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Morte a Venezia

06/06/2006

Cena de Morte em Veneza (em primeiro plano, o cartaz do filme)


Por: Luiz Alberto Prado

O rigor peculiar do cineasta italiano Luchino Visconti volta a se manifestar em Morte em Veneza, uma feliz adaptação do romance de Thomas Mann, cujo o personagem central é o compositor Gustave Aschenbach, vivido pelo discreto e genial ator Dirk Bogarde. Para buscar paz em meio a uma crise existencial, o músico embarca para Veneza. Porém, nada são flores pelos caminhos do compositor. Pois logo se apaixona por um belo adolescente, Tadzio. Em um conflito interior, a beleza do jovem ao mesmo tempo que atrai, oprime a Aschenbach. Esse fascínio pelo belo, a busca do sublime e do perfeito se contrapõe à epidemia que ataca a cidade, à pobreza que o cerca, a tudo que se afasta dos ideais estéticos. Tudo faz com que o compositor se sinta mais incompatível com o mundo, acentuando sua crise.

O personagem central considera ser patético um homem idoso se passar por jovem entre jovens, que se deixa levar pela loucura do vinho e da paixão. Nosso protagonista ainda tenta resistir à "desfiguração do mundo para o esquisito". Não quer acreditar no que vê.
Não pode acreditar. Fecha os olhos para em seguida reabri-los e verificar se não estava sendo enganado por seus sentidos. Porém, mais a frente, quando se vê acometido pela paixão pelo jovem Tadzio, passa, gradativamente, a se comportar como o falso jovem que viu em sua viagem à Veneza.

Grotescamente, tenta de tudo para rejuvenescer, diminuindo a distância entre sua velhice e a juventude daquele que se tornara o objeto de sua paixão. Visconti traz à tona o protótipo da condição do homem contemporâneo através de imagens, palavras e melancolia. Ele (o músico) se deixa seduzir pela inocência. Tudo isso acontece às vésperas do Primeira Guerra Mundial. Morte a Venezia, uma co-produção ítalo-francesa de 1971, ganhou a Palma de Ouro de Melhor Filme; e o seu diretor, o prêmio honorário pelo conjunto de sua obra.

Insistindo no tema, Morte em Veneza traz uma abordagem ao belo, um hino à beleza, ao amor e à relação que entre os dois se pode desenvolver. Tudo em termos platônico, é bom lembrar. Porém, o olhar é o que predomina, que tudo determina. Tal incursão faz uma séria abordagem da vida de um homem, que se pode transpôr para muitos outros homens. A necessidade de mudar, o que se altera e faz ruptura e suas conseqüências resultantes. Uma triste, crua e dolorosa reflexão sobre as transformações interiores.

Além disso, o filme ainda exibe amor, que se vai desenvolvendo e apresentado na sua forma mais pura, mais filosófica. Uma obra instigante e reveladora, que sublima. Um filme que tem como ponto de partida um livro; uma obra escrita por Thomas Mann.
Como pano de fundo, temos a simbólica de Veneza, como bem disse alguém: "espaço líqüido, ondulante e luminoso, limite da Europa e do Ocidente, encruzilhada de culturas (bizantina, renascentista, mourisca), labirinto de canais, pontes e ruínas, cenário alegórico do estado de passagem".

Ficha técnica: direção, Luchino Visconti; roteiro, Luchino Visconti e Nicola Badalucco, a partir do romance homônimo de Thomas Mann; fotografia, Pasquale De Santis; direção de arte, Ferdinando Scarfiotti; maquiagem, Goffredo Rocchetti, Mario de Silvio e Mauro Gavazzi; e montagem, Ruggero Mastroianni. Intérpretes: Dirk Bogarde (Gustav von Aschenbach), Björn Andresen  (Tadzio), a onipresente e lânguida Silvana Mangano (mãe de Tadzio), a luminosa Marisa Berenson (Frau Von Aschenbach), Mark Burns (Alfred), Carole Andre (Esmeralda), Franco Fabrizi (barbeiro), Luigi Battaglia, Ciro Cristofoletti, Nora Ricci, Romolo Valli, Masha Predit, Sergio Garafanolo, Leslie French, Dominique Darel.

(© Portal Itália)

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