Diversas cidades italianas estão se mobilizando para
conhecer e valorizar a arte desenvolvida nos cemitérios, durante a manifestação
"A Descoberta dos Cemitérios Históricos Europeus", que ocorrerá a partir do
próximo dia três. Na verdade, eventos relacionados já estão programados para
acontecer antes das datas oficiais, como a mostra Arte e Amore, dedicada ao tema
da memória, da morte e da esperança, que será inaugurada nesta terça-feira,
junto ao cemitério Porte Sante, em Firenze.
Já em Bolonha acontecerá, a partir do dia três, o encontro 'I cimiteri
europei: straordinari beni culturali da restaurare e fare conoscere', cuja
programação prevê uma visita guiada no cemitério Monumentale Del Verano,
considerado um verdadeiro museu a céu aberto pelas obras de arte que ornamentam
os túmulos.
Em Roma, no dia cinco, acontecerá a jornada de estudos “Luoghi della
memoria: un patrimonio culturale da scoprire. Esperienze italiane di
catalogazione a confronto”. Será a primeira troca de experiências entre as
cidades empenhadas nas obras de catalogação dessas obras, definidas como arte
cemiterial.
Arte tumulária
Apesar da aparência muitas vezes triste, os cemitérios, principalmente os
mais antigos, podem guardar ricas surpresas para quem se dispõe a procurar.
Alguns constituem verdadeiras galerias de arte a céu aberto sendo até mesmo
possível encontrarmos peças e esculturas de artistas famosos. Em outros países
alguns cemitérios são até mesmo pontos turísticos que atraem viajantes do mundo
inteiro
Eles são concorridos pontos turísticos por terem, entre seus “moradores
eternos”, figuras famosas que fizeram história nas artes ou na política. Mas,
com certeza, a beleza da arte tumulária presente nestes cemitérios contribuiu, e
muito, para a sua fama.
No Brasil, também encontramos exemplo magníficos de arte tumulária,
principlamente nos cemitérios de São Paulo, como Consolação, Araçá, Paulista e
Morumbi. Também existem importantes acervos no Rio de Janeiro, na Bahia e em
Pernambuco.
Entretanto, ao contrario do que ocorre em outros países, são poucos os que
percorrem os cemitérios brasileiros para visitação de túmulos ilustres (com
exceção do dia de finados) ou que saibam apreciar as obras de arte que estes
cemitérios muitas vezes escondem.
Muitos dos jazigos presentes nestes cemitérios foram feitos por artistas
europeus e com materiais muitas vezes importados, tudo com o objetivo de
enaltecer o nome das famílias abastadas. Em cemitérios, como o da Consolação em
São Paulo, é possível encontrar obras de artistas consagrados como Brecheret e
Luigi Brizzolara, ao lado de outros não tão conhecidos, como Eugênio Pratti e
Armando Zago. Muitos artistas italianos de renome deixaram um enorme acervo de
peças espalhadas pelos cemitérios brasileiros, principalmente em São Paulo, e
muitas destas peças só agora estão sendo identificadas.
Para se ter uma idéia, somente no cemitério do Araçá existem cerca de 80
peças catalogadas, de notório valor artístico.
Cada vez mais, especialmente na Europa, os cemitérios são descobertos
como espaços de arte. Foto: Comune Roma
O caráter individualizador do nome da família é uma das preocupações do
imigrante europeu no Brasil, a partir da segunda metade do século XIX. Os
cemitérios de Vila-Verde, Municipal de Curitiba, do Araçá e do Braz de São Paulo
formam conjuntos de capelas e jazigos familiares, recriando aquela atmosfera
doméstica dos bairros tradicionais dos imigrantes.
A comunidade representa-se, então, no todo, do divisionismo e nos hábitos das
famílias usuárias, que tratam de suas capelas como se fossem prolongamentos de
suas próprias casas, levando para os jazigos os mesmos arranjos decorativos que
o seu nível cultural lhes permite refletir.
A preocupação do colono europeu na área de enriquecimento imediato era
individualizar seu nome, através da exibição de sinais de abastança. O caráter
monumental da “última morada” era, para muitos, fruto de uma ansiedade de se
auto-afirmar socialmente.
No estudo dos cemitérios brasileiros, os estilos se sucedem como nas
necrópoles européias, porém, com datas defasadas e submetidos às razões da
disponibilidade dos materiais locais.
Há uma certa diferença entre os objetos produzidos no percurso da belle
époque e os que surgiram logo após, de um estilo diferenciado, denominado art
noveau. Nas principais metrópoles européias o início da art noveau tem data
certa em 1890. O seu surgimento elege a máquina como instrumento de
pluralização, de produção artística, capacitada para atender o consumo da
decoração doméstica, trajes, e objetos de uso cotidiano até o nível da pequena
burguesia urbana.
Os meios de lavor artístico adquirem soluções mecânicas, com instrumental
elétrico de muito maior rentabilidade de tempo e produção. Brocas, serras e
polidores elétricos, novos métodos de fundição e metalurgia possibilitam a
reprodução de protótipos de objetos de criação artística, ao nível industrial.
Em relação à arte cemiterial, tais possibilidades determinam, em todos os
centros urbanos de expressão e riqueza, novas e reconhecíveis características.
Até então, as construções cemiteriais se valiam do trabalho artesanal e da
eventualidade artística.
Com o trabalho industrial mecanizado, as fundições passaram a fornecer gradis
e portões, cercaduras de ornatos, frisos, cruzes e alegorias pré-moldadas, vigas
metálicas, colunatas de estruturas , etc. A estatuária não era mais trabalho do
escultor, neste caso entendido como o artista criador do objeto modelado.
Estatuário na linguagem do século passado, corresponde ao artesão habilitado a
reproduzir em pedra os protótipos encomendados, mediante pantógrafo, brocas
elétricas e produção em série.
O traço que distingüe a passagem da arte tumulária neoclássica para a da
belle époque, corresponde, em primeiro lugar, à diminuição e mesmo esvaziamento
da simbologia escatológica tradicional. Estas eram freqüentes, quase
obrigatórias na fabricação dos marmoristas de Lisboa, tanto na representação do
objeto principal, como na distribuição dos elementos alegóricos. A belle époque
se despe da excessiva carga escatológica e se realiza como uma nova
espiritualidade lírica, procurando impregnar, até as próprias alegorias, com uma
aparência de profundo realismo, de verismo.
Por isso, logo transforma a figura alada e assexuada dos anjos da estatuária
classista, em novos personagens: em anjos de procissão que parecem existir em
nosso cotidiano.
Os anjos da belle époque ganham sexo, expressam a idade, brincam como crianças,
refletem juventude, mas também sabem assumir, quando querem, traduzir desolação,
as atitudes mais teatrais e melodramáticas.
Achille Alberti é o autor da escultura em bronze, Sconforto. Foto:
Monumentale
O romantismo das figuras da belle époque, embora tenha uma apresentação
realística, não pode ser identificado com os sinais eróticos que se
manifestariam depois na arte tumulária.
São igualmente freqüentes na arte tumulária da belle époque sinais de
referência e de simbolização de fortuna, do prestígio e da propriedade. A
presença de alegorias pagãs, como o símbolo do deus Mércurio (ou Hermes, do
Comércio), além de outras figuras mitológicas, como ninfas, também é constante.
A belle époque também não foi insensível ao enaltecimento dos produtos
industrializados, substituindo o bronze pelo ferro, em muitas das esculturas.
O final do século XIX e princípio do século XX foi extremamente rico para a
arte cemiterial brasileira, por reunir ao mesmo tempo, famílias com recursos
financeiros e disposição para construir túmulos suntuosos, e artistas de grande
talento que aqui aportaram, principalmente italianos.
São desse período, muitas das peças produzidas por Brecheret, de caráter
modernista, além de outras peças que denotam sensualidade e monumentalidade,
como a dos artistas Emendabili, Oliani e Nicola Muniz, todos apresentando uma
riqueza de detalhes e leveza surpreendentes. A presença de nus na arte
cemiterial é uma grande inovação deste período.
Nos cemitérios brasileiros não é tão fácil distinguir-se essa sucessão
cronológica dos estilos, comparecendo a belle époque e art noveau, muitas vezes
como mercadorias importadas, imitadas, dispostas e acumuladas ao longo das
quadras. Devido à disposição, muitas vezes atrofiada de alguns cemitérios, até
mesmo observar as peças torna-se um grande sacrifício. Outro fator de prejuízo
é, sem dúvida, a má conservação de muitas das necrópoles brasileiras, algumas
centenárias, e em estado de total abandono, numa perda irreparável de um belo
patrimônio artístico nacional.
Hoje em dia, com o surgimento dos chamados “cemitérios-jardim”, a arte da
escultura cemiterial praticamente está extinta. Outro fator que leva a presença
cada vez mais escassa de túmulos monumentais, é o alto custo dos materiais como
o mármore, ferro e bronze, além da quase inexistência de artistas que se
dediquem a este tipo de trabalho.
Resta-nos, portanto, lutar para preservar esta verdadeiras obras de arte que
ainda subsistem espalhadas pelos cemitérios brasileiros, começando por
reconhecer o seu inestimável valor estético.(por Beatrix Algrave)
Si tratta di un primo scambio di esperienze fra le città impegnate in questa
opera di catalogazione al fine di arrivare alla definizione di strumenti di
lavoro comuni.
Nell’ambito della crescente conoscenza e valorizzazione del patrimonio
culturale dei cimiteri sono state avviati in Italia numerosi programmi di
catalogazione.
La complessità e articolazione dei beni conservati all’interno delle
strutture cimiteriali, definiti in una accezione ormai diffusa come “città dei
morti”, hanno posto in alcuni casi problemi relativi ai modelli catalografici
esistenti.
I beni conservati nel cimitero nelle loro diverse caratteristiche storico
artistiche, architettoniche, etnoantropologiche, ambientali costituiscono un
insieme di entità eterogenee, legate alle complesse tematiche della memoria e
del ricordo, in cui si incrociano approcci scientifici di differenti discipline.
A seconda dell’approfondimento sul singolo bene contemplato nella griglia
catalografica diventa possibile l’elaborazione dei dati e una ricostruzione non
univoca della complessità cimiteriale.
Le problematiche di riferimento, che nascono dall’esperienza di catalogazione
del cimitero del Verano di Roma, proposte per la discussione sono relativi ai
seguenti punti:
1. il manufatto funerario: problematiche catalografiche relative alle
caratteristiche spaziali della camera sepolcrale;
2. elementi decorativi e/o artistici industriali: descrizioni e dati relativi a
specifiche per tipologie, manifatture, produzioni, tecniche esecutive;
3. suppellettili e oggetti di ricordo talvolta collocati anche in epoca
successiva alla realizzazione del manufatto funerario significativi per una
lettura antropologica del fenomeno della morte;
4. catalogazione dei ritratti funebri in fotoceramica; 5. dati anagrafici e
biografici del defunto riportati nella scheda come
trascrizione di elementi epigrafici; 6. elenco delle sepolture esistenti nel
manufatto;
7. specificità dei dati di concessione d’area; 8. relazione tra manufatto
funebre e verde: catalogazione delle essenze come parte integrante del bene;
9. caratterizzazione del cimitero come giardino o parco: catalogazione del verde
storico e delle sue trasformazioni;
10. uso di modelli catalografici idonei all’analisi, comprensione e raffronto
dei dati su scala territoriale del complesso cimiteriale.