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A aventura dos Stradivarius |
25/06/2006
Um
escritor inglês traça a saga de seis instrumentos Stradivarius ao longo
de três séculos, contando também a evolução do violino
JOSÉ TELES
Cremona, na região da Lombardia, Itália, esnobou por mais de dois
séculos seu filho mais famoso, o luthier Antonio Stradivari (nascido,
provavelmente, em 1644 e falecido em 1737). Em 1868, por exemplo, foi
demolida a Capela do Rosário na qual se encontrava o túmulo de
Stradivari. A casa da família foi reformada, em 1888, para abrigar um
salão de bilhar e um café e demolida quatro décadas mais tarde. No
entanto, em 1937, bicentenário da morte do luthier, a efeméride teve
suas duas maiores comemorações realizadas em Nova Iorque e em Cremona.
Ao longo dos seu mais de 90 anos, Antonio Stradivari construiu cerca
de 1.200 instrumentos (incluindo violoncelos), quase a metade ainda
existe, em mãos de particulares, fundações, museus. O inglês Toby Faber,
ex-diretor da editora Faber and Faber, dedicou-se a apenas meia dúzia
Stradivarius: os violinos Messias, Viotti, Khevenhüler, Paganini,
Lipinski e o violoncelo Davidov. O resultado da minuciosa pesquisa, que
mais se assemelha a uma boa história de suspense, está no livro
Stradivarius (Editora Record, 278 páginas, R$ 39,90). Os
instrumentos são conhecidos pelo nome de algum ex-proprietário famoso
(com exceção do Messias, claro). O Viotti, fabricado em 1709, por
exemplo, pertenceu a Giovanni Battista Viotti, um grande violinista do
início do século 19.
Até meados do século 16, o violino não era tido em boa conta. Em
certas partes da Itália, decretos da igreja chegavam a determinar a
destruição do “objeto licencioso”. A valorização do violino começou por
volta de 1555, quando Catarina de Médicis, rainha da França, encomendou
38 instrumentos de corda, todos comprados em Cremona, entre os quais
encontrava-se um violino construído por Andrea Amati, em 1564, hoje
exposto no Ashmolean Museum de Oxford, Inglaterra. Nas primeira décadas
do século, o violino já se tornara um instrumento nobre, com Cremona
disputando com Brescia a primazia de terra dos melhores violinos.
Poucas décadas depois da morte de Antonius Stradivarius (em latim,
adotado por ele e como assinava os instrumentos), os violinos fabricados
por Jacob Steiner, no Tirol era considerados o que havia de melhor no
gênero. Foi aí que entraram em cena os especuladores. Um deles, o conde
Cozio di Salubue, trabalhou durante quatro anos com Jean Battista
Guadagnani, com o qual provavelmente aprendeu sobre os Stradivarius. Ele
viajou a Cremona e comprou de Paolo, filho mais novo do mestre, os
últimos 13 violinos que lhe restavam, entre eles estava o Messias, que
recebeu este nome no século 19, quando pertencia ao um dealer
(negociante especialista em instrumentos) chamado Jean-Baptiste
Vuillaume, que raramente o mostrava. Foi seu genro Delphim Alard que
comentou que este violino era feito O Messias, “Que está sempre sendo
esperado”.
Foi a partir da valorização lenta e gradual do Stradivarius que os
especuladores vasculharam a Europa na busca de instrumentos que levassem
o selo do mestre. Toby Faber rastreia os cinco violinos e o violoncelo
até os tempos atuais. Conta aventuras mirabolantes dignas de um filme,
entremeando-as com curiosidades. Paganini, virtuoso e showman, quando
morreu deixou uma coleção de Stradivarius num cofre em Milão, mas seu
instrumento preferido era um Del Gesú (Guarnieri Del Gesú foi outro
célebre luthier). Seu Strad mais famoso, de 1680, acabou nas mãos do
vivaldino Vuillaume que o vendeu, em 1852, a um certo Monsieur Desaint,
que ficaria com ele durante meio século.
CORRENDO O MUNDO – O Stradivarius aos poucos ganharia terreno
sobre os rivais. em 1890 já eram considerados obras de arte. Em junho
daquele ano começou a circular em Londres um publicação intitulada
Strad. Foi ela que informou aos londrinos a chegada na cidade do famoso
Strad Messias, adquirido por um Robert Crawford, de Edimburgo, Escócia,
transação intermediada pela firma W.E. Hills & Sons, que comprou o
violino de Crawford em 1904. Com a revolução russa de 1917, muitos dos
Strad existentes no país acabariam nos Estados Unidos, que se tornou a
meca para o negociantes destes instrumentos. Foi assim que o mais famoso
violoncelo Stradivarius, o Davidov, foi comprado para a coleção da
Wurlitzer, fabricante de instrumentos, e de jukeboxes (radiola de
ficha). Assim, por três continentes, Faber vai traçando a trajetória dos
instrumentos.
Quatro deles, o Davidov, o Khevenhüller, o Paganini, e o Lipinski,
depois de voltas e contravoltas acabaram nos EUA (depois voltaram a
rodar mundo). O Khevenhüller foi presenteado ao jovem prodígio Yehudi
Menuhi pelo banqueiro Henry Goldman. Apenas o Messias, de posse da W.E.
Hills & Sons (pertencia ao milionário inglês Richard Bennett (dono de 17
Strads), não cruzou o Atlântico, embora Henry Ford tenha oferecido um
cheque em branco por ele. Riquíssimos, dizem que chegaram a negociar 700
Strads, os Hills decidiram doar o Messias ao museu Ashmolean de Oxford.
Hoje valendo milhões de dólares, o Messias é uma incógnita. O
dendrocronologista (que estabelece por meio científico a idade da
madeira) Peter Klein da Universidade de Hamburgo assinou um laudo
datando o Messias de 1738, um ano depois da morte de Stradivari. Houve
contestações. Houve quem afirmasse que o Messias é obra de Giovanni
Batista, filho do mestre, morto prematuramente. Nada ficou comprovado e
o fascínio do Messias, e dos Stradivarius, continua cada vez mais
intenso.
(©
JC Online)
“Ele também fazia
violino ruim”, diz Cussy
O maestro e violinista Cussy de Almeida, durante onze anos, esteve de
posse do Stradivarius Hammerlle, de 1709 (mesmo ano do Viotti, um dos
mais célebres violinos do mestre de Cremona). “Por causa deste Stradivarius,
eu fui admitido numa espécie de clube. É feito a Fórmula 1, onde estão
os melhores carros e os maiores especialistas no assunto, os dealers,
ou seja, pessoas que trabalham no comércio de instrumentos de alto
nível, que emitem certificado de autencidade”, compara.
Cussy conheceu outros Stradivarius, além do que possuiu, inclusive
um dos violoncelos construído pelo lendário luthier, que os fez em
menor quantidade, mas com idêntica qualidade, a exemplo do Davidov,
que pertence hoje ao francês (de pais chineses) Yo-Yo Ma. Este
violoncelo com o qual Cussy diz ter “brincado” foi o último construido
por Stradivarius, e pertenceu ao pernambucano Aldo Parisot, professor
na Universidade de Yale, EUA.
Quanto a Antonio Stradivari ele concorda que foi o maior de todos
os luthiers de violinos, mas não era perfeito: “Ele também fez
instrumentos ruins, mas sem dúvida era um artesão maravilhoso. Seus
primeiros violinos tinham muito a influência de Andrea Amati, de quem
foi aluno. A partir de 1700 os violinos Stradivarius adquirem
características bem particulares. Agora, há muita fantasia envolvida
no Stradivarius. Como é o caso do verniz, que, dizem, era uma fórmula
secreta. Mas Stradivarius trabalhava com o mesmo verniz que usavam
todos os luthiers do século 18. Isto foi descoberto quando os
instrumentos foram examinados com raios ultravioleta. O que
diferenciava os violinos era a leveza da mão do artesão. O que há de
verdade nesta história é que a fórmula do verniz que se usava naquela
época foi perdida.”
Cussy aponta que a grande descoberta de Antonio Stradivarius foi
ter passado a fabricar violinos fugindo à regra comum aos artesão da
época: “Pressupunha-se que o violino teria mais som se tivesse maior
centimetragem, o fundo mais abaulado. Stradivarius passou a fazer seus
violinos mais planos, fazendo com que o som se projetasse com maior
solidez, mais potência, e tornou o instrumento também muito mais
bonito, fazendo o Stradivarius ter um timbre muito peculiar,
imediatamente reconhecível”, explica o maestro, que tece elogios a
outros mestres como Giovanni Battista Guadagnini: “Ele foi aluno de
Stradivarius. Toquei muito anos com um Guadagnini, de 1750, que hoje
está em Nova Iorque”.
Nascido em Natal (RN), Cussy de Almeida foi menino prodígio.
Realizou a primeira turnê, por algumas grandes cidades nordestinas,
aos 11 anos. Veio para o Recife estudar violino com o maestro Vicente
Fittipaldi. Aos 19 ingressou na Orquestra Sinfônica do Recife.
Recomendado por Heitor Villa-Lobos, Cussy de Almeida foi estudar, em
1958, no Conservatoire Supérieur de Musique, de Paris. Em seguida foi
estudar no Supérieur Conservatoire de Musique, de Genebra, onde ganhou
prêmios importantes. Sua carreira profissional na Europa aconteceu
como integrante da Orchestre de la Suisse Romande, regida pelo maestro
Ernest Ansermet. De volta ao Brasil, tornou-se professor das
universidades federais do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Nos anos
70 notabilizou-se como maestro da Orquestra Armorial. Ultimamente vem
trabalhando com a orquestra de câmara Orange, com a qual lançou disco
no ano passado. (J.T.)
(©
JC Online)
Alagoas tem Stradivarius à espera de comprovação Agora, tudo depende de uma comprovação técnica. Se sua autenticidade for
realmente constatada, um dos últimos exemplares que ainda restam do tão
cobiçado violino Stradivarius - uma relíquia de valor inestimável que
está muito bem guardada em Maceió, à espera de um colecionador
interessado em adquiri-lo - pode deixar os domínios alagoanos rumo ao
acervo dos “caçadores” de raridades mundo afora.
Para se ter uma idéia do valor do instrumento, no último dia 16 de maio
o mundo inteiro acompanhou, por meio do noticiário internacional, um
colecionador arrematar um violino da mesma marca em um leilão em Nova
York, pelo preço recorde de U$S 3,5 milhões. Foi a maior cifra já
“desembolsada” na compra de um exemplar da peça.
Para dona do instrumento, todo cuidado é pouco
As medidas de segurança que a proprietária do suposto Stradivarius tomou
podem até sugerir um certo exagero, mas não é bem assim. No ano passado,
o Federal Bureau of Investigation (FBI) divulgou a lista dos dez maiores
crimes cometidos contra as artes no mundo. Entre eles estava o roubo de
um violino Stradivarius de um apartamento em Nova York, assim como o
saque de quase dez mil objetos históricos e arqueológicos (durante a
invasão americana ao Iraque, em 2003) e o roubo das obras O Grito e
Madonna, do pintor norueguês Edvard Munch. (LELO MACENA)
(©
GazetaWeb) |
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