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Manifestação contra a cobrança do "pizzo" |
Comerciantes se recusam a pagar o "pizzo", propina cobrada por
criminosos da cidade em troca de "proteção"
STEVE SCHERER
DA BLOOMBERG
Um grupo de 106 lojas e empresas de Palermo, na Sicília, que se recusam
a ceder à extorsão da Máfia, se uniu para combater a influência do crime
organizado, 15 anos após o assassinato de um dono de confecção local que
inspirou esse esforço.
A lista de empresas que não mais pagarão o "pizzo" -a propina cobrada
mensalmente pela Máfia para garantir a "segurança" dos
estabelecimentos-, divulgada na semana passada, foi feita por um grupo
de ativistas antimáfia inspirado por Libero Grassi, que foi assassinado
a tiros em 29 de agosto de 1991 por ter protestado publicamente contra a
prática de extorsão adotada pela Máfia siciliana.
O grupo também compilou uma lista com mais de 7.000 consumidores que
prometem fazer suas compras apenas nos pontos-de-venda onde os mafiosos
não recolhem o "pizzo".
Mais de 80% das empresas de Palermo pagam um "imposto" mensal à Máfia
siciliana, conhecida como "Cosa Nostra", segundo Piero Grasso,
promotor-chefe do setor antimáfia da Itália.
Grupos criminosos conseguiram 28 bilhões (US$ 33,5 bilhões) da economia
legal da Itália em 2004, informou o SOS Impresa, grupo de Roma
anticorrupção.
"O "pizzo" tem pesado como chumbo sobre nossa economia", disse Vittorio
Greco, que trabalha meio período como professor de filosofia na
Universidade de Palermo e é um dos fundadores do Comitê Addiopizzo, ou
"Adeus Pizzo". "Estamos tentando nos libertar desse peso."
A estratégia dos donos de estabelecimentos comerciais -que vão de
agências de viagem a mercearias e bares- é enfrentar juntos a violência
da Máfia, pois a força está na quantidade de adesões. Grassi tentou
enfrentar o grupo criminoso sozinho e foi morto, disse Greco.
"Sem dignidade"
É a primeira vez que tantas empresas se pronunciaram publicamente contra
as propinas cobradas pela Máfia em Palermo. A partir de agora, as
empresas deverão formar uma associação "anticrime organizado" em Palermo
para denunciar à polícia os pedidos de extorsão, disse Greco.
Uma
associação desse tipo nunca foi formada em Palermo.
Na semana passada, o Comitê Addiopizzo apresentou a lista de empresários
participantes a repórteres em Palermo, na Sicília, e a publicou em site
na internet: http://www.addiopizzo.org.
A pequena organização antimáfia foi formada há cerca de dois anos após
um grupo de aproximadamente dez estudantes universitários ter fixado
adesivos em postes e outdoors no centro de Palermo. Os adesivos diziam:
"Um povo que paga o "pizzo" é um povo sem dignidade".
A maioria dos estudantes era adolescente quando Grassi foi assassinado e
quando os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino foram mortos por
carros-bomba da Máfia em 1992, disse Greco.
O sentimento antimáfia em Palermo cresceu desde então, afirmou ele.
Recentemente, a Máfia tem estado novamente no centro das atenções devido
à captura, pela polícia, de Bernardo Provenzano, o chefão da Cosa
Nostra, em 11 de abril passado.
(©
Folha de S. Paulo)
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