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Totti durante treinamento da
seleção italiana |
Como Paolo Rossi e a Azzurra há 24 anos, escândalo abala equipe
Jogadores hostilizados em treinos ou obrigados a se retratar de
entrevistas: a preparação da Itália para a Copa está um autêntico caos
DA REPORTAGEM LOCAL
A tensão tomou conta da concentração da Itália em Coverciano e trouxe
à tona uma lembrança de 1982. Jogadores acusados de participação no
escândalo de apostas ilegais e arranjo de resultados que abalou o país
foram hostilizados por compatriotas ontem.
Diante das bombásticas revelações de favorecimento à Juventus (campeã em
quatro dos últimos cinco torneios), já há quem torça por um insucesso da
Azzurra na Copa do Mundo.
O clima é idêntico ao que antecedeu a campanha da seleção no Mundial da
Espanha, há 24 anos. A equipe sofria com a desconfiança da torcida e
tinha resgatado do limbo um jogador punido exatamente por atuar num
esquema de apostas clandestinas, Paolo Rossi.
A história conta que a Itália foi tricampeã do mundo e que Rossi, com
seis gols (três deles contra o Brasil), acabou artilheiro da competição
na última grande conquista do país.
Desta vez, o principal vilão não é atacante, mas goleiro: Gianluigi
Buffon, um dos maiores astros da Juventus, sentiu a ira da torcida ao
tentar realizar treinamentos físicos ontem. Aos gritos de "ladrone"
(ladrão), um grupo de furiosos torcedores não deixou o atleta em paz.
Apesar de não estar implicado diretamente no escândalo, o zagueiro Fabio
Canavarro (também da Juventus) foi outro alvo do protesto. Um dia antes,
ele havia defendido o ex-diretor de seu clube Luciano Moggi, pivô da
investigação judicial que revelou -por meio de escutas telefônicas- a
podridão por trás do esporte.
A entrevista de Canavarro pegou tão mal que a Federação Italiana de
Futebol (FIGC) obrigou o atleta a se retratar. A exigência foi do
interventor da entidade, Guido Rossi (o titular, Franco Carraro, teve de
se demitir no início do mês, quando estourou o escândalo).
"Só agora li os jornais e me dei conta de que não transmiti meu
pensamento real. Também quero um futebol limpo e sério. Quem se
equivocou deve ser punido", afirmou o jogador, visivelmente
constrangido.
Antes da "chamada" que tomou de Rossi, Canavarro -com olhar desafiador-
afirmara que Moggi estava servindo apenas de bode expiatório porque
"trabalhava num sistema corrupto e fazia seu trabalho da melhor maneira
possível".
As interceptações telefônicas reveladas no mês passado mostram, porém,
que o cartola era muito próximo dos designadores de arbitragem -um deles
chegou a receber um luxuoso carro Maserati de presente.
Pelo menos seis clubes da Série A, nove árbitros e 41 jogadores estão
sendo investigados. A chamada "Operação Pés Limpos" pretende, até o
início de julho, punir os responsáveis.
Na seleção, é notável o temor -especialmente entre os atletas de
Juventus e Milan, que são dez na lista dos 23- de que a divulgação de
novas gravações implique mais gente.
O técnico Marcelo Lippi já está envolvido até o pescoço: um de seus
filhos trabalha com Alessandro Moggi, filho de Luciano, na empresa GEA,
que detém passes de uma centena de jogadores de times de ponta.
No meio de tanta lama, Totti (Roma), Toni (Fiorentina), Materazzi
(Inter) e Peruzzi (Lazio) foram aplaudidos pela torcida no treino de
ontem. Todos haviam levantado a voz contra a corrupção no calcio.
(©
Folha de S. Paulo)
Justiça interrompe treino da seleção italiana
Zagueiro e goleiro italianos são investigados pela justiça do país
Apesar do técnico da
Itália, Marcello Lippi, ter pedido esta semana para seus comandados se
concentrarem apenas na Copa do Mundo, mais uma vez o treino da sua
equipe foi tumultuado pelo desfalque do goleiro Buffon, que foi intimado
pela justiça italiana.
Depois do zagueiro
Fabio Cannavaro, que já havido sido chamado para prestar depoimento na
semana passada, agora foi a vez do goleiro Gianluigi Buffon se
apresentar à justiça da Itália.
Segundo declarou a
assessoria da Federação Italiana de Futebol, Buffon apenas conversará
com os investigadores sobre o caso de manipulação de apostas.
Na última semana, o
goleiro e o zagueiro, ambos da Juventus, confessaram que haviam feito
apostas de em jogos de futebol, mas fora do país, o que não seria crime
segundo a leis esportivas italianas.
Com isso, as
atividades da Azzurra, que acontecem no Centro de Treinamento de
Converciano, em Florença, deixaram de chamar a atenção da imprensa
mundial pela preparação para a Copa e ganharam o interesse da mídia
européia pelo escândalo de corrupção em que alguns clubes da Séria A
estão envolvidos.
A preparação da Itália
ainda pode sofrer mais desfalques nos próximos treinos, já que Gianluca
Zambrotta, Mauro Camoranesi e Alessandro Del Piero, todos jogadores da
Juventus, principal implicada no caso, ainda podem ser intimados pela
justiça do país.
Apesar do embaraço de
ter jogadores da seleção envolvidos no escândalo, o técnico Marcello
Lippi continua se negando a dar qualquer declaração sobre o tema e diz
que só se pronunciará sobre a preparação da sua equipe para o Mundial da
Alemanha.
(©
Cidade do Futebol)
Em protesto, vice-presidente da Liga Italiana
pede demissão
Maurizio
Zamparini pediu que o mandatário da entidade, Adriano Galliani, também
deixe o seu cargo.
ROMA - O
vice-presidente da Liga Italiana de Futebol, Maurizio Zamparini, pediu
demissão nesta sexta-feira em protesto ao escândalo na arbitragem do
campeonato local.
"Saio porque minha eleição (em 23 de
março de 2005) foi resultado de uma ação ilegal, fruto de um acordo
entre os representantes das grandes equipes: Juventus, Milan, Inter,
Roma e Lazio", desabafou. "Sinto que é necessário uma limpeza no mundo
do ´Calcio´", completou.
Presidente do Palermo, Zamparini
pediu que o mandatário da Liga, Adriano Galliani, também deixe o seu
cargo. "Já dei o primeiro passo e espero que outros sigam o meu
exemplo", disse.
Há alguns dias, o dirigente chegou a
defender a renúncia de todos os dirigentes da entidade. "É necessário
uma mudança radical, tanto na Liga como na Federação. Galliani e eu
deveríamos nos demitir."
Porém, o presidente da Liga não
concorda com os pensamentos do colega. "Não renuncio porque, neste
país, se alguém se demite é considerado culpado. Mas eu não me sinto
culpado em absoluto", declarou Galliani.
Ele, no entanto, é suspeito de
participar do escândalo de manipulação de resultados do Nacional por
ter uma estreita ligação com Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da
Itália e proprietário do Milan. Somado a isso, Galliani é dono da rede
de televisão Mediaset, que transmite os jogos do Italiano.
(©
Agência Estado) |