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Torcida xinga italianos e faz lembrar Espanha-82

27/05/2006

Totti durante treinamento da seleção italiana

Como Paolo Rossi e a Azzurra há 24 anos, escândalo abala equipe

Jogadores hostilizados em treinos ou obrigados a se retratar de entrevistas: a preparação da Itália para a Copa está um autêntico caos

DA REPORTAGEM LOCAL

A tensão tomou conta da concentração da Itália em Coverciano e trouxe à tona uma lembrança de 1982. Jogadores acusados de participação no escândalo de apostas ilegais e arranjo de resultados que abalou o país foram hostilizados por compatriotas ontem.

Diante das bombásticas revelações de favorecimento à Juventus (campeã em quatro dos últimos cinco torneios), já há quem torça por um insucesso da Azzurra na Copa do Mundo.

O clima é idêntico ao que antecedeu a campanha da seleção no Mundial da Espanha, há 24 anos. A equipe sofria com a desconfiança da torcida e tinha resgatado do limbo um jogador punido exatamente por atuar num esquema de apostas clandestinas, Paolo Rossi.

A história conta que a Itália foi tricampeã do mundo e que Rossi, com seis gols (três deles contra o Brasil), acabou artilheiro da competição na última grande conquista do país.

Desta vez, o principal vilão não é atacante, mas goleiro: Gianluigi Buffon, um dos maiores astros da Juventus, sentiu a ira da torcida ao tentar realizar treinamentos físicos ontem. Aos gritos de "ladrone" (ladrão), um grupo de furiosos torcedores não deixou o atleta em paz.

Apesar de não estar implicado diretamente no escândalo, o zagueiro Fabio Canavarro (também da Juventus) foi outro alvo do protesto. Um dia antes, ele havia defendido o ex-diretor de seu clube Luciano Moggi, pivô da investigação judicial que revelou -por meio de escutas telefônicas- a podridão por trás do esporte.

A entrevista de Canavarro pegou tão mal que a Federação Italiana de Futebol (FIGC) obrigou o atleta a se retratar. A exigência foi do interventor da entidade, Guido Rossi (o titular, Franco Carraro, teve de se demitir no início do mês, quando estourou o escândalo).

"Só agora li os jornais e me dei conta de que não transmiti meu pensamento real. Também quero um futebol limpo e sério. Quem se equivocou deve ser punido", afirmou o jogador, visivelmente constrangido.

Antes da "chamada" que tomou de Rossi, Canavarro -com olhar desafiador- afirmara que Moggi estava servindo apenas de bode expiatório porque "trabalhava num sistema corrupto e fazia seu trabalho da melhor maneira possível".

As interceptações telefônicas reveladas no mês passado mostram, porém, que o cartola era muito próximo dos designadores de arbitragem -um deles chegou a receber um luxuoso carro Maserati de presente.

Pelo menos seis clubes da Série A, nove árbitros e 41 jogadores estão sendo investigados. A chamada "Operação Pés Limpos" pretende, até o início de julho, punir os responsáveis.

Na seleção, é notável o temor -especialmente entre os atletas de Juventus e Milan, que são dez na lista dos 23- de que a divulgação de novas gravações implique mais gente.

O técnico Marcelo Lippi já está envolvido até o pescoço: um de seus filhos trabalha com Alessandro Moggi, filho de Luciano, na empresa GEA, que detém passes de uma centena de jogadores de times de ponta.

No meio de tanta lama, Totti (Roma), Toni (Fiorentina), Materazzi (Inter) e Peruzzi (Lazio) foram aplaudidos pela torcida no treino de ontem. Todos haviam levantado a voz contra a corrupção no calcio.

(© Folha de S. Paulo)


Justiça interrompe treino da seleção italiana

Zagueiro e goleiro italianos são investigados pela justiça do país

Apesar do técnico da Itália, Marcello Lippi, ter pedido esta semana para seus comandados se concentrarem apenas na Copa do Mundo, mais uma vez o treino da sua equipe foi tumultuado pelo desfalque do goleiro Buffon, que foi intimado pela justiça italiana.

 

Depois do zagueiro Fabio Cannavaro, que já havido sido chamado para prestar depoimento na semana passada, agora foi a vez do goleiro Gianluigi Buffon se apresentar à justiça da Itália.

 

Segundo declarou a assessoria da Federação Italiana de Futebol, Buffon apenas conversará com os investigadores sobre o caso de manipulação de apostas.

 

Na última semana, o goleiro e o zagueiro, ambos da Juventus, confessaram que haviam feito apostas de em jogos de futebol, mas fora do país, o que não seria crime segundo a leis esportivas italianas.

 

Com isso, as atividades da Azzurra, que acontecem no Centro de Treinamento de Converciano, em Florença, deixaram de chamar a atenção da imprensa mundial pela preparação para a Copa e ganharam o interesse da mídia européia pelo escândalo de corrupção em que alguns clubes da Séria A estão envolvidos.

 

A preparação da Itália ainda pode sofrer mais desfalques nos próximos treinos, já que Gianluca Zambrotta, Mauro Camoranesi e Alessandro Del Piero, todos jogadores da Juventus, principal implicada no caso, ainda podem ser intimados pela justiça do país.

 

Apesar do embaraço de ter jogadores da seleção envolvidos no escândalo, o técnico Marcello Lippi continua se negando a dar qualquer declaração sobre o tema e diz que só se pronunciará sobre a preparação da sua equipe para o Mundial da Alemanha.

(© Cidade do Futebol)


Em protesto, vice-presidente da Liga Italiana pede demissão


Maurizio Zamparini pediu que o mandatário da entidade, Adriano Galliani, também deixe o seu cargo.
 
ROMA - O vice-presidente da Liga Italiana de Futebol, Maurizio Zamparini, pediu demissão nesta sexta-feira em protesto ao escândalo na arbitragem do campeonato local.

"Saio porque minha eleição (em 23 de março de 2005) foi resultado de uma ação ilegal, fruto de um acordo entre os representantes das grandes equipes: Juventus, Milan, Inter, Roma e Lazio", desabafou. "Sinto que é necessário uma limpeza no mundo do ´Calcio´", completou.

Presidente do Palermo, Zamparini pediu que o mandatário da Liga, Adriano Galliani, também deixe o seu cargo. "Já dei o primeiro passo e espero que outros sigam o meu exemplo", disse.

Há alguns dias, o dirigente chegou a defender a renúncia de todos os dirigentes da entidade. "É necessário uma mudança radical, tanto na Liga como na Federação. Galliani e eu deveríamos nos demitir."

Porém, o presidente da Liga não concorda com os pensamentos do colega. "Não renuncio porque, neste país, se alguém se demite é considerado culpado. Mas eu não me sinto culpado em absoluto", declarou Galliani.

Ele, no entanto, é suspeito de participar do escândalo de manipulação de resultados do Nacional por ter uma estreita ligação com Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália e proprietário do Milan. Somado a isso, Galliani é dono da rede de televisão Mediaset, que transmite os jogos do Italiano.

(© Agência Estado)

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