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Enviados do Vaticano foram a Pequim para reunião secreta, diz cardeal

19/06/2006

Bispos hineses escolhidos pelo Governo, à revelia do Vaticano


HONG KONG - Autoridades do Vaticano visitaram Pequim para conversas a portas fechadas relativas à normalização das relações bilaterais, apesar das tensões decorrentes da nomeação de dois bispos na China sem a aprovação de Roma, disse o principal clérigo da Igreja em Hong Kong nesta segunda-feira.

- As conversas são sobre... toda a relação entre a Santa Sé e o governo chinês, sobre os milhões de fiéis - disse o cardeal Joseph Zen Ze-kiun. - É um assunto abrangente e não deveria ser tão estreitamente ligado aos poucos padres perseguidos - disse Zen à Reuters, em uma entrevista.

Ele não disse se os enviados já tinham deixado Pequim, e negou-se a dar detalhes das conversas.

Pequim não tem relações diplomáticas com o Vaticano desde 1951, dois anos depois que o Partido Comunista tomou o poder. O governo chinês permite apenas que os católicos frequentem igrejas apoiadas pelo Estado, que reconhecem o Papa como líder espiritual mas não como líder efetivo da Igreja Católica.

O Vaticano estima que cerca de oito milhões de chineses participem de cultos em "igrejas subterrâneas" não reconhecidas pelo governo -- comparados aos cinco milhões que pertencem à igreja controlada pelo Estado.

Em 2004, a China tinha 120 bispos, 74 da igreja controlada pelo Estado, de acordo com o Centro de Estudos do Espírito Santo, em Hong Kong, que monitora a igreja chinesa.

Tensões entre Pequim e o Vaticano explodiram em maio, depois que a igreja estatal nomeou dois bispos sem a bênção papal. O Papa Bento XVI definiu as nomeações como uma "grave violação da liberdade religiosa", e Zen disse que o Vaticano deveria romper o diálogo com a China se houvesse mais algum caso.

Zen disse ao jornal católico de Paris, La Croix, no mês passado, que a igreja não estava em uma posição fraca de negociação porque a China queria reestabelecer relações diplomáticas com o Vaticano, para isolar Taiwan e para fortalecer sua política religiosa domesticamente.

- Espero que agora até o governo saiba que passou dos limites - disse ele à Reuters, referindo-se às nomeações não autorizadas.

Zen disse que o caminho para a normalização não seria fácil, mas que o maior obstáculo era a desconfiança de Pequim com relação à igreja.

- O grande problema é que eles têm medo da religião católica, mas eles não têm o que temer... eles deveriam entender que a religião católica não é de forma alguma um perigo para o Estado - declarou Zen.

(© O Globo)

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