MATOU E FOI VISTO A revista italiana Panorama entrevistou Mutti. Ele contou que Battisti matou pessoas. "Eu e ele éramos os únicos operativos do grupo"
O que ainda não se sabia sobre ele
O terrorista Cesare Battisti teve,
sim, amplo direito de defesa e foi delatado por mais de uma pessoa.
Tarso Genro concedeu-lhe refúgio ignorando esses fatos, mas os fatos
são teimosos
Laura Diniz
Na Carta ao Leitor de sua
última edição, VEJA deu crédito a Tarso Genro, ministro da Justiça,
que, depois de "estudo cuidadoso" dos processos italianos, disse não
ter encontrado neles provas concretas que colocassem Cesare Battisti
na cena dos quatro homicídios pelos quais ele havia sido condenado à
prisão perpétua em seu país. Battisti, agraciado por Genro com o
status de refugiado político no Brasil, foi um dos líderes do grupo
extremista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), desbaratado há
mais de vinte anos pela Justiça italiana graças à delação premiada
de Pietro Mutti, um de seus fundadores. A reportagem de VEJA refez
na semana passada o mesmo estudo que Tarso Genro garantiu ter feito.
Além de ler os autos de cinco tribunais internacionais, a revista
entrevistou magistrados italianos diretamente responsáveis pela
investigação dos crimes de Battisti. Os resultados obtidos desmentem
em sua essência todos os argumentos do ministro da Justiça
brasileiro. Havia a possibilidade de Tarso estar certo, mas agora há
a certeza de que ele está errado.
Ao contrário do que sustentou Tarso
Genro, Battisti teve amplo direito de defesa e as provas contra ele
vieram de testemunhos de diversas pessoas, e não apenas da delação
premiada de Mutti. O ministro brasileiro colocou em suspeição as
confissões de Mutti por duas razões. Primeiro, por entender que ele
se beneficiou delas ao pôr toda a culpa sobre os ombros de Battisti.
Segundo, porque Mutti estaria vivendo sob identidade falsa e não
poderia ser encontrado para eventualmente inocentar Battisti no caso
de o processo ser reaberto. Os fatos desmentem Tarso Genro em ambos
os casos. Primeiro, Mutti cumpriu oito anos de cadeia por sua
parceria terrorista com Battisti e nada teria a ganhar incriminando
injustamente o colega, já que delatou o grupo todo. Segundo, Mutti
não mudou de identidade e pode ser facilmente encontrado – como
efetivamente o foi na semana passada por repórteres da revista
italiana Panorama, que, depois de saberem da decisão e dos
argumentos do ministro brasileiro, também foram atrás do
ex-terrorista para elucidar o caso.
Ficou claro como cristal que:
• Battisti teve direito a ampla
defesa. O histórico da defesa é narrado em minúcias no documento
em que a Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo,
justifica a decisão de extraditar o terrorista para a Itália.
• A condenação de Battisti não se
deu com base em um único testemunho. "Numerosos terroristas
confirmaram as declarações de Mutti, assim como outras testemunhas",
afirmou a VEJA o procurador da República de Milão Armando Spataro. A
revista Panorama reproduz o depoimento de uma dessas
testemunhas. Maria Cecília B, ex-namorada do terrorista, relatou às
autoridades italianas: "Na primavera de 1979, Battisti, ao
descrever-me a experiência de matar uma pessoa, fez referência ao
homicídio de Santoro (o agente penitenciário Antonio Santoro)
indicando a si mesmo como um dos autores". Em documento da Justiça
italiana obtido por VEJA, testemunhas oculares relatam a presença de
Battisti em dois dos homicídios.
• Mutti, o delator premiado, não
mudou de identidade nem está desaparecido. Entrevistado por
Panorama, relatou como ele e Battisti mataram um agente
penitenciário.
A polêmica está longe de terminar. O
presidente Lula já disse à Itália que o Brasil não vai recuar da
decisão. O governo italiano avisou que vai usar todos os recursos
jurídicos para conseguir a extradição. No mês que vem, quando
termina o recesso do Judiciário, os ministros do Supremo Tribunal
Federal terão de responder a uma pergunta fundamental para o
desfecho do caso: pode o Executivo definir se um crime é ou não
político, como fez Tarso? A resposta a essa questão é crucial, uma
vez que, pela lei brasileira, quem comete crime político tem direito
a refúgio e não pode ser extraditado. Assim, se o STF decidir que
não cabe ao Executivo, ou seja, a Tarso Genro, decidir sobre a
natureza dos crimes de Battisti, a consequência da ação do ministro
– a concessão do refúgio – perderá validade. Nesse caso, a decisão
de abrigar ou não o terrorista no país ficará a cargo do STF. Estará
em melhores mãos.
Il Brasile insiste e non torna indietro: a Cesare Battisti va riconosciuto
lo status di rifugiato politico anche se l’Italia è uno stato di diritto con
una magistratura democratica. Il Governo si prepara comunque alle
contromosse, forte del pieno appoggio del Quirinale.
Soprattutto quelle legali, attraverso la strada dei ricorsi: di ogni
strumento giuridico “previsto dall’ordinamento brasiliano e da quello
internazionale per sostenere le ragioni poste a base della richiesta di
estradizione di Battisti”. A sottolinearlo è lo stesso Presidente della
Repubblica, Giorgio Napolitano, che oggi ha ricevuto dal presidente
brasiliano, Inacio Lula da Silva, la risposta alla lettera che gli aveva
inviato una settimana fa, dove esprimeva senza mezzi termini “rammarico” per
la concessione dello status di rifugiato politico all’ex terrorista dei Pac,
condannato all’ergastolo per quattro omicidi, compiuti tra il 1977 ed il
1979.
Napolitano, che stasera ha ricevuto il ministro degli Esteri Franco Frattini
con cui ha condiviso la lettera di Lula, dice così di “apprezzare” la strada
dei ricorsi intrapresa dal governo Berlusconi. Ricorsi e “strade
percorribili” che - fa sapere una nota della Farnesina - saranno valutati
“con la massima urgenza per contribuire alla revisione del caso”.
Sui contenuti della lettera vige il riserbo. Brasilia ha fatto sapere che
non ne divulgherà il contenuto, il Quirinale ne ha solo sottolineato alcuni
passaggi. Tra cui quello secondo il quale Lula ha fatto riferimento alle
“basi giuridiche, interne e internazionali, della decisione presa dalle
competenti autorità brasiliane per il caso Battisti, nella sua specificità”.
E, ancora, che Lula “ha voluto esprimere la piena considerazione del suo
paese ‘per la magistratura italiana e per lo stato di diritto democratico
vigente in Italia e fiducia nel carattere democratico, umanitario e
legittimo’ del nostro ordinamento giuridico”. Una sottolineatura che
lascerebbe intendere - secondo alcune fonti che seguono la vicenda - spazi
di “manovra” per una positiva soluzione della vicenda sul fronte legale,
quello cioè dei ricorsi giuridici.
Mentre sembra così, almeno per ora, allontanarsi l’ipotesi di contromosse
più dure sul piano diplomatico, come il richiamo dell’ambasciatore italiano
a Brasilia, Michele Valensise, gli strumenti giuridici sul tappeto
sarebbero, sostanzialmente, due: la presentazione di un’istanza di ritiro
della decisione, che la diplomazia italiana in Brasile dovrebbe presentare
direttamente al ministro della giustizia, Tarso Genro, autore della
decisione. O, in alternativa - spiegano fonti legali - un ricorso alla Corte
Suprema Federale di Giustizia. Ricorso più volte ipotizzato nei giorni
scorsi dal ministro Frattini, che sarebbe motivato dal fatto che la
decisione sarebbe in contrasto con la Convenzione di Ginevra sui rifugiati
perchè non esisterebbe nessuna motivazione politica contro Battisti.
Lula ha comunque tenuto, secondo quanto reso noto dal Quirinale, a
riaffermare, nella chiusa della missiva, “i legami storici e culturali che
uniscono Brasile e Italia e della volontà di rafforzare le relazioni
bilaterali tra i due paesi”. Legami forti e tradizionali quindi, che
dovrebbero portare il premier Silvio Berlusconi a compiere in tempi rapidi
una visita ufficiale nel paese: visita, mai annunciata formalmente, che è
oggi in ’stand by’. Le due diplomazie sono in attesa di vedere come si
svilupperà il caso Battisti.
L’ex terrorista resta intanto un rifugiato politico per il Brasile e,
nonostante sembrasse imminente la sua liberazione, al momento resta ancora
in carcere in attesa della decisione della Corte Suprema, attesa per inizio
febbraio con la ripresa dell’attività dopo le ferie estive. L’Italia -
secondo quanto riferito da fonti di stampa brasiliane - avrebbe già
presentato una petizione al Supremo Tribunale, chiedendo di essere ascoltata
prima della decisione sull’eventuale scarcerazione.
Sul fronte interno, intanto, continuano le prese di posizione, con il
ministro per le Politiche europee, Andrea Ronchi, che torna a commentare
come “inaccettabile” la decisione” mentre Maurizio Costanzo lancia un
appello agli italiani - dal palco del Maurizio Costanzo Show in
onda domenica 25 su Canale5 - a inviare “cartoline postali all’ambasciata
del Brasile a Roma” scrivendo “vergogna o estradate Battisti”. Anche in
Brasile sono comunque in molti a non pensarla come il ministro della
Giustizia verde-oro Genro. Almeno stando a quanto riporta O Estado de S.
Paulo, il più autorevole quotidiano di San Paolo del Brasile, che nella
sua edizione online mette in evidenza un sondaggio in cui si chiede: “Siete
d’accordo sulla concessione dello status di rifugiato politico all’italiano
Cesare Battisti?”