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Bispos hineses escolhidos
pelo Governo, à revelia do Vaticano |
HONG KONG - Autoridades do Vaticano visitaram Pequim para conversas a
portas fechadas relativas à normalização das relações bilaterais, apesar
das tensões decorrentes da nomeação de dois bispos na China sem a
aprovação de Roma, disse o principal clérigo da Igreja em Hong Kong
nesta segunda-feira.
- As conversas são sobre... toda a relação entre a Santa Sé e o
governo chinês, sobre os milhões de fiéis - disse o cardeal Joseph Zen
Ze-kiun. - É um assunto abrangente e não deveria ser tão estreitamente
ligado aos poucos padres perseguidos - disse Zen à Reuters, em uma
entrevista.
Ele não disse se os enviados já tinham deixado Pequim, e negou-se a
dar detalhes das conversas.
Pequim não tem relações diplomáticas com o Vaticano desde 1951, dois
anos depois que o Partido Comunista tomou o poder. O governo chinês
permite apenas que os católicos frequentem igrejas apoiadas pelo Estado,
que reconhecem o Papa como líder espiritual mas não como líder efetivo
da Igreja Católica.
O Vaticano estima que cerca de oito milhões de chineses participem de
cultos em "igrejas subterrâneas" não reconhecidas pelo governo --
comparados aos cinco milhões que pertencem à igreja controlada pelo
Estado.
Em 2004, a China tinha 120 bispos, 74 da igreja controlada pelo
Estado, de acordo com o Centro de Estudos do Espírito Santo, em Hong
Kong, que monitora a igreja chinesa.
Tensões entre Pequim e o Vaticano explodiram em maio, depois que a
igreja estatal nomeou dois bispos sem a bênção papal. O Papa Bento XVI
definiu as nomeações como uma "grave violação da liberdade religiosa", e
Zen disse que o Vaticano deveria romper o diálogo com a China se
houvesse mais algum caso.
Zen disse ao jornal católico de Paris, La Croix, no mês passado, que
a igreja não estava em uma posição fraca de negociação porque a China
queria reestabelecer relações diplomáticas com o Vaticano, para isolar
Taiwan e para fortalecer sua política religiosa domesticamente.
- Espero que agora até o governo saiba que passou dos limites - disse
ele à Reuters, referindo-se às nomeações não autorizadas.
Zen disse que o caminho para a normalização não seria fácil, mas que
o maior obstáculo era a desconfiança de Pequim com relação à igreja.
- O grande problema é que eles têm medo da religião católica, mas
eles não têm o que temer... eles deveriam entender que a religião
católica não é de forma alguma um perigo para o Estado - declarou Zen.
(©
O Globo)
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