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Cena de Morte em Veneza (em
primeiro plano, o cartaz do filme) |
Por: Luiz Alberto Prado
O rigor peculiar do cineasta italiano Luchino Visconti volta a se
manifestar em Morte em Veneza, uma feliz adaptação do romance de
Thomas Mann, cujo o personagem central é o compositor Gustave
Aschenbach, vivido pelo discreto e genial ator Dirk Bogarde. Para
buscar paz em meio a uma crise existencial, o músico embarca para
Veneza. Porém, nada são flores pelos caminhos do compositor. Pois logo
se apaixona por um belo adolescente, Tadzio. Em um conflito interior,
a beleza do jovem ao mesmo tempo que atrai, oprime a Aschenbach. Esse
fascínio pelo belo, a busca do sublime e do perfeito se contrapõe à
epidemia que ataca a cidade, à pobreza que o cerca, a tudo que se
afasta dos ideais estéticos. Tudo faz com que o compositor se sinta
mais incompatível com o mundo, acentuando sua crise.
O personagem central considera ser patético um homem idoso se passar
por jovem entre jovens, que se deixa levar pela loucura do vinho e da
paixão. Nosso protagonista ainda tenta resistir à "desfiguração do
mundo para o esquisito". Não quer acreditar no que vê.
Não pode acreditar. Fecha os olhos para em seguida reabri-los e
verificar se não estava sendo enganado por seus sentidos. Porém, mais
a frente, quando se vê acometido pela paixão pelo jovem Tadzio, passa,
gradativamente, a se comportar como o falso jovem que viu em sua
viagem à Veneza.
Grotescamente, tenta de tudo para rejuvenescer, diminuindo a distância
entre sua velhice e a juventude daquele que se tornara o objeto de sua
paixão. Visconti traz à tona o protótipo da condição do homem
contemporâneo através de imagens, palavras e melancolia. Ele (o
músico) se deixa seduzir pela inocência. Tudo isso acontece às
vésperas do Primeira Guerra Mundial. Morte a Venezia, uma co-produção
ítalo-francesa de 1971, ganhou a Palma de Ouro de Melhor Filme; e o
seu diretor, o prêmio honorário pelo conjunto de sua obra.
Insistindo no tema, Morte em Veneza traz uma abordagem ao belo, um
hino à beleza, ao amor e à relação que entre os dois se pode
desenvolver. Tudo em termos platônico, é bom lembrar. Porém, o olhar é
o que predomina, que tudo determina. Tal incursão faz uma séria
abordagem da vida de um homem, que se pode transpôr para muitos outros
homens. A necessidade de mudar, o que se altera e faz ruptura e suas
conseqüências resultantes. Uma triste, crua e dolorosa reflexão sobre
as transformações interiores.
Além disso, o filme ainda exibe amor, que se vai desenvolvendo e
apresentado na sua forma mais pura, mais filosófica. Uma obra
instigante e reveladora, que sublima. Um filme que tem como ponto de
partida um livro; uma obra escrita por Thomas Mann.
Como pano de fundo, temos a simbólica de Veneza, como bem disse
alguém: "espaço líqüido, ondulante e luminoso, limite da Europa e do
Ocidente, encruzilhada de culturas (bizantina, renascentista,
mourisca), labirinto de canais, pontes e ruínas, cenário alegórico do
estado de passagem".
Ficha técnica: direção, Luchino Visconti; roteiro, Luchino Visconti e
Nicola Badalucco, a partir do romance homônimo de Thomas Mann;
fotografia, Pasquale De Santis; direção de arte, Ferdinando
Scarfiotti; maquiagem, Goffredo Rocchetti, Mario de Silvio e Mauro
Gavazzi; e montagem, Ruggero Mastroianni. Intérpretes: Dirk Bogarde
(Gustav von Aschenbach), Björn Andresen (Tadzio),
a onipresente e lânguida Silvana Mangano (mãe de Tadzio), a luminosa
Marisa Berenson (Frau Von Aschenbach), Mark Burns (Alfred), Carole
Andre (Esmeralda), Franco Fabrizi (barbeiro), Luigi Battaglia, Ciro
Cristofoletti, Nora Ricci, Romolo Valli, Masha Predit, Sergio
Garafanolo, Leslie French, Dominique Darel.
(©
Portal Itália)
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