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Bravo, Montezemolo!

13/04/2006

Luca Cordero Di Montezemolo


 

Ele tirou o grupo Fiat da maior crise de sua história. E agora vem ao Brasil com R$ 2,6 bilhões para investir em tecnologia e novos produtos


Por darcio Oliveira

Um bolo de dois metros de altura e um parabéns a você entoado por um coro de 4 mil vozes esperam Luca Cordero Di Montezemolo na fábrica da Fiat em Betim (MG) nesta terça-feira 28. O presidente mundial do grupo italiano vai aproveitar sua passagem pelo Brasil para comemorar com todos os funcionários locais os 30 anos da filial, a mais importante da corporação. Montezemolo não podia faltar à festa. Sob sua gestão, o grupo italiano saiu de uma crise profunda que quase o levou à lona. Em 2005, lucrou 1, 4 bilhão de euros ante prejuízo de 1,5 bilhão no ano anterior. Há duas semanas, o mercado comprovou a recuperação: o valor das ações da Fiat mundial chegou a 10 euros, marca que não se via desde 2002. No Brasil, a montadora, que em 2004 amargava prejuízo de R$ 400 milhões, virou 2005 com lucro de R$ 511 milhões. E como em festa que se preze não pode faltar presente, Montezemolo trará o seu: a aprovação de um investimento de 1 bilhão de euros (R$ 2,6 bilhões) no Brasil para os próximos quatro anos. O capo não revelou detalhes, mas o dinheiro servirá para modernização industrial, tecnologia e lançamento de produtos. Quem sabe o Panda, veículo compacto que ganhou o prêmio de carro do ano na Europa? Ou o Punto, a redenção da Fiat, carro mais vendido na Europa em janeiro e fevereiro de 2006? O que sabe mesmo é que Montezemolo, advogado formado em Roma e pós-graduado em Nova York, chega ao País com credenciais de herói da indústria. Ele, que já havia triplicado as vendas da Ferrari entre 2003 e 2005, agora leva no currículo o resgate do maior grupo empresarial italiano. “A Fiat voltou com tudo”, diz o executivo.

Divulgação
R$ 511 milhões foi o lucro da Fiat do Brasil em 2005. No ano anterior, havia registrado R$ 400 milhões de prejuízo. A virada se deve ao sucesso de novidades como o Idea  

Montezemolo ficará uma semana no Brasil. Chega na segunda 27, em Belo Horizonte, com uma delegação de mais de 150 empresários italianos – sem contar o staff de 30 pessoas, entre secretárias, assessores e seguranças que o acompanham em suas “turnês” internacionais. É que além de presidente mundial da Fiat e da Ferrari, ele também comanda a Cofindustria, a poderosa entidade que reúne o empresariado italiano. O objetivo da missão é estreitar os laços comerciais com o Brasil. “A Itália é a pior economia de uma Europa que já vai mal. Precisamos de alternativas”, diz Montezemolo. O primeiro encontro será com empresários mineiros na sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Em seguida, a equipe italiana parte para São Paulo, em reunião na Fiesp. O capo da Fiat quer mostrar que o Brasil representa uma grande oportunidade. E dá como exemplo a própria filial de seu grupo. Por aqui, além da Fiat Auto, todas as demais divisões (Comau, CNH, TecSid, Iveco, Marelli) estão operando no lucro e crescendo ano a ano. No mundo, a situação é parecida, com exceção da Fiat Auto, que ainda registrou prejuízo de 183 milhões de euros em 2005. O rombo era de 852 milhões de euros um ano antes.

“Talvez a grande virtude de Montezemolo tenha sido saber escolher as pessoas certas para mudar a história da Fiat”, afirma Cledorvino Belini, presidente da Fiat do Brasil. Entre as pessoas certas, há uma em especial que desfruta da total confiança do chefe: Sergio Marchionne. Juntos, Montezemolo e Marchionne delinearam o plano de recuperação do grupo. A situação era dramática: 17 trimestres consecutivos de prejuízo e dívidas que ultrapassavam os 9 bilhões de euros. O principal problema estava mesmo na divisão de automóveis. Era preciso mudar a forma de vender carro, privilegiando margem de lucro em vez de volume. Isso só seria possível com novos veículos, mais modernos e de grande qualidade, para consumidores de maior poder aquisitivo. Foi o que dupla fez (leia box).

No Brasil, mercado totalmente diferente da Europa, Montezemolo deixou o barco andar. A filial precisava apenas de pequenas e precisas alterações como, por exemplo, mergulhar de cabeça no bi-combustível. Ela foi a primeira a fazer carros 1.0 flex (Mille, Siena e Palio). Estourou a banca. Também entrou em um novo segmento, o de minivans, com o Idea, e apresentou ao Brasil uma nova categoria: a linha adventure, de off-roads. O resultado de tudo isso é a reversão do prejuízo em lucro e aumento de participação de mercado de 23,6% para 25%. “Em 2005, a Fiat conseguiu a liderança porque, melhor do que as outras, desenvolveu uma gama de produtos sob medida para o gosto dos brasileiros”, afirma Conrado Capellano, diretor da consultoria Roland Berger. Além disso, o fato de ter uma única fábrica totalmente integrada, com 4 linhas de montagem e seis plataformas, deu ampla vantagem de custos em relação aos concorrentes Ford, GM e Volks que têm mais de uma planta no Brasil. Montezemolo tem razões de sobra para comemorar os 30 anos da Fiat.

Colaborou Rosenildo G. Ferreira

(© ISTO É Dinheiro)


OS SEGREDOS DO CAPO

Reuters
 

Ao lado de Sergio Marchionne, Montezemolo delineou o plano de resgate da Fiat. Eis os principais pontos:

• Grande parte das perdas do grupo vinham da divisão de automóveis. Era preciso mudar a forma de vender carro. Primeiro ponto: privilegiar margem de lucro em vez de volume. O resultado imediato foi queda de 15% do volume de vendas na Europa e 10,2% no resto do mundo – excluindo-se o Brasil (que registrou aumento de 12,9%). Menos carro, no entanto, significou mais dinheiro. A Fiat Auto conseguiu reduzir o prejuízo de 852 milhões de euros em 2004 para 183 milhões em 2005.

• O segundo ponto foi justamente lançar carros que mudassem a imagem da companhia. O marketing da Fiat sempre foi preço e versatilidade. Era preciso mostrar que os carros tinham qualidade também. Três modelos contribuíram para a nova estratégia: Panda, Punto e o sedan Croma, além de novidades na linha Alfa Romeo e Lancia.

• Montezemolo e Marchionne também lançaram mão de demissões para estancar a sangria financeira. E com a redução do volume de vendas foi obrigada ainda a dar seguidas férias coletivas para o pessoal de fábrica.

• Com a operação ajustada, faltava apenas renegociar a dívida, que somava 9,4 bilhões de euros em dezembro de 2004. A Fiat vendeu algumas empresas, aproveitou o dinheiro pago pela GM para se desligar da parceria com ela (1 bilhão de euros) e converteu as pendências com bancos credores em ações. Em dezembro passado, a dívida caiu para 3 bilhões de euros.

© ISTO É Dinheiro)

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