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Valentina, de Guido Crepax |
Claudio Yuge
Álbum lançado por jornalista brasileiro aborda as sensuais criações dos
mestres Guido Crepax, Milo Manara e Paolo Eleuteri Serpieri
Curitiba - Sentada em um banquinho da praça, a moça resolve fazer
movimentos sensuais com sua curta saia para provocar os transeuntes. Em
outro lugar, Valentina, dominatrix fetichista, sugere sodomizar
uma inocente virgem. Um pouco mais distante, no espaço e tempo,
Druuna castiga seus adversários de maneira cruel, lasciva e
deliciosa. As três personagens e situações têm um ponto em comum: vieram
das mentes criativas de três grandes autores italianos, que têm papel de
destaque em ''Tentação à Italiana'', álbum de luxo lançado pelo
jornalista Gonçalo Junior, através da editora Opera Graphica.
O pai de Valentina, Guido Crepax -que morreu no dia 31 de julho
de 2003-, foi um dos pioneiros na arte de explorar a libido através dos
quadrinhos. Influenciado pela incorrigível Barbarella, que
deixara para trás a imagem frágil e inocente das mulheres, Crepax gerou
Valentina, jovem nascida em um momento de revolução sexual e de
questionamento, principalmente através da cultura, na efervescência
intelectual dos anos 60.
Valentina era totalmente o oposto das outras manifestações femininas
personificadas por garotas que precisavam ser salvas pelos heróis. Até
então, eram meninas inocentes totalmente dedicadas a oferecer suporte e
prazer aos homens, sem objetivos próprios que não tivessem relação à
sobrevivência de seu par macho. A filha de Crepax era bem mais que isso:
dominava, conseguia o que queria e era subjugada apenas quando fosse de
seu interesse. Uma bomba para os padrões da época.
Assim, Guido Crepax uniu muito do universo literário erótico, com
referências ao cinema (Valentina é baseada no visual de Louise Brooks
e os ângulos de seus desenhos sempre recorreram à fotografia da sétima
arte) e inovou com uma nova temática e narrativa nos quadrinhos. Mais
precisamente há 40 anos, em julho de 1965, a personagem estreava na
revista italiana Linus e, para reviver e comemorar esse momento,
o jornalista Gonçalo Junior (autor de ''A Guerra dos Gibis'')
reuniu uma série de ilustrações, fatos e reflexões sobre três autores
que criaram uma escola própria na Itália.
Guido Crepax, com Valentina; Milo Manara e suas
doces (e ao mesmo tempo pervertidas) mulheres provocantes; e Paolo
Eleuteri Serpieri, ao lado da voluptuosa e insaciável Druuna.
A publicação é uma das mais bonitas produzidas no Brasil, com o formato
gigante, capa dura e papel especial, na gramatura correta para valorizar
as ilustrações.
O jornalista reuniu cerca de 540 desenhos para mostrar a história e
argumentar, com coerência, sobre como esses autores e a escola italiana
de quadrinhos eróticos influenciaram a maneira de produzir, desde meados
de 60 até hoje.
Eu Quero o Príncipe Encantado - Lançado pela editora
Conrad, o material da quadrinista francesa Hélène Bruller não
consegue deixar de lado a comparação com ''Mulheres Alteradas'',
da argentina Maitena. Até porque ambas exploram o mesmo tema:
insegurança, ansiedade, frustrações e medos de mulheres modernas que
buscam, senão a igualdade com o sexo masculino, um pouco mais de
compreensão dos companheiros.
Apesar da semelhança, até mesmo entre os traços, as produções de Hélène,
no entanto, são diferentes das de Maitena. São menos sutis, um pouco
mais agressivas e muitas vezes até com caráter feminista panfletário.
Maitena busca a discussão numa visão mais ampla, com o humor de si
próprio para refletir sobre assuntos numa panorâmica predominantemente
feminina mas com objetivos de sensibilizar também os homens. Já Hélène,
que está mais para uma riot girrrl, prefere ironizar os atos machistas
através de um julgamento mais pessoal e poucas vezes unânime.
Serviço: ''Tentação à Italiana'' tem formato 26 x 35,5 cm, com
312 páginas e capa dura, ao preço de R$ 98. ''Eu Quero o Príncipe
Encantado'' tem formato 22 x 29 cm, com 72 páginas coloridas, e
custa R$ 30.
(©
Bonde)
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