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Que rei sou eu?

27/06/2006

 


Prisão do herdeiro do trono italiano reabre debate na Europa sobre o papel de monarcas num mundo moderno e globalizado

Por Claudio Camargo

Definitivamente, não se fazem mais monarcas como antigamente. Tome-se o caso de Vittorio Emanuele de Savóia, 69 anos. Ele é filho do último rei da Itália, Umberto II, e herdeiro do trono. Foi preso na semana passada em Varenna sob a acusação de falsificar documentos e explorar a prostituição. Triste fim para quem retornou recentemente à sua terra natal depois de ter vivido mais de meio século no exílio – e a sua volta só foi possível porque em 2002 o Parlamento revogou o banimento dos descendentes masculinos da família Savóia, imposto pela Constituição republicana de 1946. A severidade da medida se justificava pelo fato de o penúltimo rei italiano, Vittorio Emanuele III, avô de Vittorio, ter sido cúmplice do regime fascista de Benito Mussolini (1922-1943). Com a prisão do herdeiro do trono, a casa de Savóia, a mais antiga dinastia da Europa, que reinou por quase mil anos no Piemonte e unificou a Itália em 1861, acaba agora na lama. Mas não está sozinha. Outra dinastia com sete séculos de história, os Grimaldi de Mônaco, também está às voltas com episódios constrangedores, pelo menos para quem é da realeza. Pouco antes da prisão de Vittorio, o seu colega soberano de Mônaco, o príncipe Albert II, 48 anos, anunciou que assumiria a paternidade de uma adolescente americana, fruto de uma relação casual que manteve com uma camareira. Ele é reincidente: no ano passado, para evitar um escândalo às vésperas de ser entronizado, Albert admitiu que era pai de um jovem de 22 anos, filho dele com uma ex-assistente de bordo togolesa.

Eletronic Image
Tradição: Elizabeth II e o príncipe
Philip, 53 anos de reinado

Virilidade, arrogância e belicosidade foram os traços que marcaram as dinastias européias no passado – durante séculos elas ensangüentaram o continente com suas guerras de conquista e seus jogos de poder. Há 100 anos, quando os monarcas eram os senhores do Velho Mundo, somente a França, Suíça e San Marino não eram governados por reis e rainhas com laços de parentesco entre si. A hecatombe provocada pelas duas guerras mundiais varreu do mapa a maioria das dinastias e hoje apenas dez países da Europa ainda mantêm seus soberanos, mas reduzidos, quase todos, a figuras simbólicas: Espanha, Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Noruega, Suécia, Luxemburgo, Mônaco, Liechtenstein e Bélgica. Algumas dinastias, como a espanhola e a sueca, são adoradas por seus súditos; outras, como a britânica, alternam momentos em que são ridicularizadas com períodos em que caem nas graças do povo.

Tony Harris
Marco Juan Carlos (com Sofia),
o rei democrático

Exposta à curiosidade pública como nenhuma outra, a família real britânica se vê envolta em um drama folhetinesco com uma sucessão de adultérios, separações, escândalos e tragédias cujo ápice foi a morte de sua personagem mais popular, a princesa Diana – faleceu em um acidente automobilístico em Paris, em 1997. Aos poucos, parece que a bonança vai se impondo à tempestade: no ano passado o príncipe Charles finalmente se casou com a sua eterna amante, Camilla Parker-Bowles, encerrando o maior escândalo da dinastia de Windsor desde 1936, quando o rei Edward VIII renunciou ao trono para se casar com a sua amada, a plebéia americana Walis Simpson. Há dois meses, a rainha Elizabeth II completou 80 anos recebendo o carinho de seus súditos e pesquisas recentes mostram que a minoria simpatizante do regime republicano caiu para menos de 20%. Em compensação, muitos crêem que o príncipe Charles deveria renunciar em favor de seu jovem filho William.

Fotos: Martin Ruetschi/AP / Abacapress/Brainpix
Desvios: Vittorio Emanuele (à esq.) afundou os Savóia. Albert II (à dir.),
de Mônaco, assumiu paternidades

Quem soube conjugar democracia com monarquia foi Juan Carlos I, da Espanha, que completa 31 anos de reinado. Designado pelo ditador Francisco Franco em 1969, ele surpreendeu até a esquerda ao se empenhar com o retorno de seu país à democracia. Seu papel político se consolidou em 1981 quando ele foi a público, em rede de tevê, e condenou uma tentativa de golpe militar, exigindo respeito às instituições democráticas. Ironicamente, um país instável e conservador conseguiu recriar uma monarquia que virou fator de estabilidade, revelou-se dinâmica e mostra uma invejável vitalidade. Tanto que, na Espanha, o povo é amigo do rei.

(© Isto É Online)

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