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Jack Nicholson
em cena de Profissão: Reporter |
Bruno PortoHá quem afirme que “Profissão: repórter”, de Michelangelo Antonioni, é
o melhor filme de todos os tempos. Outras pessoas chamam a produção de
marco do cinema dos anos 70. Jack Nicholson, protagonista desse
clássico do cineasta italiano, define o longa-metragem de outra
maneira.
— “Profissão: repórter” foi a maior aventura cinematográfica da
minha vida — diz o ator numa das faixas de comentários que incrementam
o DVD do filme que acaba de ser lançado no Brasil.
O longa não representou uma aventura memorável só para o ator
americano. A crítica internacional e cinéfilos de todas as partes
também foram conquistados pelo filme. Lançado em 1975, “Profissão:
repórter” resistiu bravamente à passagem dos anos. A história do
jornalista que decide trocar de identidade para tentar recuperar a
paixão pela vida continua inquietante. Assim como as imagens captadas
pela câmera elegante e original do diretor. As cenas que mostram
Nicholson “voando” sobre Barcelona e a bela Maria Schneider en carando
o passado no banco de trás de um conversível, por exemplo, seguem
arrebatadoras.
Comentários de Nicholson são os melhores
O DVD do filme só traz dois extras. A faixa de comentários de
Nicholson e uma outra a cargo do roteirista Mark Peploe e da
jornalista Aurora Irvine. As duas têm propostas diferentes. Nicholson
dá um depoimento pessoal, baseado em impressões suas. Já a outra faixa
busca contextualizar o filme, ressaltando assim a sua importância
histórica. Infelizmente, o DVD não oferece legendas de qualquer tipo
para as duas faixas.
Os comentários de Nicholson são mais interessantes que os de Peploe
e Irvine. O ator alterna tiradas bem-humoradas com lembranças que
ajudam a entender melhor os objetivos de Antonioni. De quebra,
Nicholson revela alguns dos segredos relacionados à realização do
filme. Ele conta, por exemplo, como o cineasta filmou a famosa cena
final, que dura sete minutos e não tem cortes.
“Profissão: repórter” tem alguns pontos em comum com “Blow-up:
Depois daquele beijo” (1966), filme mais conhecido de Antonioni. Os
dois usam premissas típicas de longas-metragens de suspense para
tratar de temas (muito) mais amplos.
Em “Blow-up”, um fotógrafo flagra sem querer um crime. O acaso
também age sobre a trama de “Profissão: repórter”. O filme começa
mostrando uma incursão do jornalista David Locke (Nicholson) pelo
deserto de um país africano. Ele tenta em vão localizar um grupo de
rebeldes. Desanimado, Locke volta para o seu hotel e descobre que seu
vizinho, um homem misterioso, está morto. Ele assume a identidade do
sujeito e acaba se envolvendo com um grupo revolucionário.
Depois de vagar pela Inglaterra e pela Alemanha, Locke conhece uma
jovem (Schneider) em Barcelona. Nicholson conta que a atriz gravou
parte do longa dopada. Por causa de uma dor nas costas, ela precisou
se entupir de analgésicos. Para o ator, nenhum filme atual chega aos
pés de “Profissão: repórter”.
— Os filmes de hoje parecem videogames . O cinema de
Antonioni está em outro nível — diz Nicholson.
Depois de assistir a “Profissão: repórter”, fica quase impossível
discordar dele.
(©
O Globo)
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