O Otello de Verdi não é a única adaptação
para o mundo da ópera da peça de Shakespeare. Décadas antes, o italiano
Gioachino Rossini, autor do célebre O Barbeiro de Sevilha, já
havia criado uma obra a partir da história do comandante mouro que,
enlouquecido pelo ciúmes, mata a própria mulher. A ópera não está entre
as favoritas do repertório, nunca havia sido apresentada no Brasil. Mas
ganhou sua primeira montagem por aqui na noite de ontem (terça) no
Festival Amazonas de Ópera, em Manaus.
Se Verdi recria com maestria o original, a
adaptação que Rossini faz da peça de Shakespeare é, no mínimo, seletiva.
Iago, o alferes que convence Otello da traição de Desdêmona, é uma
figura secundária; Cássio, supostamente o amante da jovem, nem mesmo
aparece na trama. De certa maneira, é como se Rossini tirasse de
Shakespeare aqueles elementos que lhe permitissem criar uma história
semelhante àquelas que vinha criando - Otello, em suas mãos, é antes de
mais nada uma história de amores frustrados.
A montagem amazonense é dirigida pelo mesmo Marcelo Lombardero
responsável pela estréia, no domingo, da produção do Otello de Verdi,
também em Manaus. O que já era um problema, agora só se reforçou: o
caráter estático da encenação, com os cantores virados para frente, sem
muita interação, visivelmente pouco à vontade sobre o palco. Vocalmente,
os grandes destaques foram o Iago de Sergio Weintraub e a Desdêmona de
Gabriella Pacce. Frente à Amazonas Filarmônica, o maestro Marcelo De
Jesus ofereceu uma leitura bastante cuidadosa, preocupada com as
dinâmicas e os detalhes da partitura de Rossini.