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Luca
Cordero Di Montezemolo |
Ele tirou o grupo
Fiat da maior crise de sua história. E agora
vem ao Brasil com R$ 2,6 bilhões para investir
em tecnologia e novos produtos
Por darcio Oliveira
Um bolo de dois metros de altura e um
parabéns a você entoado por um coro de 4 mil vozes esperam Luca Cordero
Di Montezemolo na fábrica da Fiat em Betim (MG) nesta terça-feira 28. O
presidente mundial do grupo italiano vai aproveitar sua passagem pelo
Brasil para comemorar com todos os funcionários locais os 30 anos da
filial, a mais importante da corporação. Montezemolo não podia faltar à
festa. Sob sua gestão, o grupo italiano saiu de uma crise profunda que
quase o levou à lona. Em 2005, lucrou 1, 4 bilhão de euros ante prejuízo
de 1,5 bilhão no ano anterior. Há duas semanas, o mercado comprovou a
recuperação: o valor das ações da Fiat mundial chegou a 10 euros, marca
que não se via desde 2002. No Brasil, a montadora, que em 2004 amargava
prejuízo de R$ 400 milhões, virou 2005 com lucro de R$ 511 milhões. E
como em festa que se preze não pode faltar presente, Montezemolo trará o
seu: a aprovação de um investimento de 1 bilhão de euros (R$ 2,6
bilhões) no Brasil para os próximos quatro anos. O capo não revelou
detalhes, mas o dinheiro servirá para modernização industrial,
tecnologia e lançamento de produtos. Quem sabe o Panda, veículo compacto
que ganhou o prêmio de carro do ano na Europa? Ou o Punto, a redenção da
Fiat, carro mais vendido na Europa em janeiro e fevereiro de 2006? O que
sabe mesmo é que Montezemolo, advogado formado em Roma e pós-graduado em
Nova York, chega ao País com credenciais de herói da indústria. Ele, que
já havia triplicado as vendas da Ferrari entre 2003 e 2005, agora leva
no currículo o resgate do maior grupo empresarial italiano. “A Fiat
voltou com tudo”, diz o executivo.
Divulgação
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R$
511 milhões foi o lucro da Fiat do Brasil em 2005. No ano
anterior, havia registrado R$ 400 milhões de prejuízo. A virada se
deve ao sucesso de novidades como o Idea |
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Montezemolo ficará uma semana no Brasil.
Chega na segunda 27, em Belo Horizonte, com uma delegação de mais de 150
empresários italianos – sem contar o staff de 30 pessoas, entre
secretárias, assessores e seguranças que o acompanham em suas “turnês”
internacionais. É que além de presidente mundial da Fiat e da Ferrari,
ele também comanda a Cofindustria, a poderosa entidade que reúne o
empresariado italiano. O objetivo da missão é estreitar os laços
comerciais com o Brasil. “A Itália é a pior economia de uma Europa que
já vai mal. Precisamos de alternativas”, diz Montezemolo. O primeiro
encontro será com empresários mineiros na sede da Federação das
Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Em seguida, a equipe italiana parte
para São Paulo, em reunião na Fiesp. O capo da Fiat quer mostrar que o
Brasil representa uma grande oportunidade. E dá como exemplo a própria
filial de seu grupo. Por aqui, além da Fiat Auto, todas as demais
divisões (Comau, CNH, TecSid, Iveco, Marelli) estão operando no lucro e
crescendo ano a ano. No mundo, a situação é parecida, com exceção da
Fiat Auto, que ainda registrou prejuízo de 183 milhões de euros em 2005.
O rombo era de 852 milhões de euros um ano antes.
“Talvez a grande virtude de Montezemolo
tenha sido saber escolher as pessoas certas para mudar a história da
Fiat”, afirma Cledorvino Belini, presidente da Fiat do Brasil. Entre as
pessoas certas, há uma em especial que desfruta da total confiança do
chefe: Sergio Marchionne. Juntos, Montezemolo e Marchionne delinearam o
plano de recuperação do grupo. A situação era dramática: 17 trimestres
consecutivos de prejuízo e dívidas que ultrapassavam os 9 bilhões de
euros. O principal problema estava mesmo na divisão de automóveis. Era
preciso mudar a forma de vender carro, privilegiando margem de lucro em
vez de volume. Isso só seria possível com novos veículos, mais modernos
e de grande qualidade, para consumidores de maior poder aquisitivo. Foi
o que dupla fez (leia box).
No Brasil, mercado totalmente diferente
da Europa, Montezemolo deixou o barco andar. A filial precisava apenas
de pequenas e precisas alterações como, por exemplo, mergulhar de cabeça
no bi-combustível. Ela foi a primeira a fazer carros 1.0 flex (Mille,
Siena e Palio). Estourou a banca. Também entrou em um novo segmento, o
de minivans, com o Idea, e apresentou ao Brasil uma nova categoria: a
linha adventure, de off-roads. O resultado de tudo isso é a reversão do
prejuízo em lucro e aumento de participação de mercado de 23,6% para
25%. “Em 2005, a Fiat conseguiu a liderança porque, melhor do que as
outras, desenvolveu uma gama de produtos sob medida para o gosto dos
brasileiros”, afirma Conrado Capellano, diretor da consultoria Roland
Berger. Além disso, o fato de ter uma única fábrica totalmente
integrada, com 4 linhas de montagem e seis plataformas, deu ampla
vantagem de custos em relação aos concorrentes Ford, GM e Volks que têm
mais de uma planta no Brasil. Montezemolo tem razões de sobra para
comemorar os 30 anos da Fiat.
Colaborou Rosenildo G. Ferreira
(©
ISTO É Dinheiro)
OS SEGREDOS DO CAPO
Reuters
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Ao lado de Sergio Marchionne, Montezemolo
delineou o plano de resgate da Fiat. Eis os principais pontos:
• Grande parte das perdas do grupo vinham
da divisão de automóveis. Era preciso mudar a forma de vender carro.
Primeiro ponto: privilegiar margem de lucro em vez de volume. O
resultado imediato foi queda de 15% do volume de vendas na Europa e
10,2% no resto do mundo – excluindo-se o Brasil (que registrou aumento
de 12,9%). Menos carro, no entanto, significou mais dinheiro. A Fiat
Auto conseguiu reduzir o prejuízo de 852 milhões de euros em 2004 para
183 milhões em 2005.
• O segundo ponto foi justamente lançar
carros que mudassem a imagem da companhia. O marketing da Fiat sempre
foi preço e versatilidade. Era preciso mostrar que os carros tinham
qualidade também. Três modelos contribuíram para a nova estratégia:
Panda, Punto e o sedan Croma, além de novidades na linha Alfa Romeo e
Lancia.
• Montezemolo e Marchionne também
lançaram mão de demissões para estancar a sangria financeira. E com a
redução do volume de vendas foi obrigada ainda a dar seguidas férias
coletivas para o pessoal de fábrica.
• Com a operação ajustada, faltava apenas
renegociar a dívida, que somava 9,4 bilhões de euros em dezembro de
2004. A Fiat vendeu algumas empresas, aproveitou o dinheiro pago pela GM
para se desligar da parceria com ela (1 bilhão de euros) e converteu as
pendências com bancos credores em ações. Em dezembro passado, a dívida
caiu para 3 bilhões de euros.
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ISTO É Dinheiro) |