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Lojas de Palermo se unem contra a Máfia

07/05/2006

Manifestação contra a cobrança do "pizzo"

Comerciantes se recusam a pagar o "pizzo", propina cobrada por criminosos da cidade em troca de "proteção" 

STEVE SCHERER
DA BLOOMBERG

Um grupo de 106 lojas e empresas de Palermo, na Sicília, que se recusam a ceder à extorsão da Máfia, se uniu para combater a influência do crime organizado, 15 anos após o assassinato de um dono de confecção local que inspirou esse esforço.

A lista de empresas que não mais pagarão o "pizzo" -a propina cobrada mensalmente pela Máfia para garantir a "segurança" dos estabelecimentos-, divulgada na semana passada, foi feita por um grupo de ativistas antimáfia inspirado por Libero Grassi, que foi assassinado a tiros em 29 de agosto de 1991 por ter protestado publicamente contra a prática de extorsão adotada pela Máfia siciliana.

O grupo também compilou uma lista com mais de 7.000 consumidores que prometem fazer suas compras apenas nos pontos-de-venda onde os mafiosos não recolhem o "pizzo".

Mais de 80% das empresas de Palermo pagam um "imposto" mensal à Máfia siciliana, conhecida como "Cosa Nostra", segundo Piero Grasso, promotor-chefe do setor antimáfia da Itália.

Grupos criminosos conseguiram 28 bilhões (US$ 33,5 bilhões) da economia legal da Itália em 2004, informou o SOS Impresa, grupo de Roma anticorrupção.

"O "pizzo" tem pesado como chumbo sobre nossa economia", disse Vittorio Greco, que trabalha meio período como professor de filosofia na Universidade de Palermo e é um dos fundadores do Comitê Addiopizzo, ou "Adeus Pizzo". "Estamos tentando nos libertar desse peso."

A estratégia dos donos de estabelecimentos comerciais -que vão de agências de viagem a mercearias e bares- é enfrentar juntos a violência da Máfia, pois a força está na quantidade de adesões. Grassi tentou enfrentar o grupo criminoso sozinho e foi morto, disse Greco.

"Sem dignidade"

É a primeira vez que tantas empresas se pronunciaram publicamente contra as propinas cobradas pela Máfia em Palermo. A partir de agora, as empresas deverão formar uma associação "anticrime organizado" em Palermo para denunciar à polícia os pedidos de extorsão, disse Greco.

Uma associação desse tipo nunca foi formada em Palermo.

Na semana passada, o Comitê Addiopizzo apresentou a lista de empresários participantes a repórteres em Palermo, na Sicília, e a publicou em site na internet: http://www.addiopizzo.org.

A pequena organização antimáfia foi formada há cerca de dois anos após um grupo de aproximadamente dez estudantes universitários ter fixado adesivos em postes e outdoors no centro de Palermo. Os adesivos diziam: "Um povo que paga o "pizzo" é um povo sem dignidade".

A maioria dos estudantes era adolescente quando Grassi foi assassinado e quando os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino foram mortos por carros-bomba da Máfia em 1992, disse Greco.

O sentimento antimáfia em Palermo cresceu desde então, afirmou ele.
Recentemente, a Máfia tem estado novamente no centro das atenções devido à captura, pela polícia, de Bernardo Provenzano, o chefão da Cosa Nostra, em 11 de abril passado.

(© Folha de S. Paulo)

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