso, dezenas de vezes antes de fotografá-la. Depois, continuo a observar suas mudanças e, em alguns casos, o seu desaparecimento.

As guaritas poderão ser uma espécie de índice dos territórios que demarcam? Nelas também está impresso o ritmo de mudanças da cidade?

(© Oriundi)

Saiba+ sobre a Bienal de Veneza
 

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