Ele criou a Cineteca
Italiana, o primeiro arquivo de filmes da Itália,
destinado a preservar a memória audiovisual do país,
e dirigiu filmes como Proibito Rubare
Luiz Carlos Merten
SÃO PAULO - Ele foi,
com Dino Risi e Mario Monicelli, um dos reis da
comédia à italiana. Talvez tenha sido o pai. Luigi
Comencini, que nasceu em Salò, em 1916, estreou, em
pleno neo-realismo, com o drama Proibito Rubare,
tratando da infância carente, na Itália que sofria
as conseqüências da derrota na 2ª Guerra. No fim dos
anos 40, descobriu a comédia e nunca mais parou de
fazer rir. Os críticos dizem que, com a série
Pão, Amor e..., Comencini criou o neo-realismo
róseo. Muitos o condenaram por isso, por haver
traído os princípios do movimento que havia
irrompido no cinema italiano, após a guerra. Mas a
grande comédia italiana nunca foi alienada nem
alienante. Comencini, Monicelli e Risi fizeram
tragicomédias encravadas na realidade social e
política da Itália. Abriram uma trilha que
prosseguiu com Ettore Scola. Comencini morreu nesta
sexta-feira, 6, em Roma, prestes a completar 91
anos.
Suas duas filhas,
Francesca e Cristina, tornaram-se cineastas.
Francesca veio ao Brasil filmar o Fórum Mundial
Social em Porto Alegre. Seduzida pelo slogan "Un
Alto Mondo è Possibile", ela se uniu ao movimento
antiglobalização com um filme que se tornou um
verdadeiro manifesto da consciência crítica nesta
era consumista - Carlo Giuliane, Ragazzo - em
homenagem ao jovem de Turim que morreu protestando
contra a reunião do G-7.
Como Francesca e
Cristina nunca se cansaram de dizer, foi com o pai
que tiveram suas primeiras lições de cidadania e
humanidade. Francesca diz uma coisa linda de Luigi:
"É como se minha irmã Cristina e eu tivéssemos
dividido sua herança de temas e linguagens. Papai
amava os personagens frágeis, os excluídos da
sociedade, era muito sensível aos problemas da
infância e ninguém é mais frágil que uma criança. E
ele seguia esses personagens com grande comoção e
participação, porque seu coração estava sempre do
lado do anti-herói."
Luigi Comencini
foi arquiteto e jornalista. Com Alberto Lattuada e
Mario Ferrara, criou, nos anos 40, a Cineteca
Italiana, o primeiro arquivo de filmes da Itália,
destinado a preservar a memória audiovisual do país.
O Imperador de Capri, com Totò, foi a
primeira comédia, em 1949. Três anos mais tarde,
surgiu Pão Amor e Fantasia, com Vittorio De
Sica e a jovem Gina Lollobrigida, seguido, no ano
seguinte, por Pão, Amor e Ciúme, com a mesma
dupla. Apesar dos ataques de alguns críticos, o
díptico fez grande sucesso de público e orientou
Comencini, em definitivo, para o humor.
Comencini fechou
aquela década com uma das mais engraçadas comédias
produzidas na Itália Mulheres Perigosas, com
Sylva Koscina e Dorian Gray. Nos anos 60,
L´Incompresso, O Incompreendido, que no
Brasil se chamou Quando o Amor É Cruel,
provocou verdadeira comoção internacional e, na
França, foi saudado por publicações como Cahiers du
Cinéma como "obra-prima absoluta".
Comencini aí não
queria mais fazer rir. Sua história era a de um
garoto órfão de mãe e que não se comunica com o pai.
O sentimento de desolação e tristeza o leva a querer
morrer. Pouca gente sabe, ou se lembra, mas
L´Incompresso é quase a retomada de La
Finestra sul Luna Park, de 1956, em que um pai
imigrante tenta recuperar o carinho do filho que
abandonou para tentar a sorte em outro país.
A volta ao lar
também é o tema de Tutti a Casa, de 1960, com
Alberto Sordi e Eduardo De Filippo. E, em 1963, logo
depois de A Garota com a Valise, de Valério
Zurlini, ele dirigiu Claudia Cardinale num filme
ainda mais zurliniano do que aquele que o próprio
Zurlini realizara. A Garota de Bube, com
Claudia e George Chakiris, permanece como um
belíssimo filme a redescobrir. Contemporâneo do
Casanova decadente de Federico Fellini, o jovem
Casanova de Comencini mostra como um
adolescente descobre seu talento para a sedução. E
houve, ainda, duas adaptações de clássicos da
literatura infanto-juvenil italiana.
As Aventuras de
Pinóquio, baseado em Collodi, com Nino Manfredi
no papel de Gepetto e Gina Lollobrigida como a fada,
toca a genialidade quando dois cômicos
ultrapopulares, Franco Franchi e Ciccio Ingrassia,
interpretam o gato e a raposa. Cuore, adaptado de
Edmondo De Amicis, trata da memória e do tempo, por
meio da lembrança de crianças num internato.
Comencini ainda
voltaria uma última vez ao tema da infância, mas seu
remake de Marcelino, Pão e Vinho, em 1991,
não fez muito sucesso. O cinema mudara e Comencini.
Estava começando a era de suas filhas. Foram muitos
filmes belos, bons e divertidos, mas se fosse
preciso escolher apenas um para resumir a arte do
diretor seria Lo Scopone Scientifico, de
1972, com Bette Davis, Silvana Mangano e Alberto
Sordi - um filme sobre o poder compulsivo do jogo,
em que uma velha manipula um casal sob o olhar duro
de uma criança que terá a última palavra. O filme se
chamou, no Brasil, Semeando a Ilusão, mas
poderia ter sido Quando o Amor É Cruel 2,
mesmo que as histórias e personagens sejam muito
diferentes. Como bom italiano, Comencini amava o bel
canto. Seu tributo à ópera foi por meio de uma La
Bohème sensível, divinamente cantada por Bárbara
Hendricks, como Mimi.
(©
Agência Estado)
Luigi Comencini e il mondo
dell’infanzia
di Giuseppe Guzzo
Dopo una lunga malattia, all’età di 90
anni, è morto il regista Luigi Comencini che nella sua
lunga carriera cinematografica aveva diretto centinaia
di grandi attori e attrici tra cui Gina Lollobrigida,
Alberto Sordi e Totò.
Tutti
l’hanno ricordato, sulla stampa e nella televisione,
come tra i più grandi registi del cinema italiano.
Nessuno si è, però, ricordato che il suo primo film,
Proibito rubare, girato nel 1948 a Napoli
aveva avuto per protagonisti, l’infanzia napoletana,
i famosi gauglioni della città partenopea
distrutta dalle tristi vicende della guerra.
Il
giovane regista lombardo, fino ad allora, aveva
diretto solo un documentario dal titolo Bambini
in città, in cui aveva indagato sulle condizioni
dell’infanzia nella Milano del dopoguerra.
In quel
momento Comencini sposta la scena da Milano a Napoli
per raccontare, lui di religione valdese, la storia
di un prete impegnato nelle missioni in Africa dove
deve tornare dopo un periodo di permanenza a Napoli.
Don
Pietro, è questo il nome del prete, interpretato da
Adolfo Celi - che può essere considerato l’archetipo
di Padre Flanagan/Spencer Tracy della Città dei
ragazzi - mentre si sta preparando per tornare
in Africa tra quelle misere popolazioni viene
derubato della valigia.
Come
padre Flanagan, anche don Pietro sa che non tutto è
perduto coi ragazzi e il suo primo film diviene
Proibito rubare.
La
fretta di trovare la valigia per il ritorno in
Africa porta don Pietro in una specie di corte dei
miracoli in miniatura, ovviamente, fatta di bambini
laceri, affamati, miseri.
Don
Pietro non trova il ladro, ma la partenza della
nave, che intanto è avvenuta, gli permette di
svolgere quella missione che avrebbe dovuto, e
voluto, svolgere nel continente nero.
Dalla
macchina da presa del giovane regista lombardo viene
fuori una Napoli distrutta, dai palazzi diroccati,
affamata, attanagliata dalla miseria e dalla
corruzione.
È
appunto per lo scavo in questo mondo di miseria
infantile che Comencini si guadagna fin d’allora
l’appellativo di fondatore dl quel neorealismo
rosa che si porterà per tutta la vita.
Questo
film, purtroppo, è stato subito dimenticato.
Dall’annoimmediatamente successivo, Comencini
inizierà la sua ascesa nel firmamento
cinematografico. Verranno L’imperatore di Capri,
con Totò e tanti altri film che ne faranno uno dei
più grandi registi italiani.
Tuttavia, deve essere ricordato come il regista che
più di altri ha saputo rappresentare il mondo
dell’infanzia.
Si
pensi a Marcellino, agli sceneggiati
televisivi Pinocchio e Cuore e tanti
altri che avranno per protagonisti i ragazzi.
Ma è da Proibito rubare che inizia
quell’ascesa in cui un posto sarà sempre occupato
dai bambini e dai ragazzi.
(©
La
Tecnica della Scuola) |