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Uma escrita em Si, a obra do descendente La Greca em Recife

15/02/2008

Obras de La Greca, reveladoras da influência do modernismo italiano, em exposição no Museu que organizou antes de morrer
 

Mais jovem dos 12 filhos de  Vincenzo La Greca e Teresa Carlomagno, italianos que se conheceram no Brasil, Murilo La Greca é um descendente que delineou, com traços definitivos, seu nome entre os artistas nacionais mais importantes. Além das obras e dos ensinamentos que deixou como professor, sua contribuição para a arte brasileira também está consubstanciada no museu que leva o seu nome, em Recife. Que agora, aliás, está reabrindo a exposição Uma Escrita em Si, que agrupa 60 telas e três coleções – Paisagens, Retratos/Auto Retratos e Pintura Histórica - do autor, reveladoras da influência do modernismo italiano, sobretudo a vertente renascentista desse movimento.

O acervo reúne pinturas, desenhos e fotografias, uma das grandes paixões do artista, e pode ser visitado, gratuitamente,  de terça à sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h e, aos sábados, durante o expediente da tarde. O endereço do Museu: rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366, Parnamirim.

A curadora da exposição, Joanna D’arc de Souza Lima, explica que as fontes de pesquisa para montar o trabalho foram cartas, fotografias, escritos, recortes de jornais de época, catálogos de exposições, entrevistas e a própria obra do artista. “Mais do que um artista tradicional e acadêmico, Murillo era efetivamente integrado a um projeto de arte moderna, mesmo que de uma forma mais conservadora”, frisou.

La Greca começou a se interessar pela arte quando ainda era uma criança, nasceu em Palmares, em 1899, passando a pintar regularmente com doze anos de idade. Aos dezoito anos deixou o Recife e foi estudar no Rio de Janeiro, no atelier dos irmãos Bernadelli.

Entre 1919 e 1925, residiu em Roma, onde se matriculou em três escolas de arte. Durante esse período, ele foi estimulado por seu irmão mais velho, José LaGreca, que sempre financiou suas viagens para estudar.

Voltou ao Brasil em 1926 e conquistou o reconhecimento de seus conterrâneos, chegando a receber premiações em diversos salões nacionais, entre elas uma medalha de prata no Salão Oficial de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1927, com o quadro Os últimos fanáticos de Canudos.

Durante sua segunda estada no Rio de Janeiro, La Greca conheceu o pintor Cândido Portinari, com quem chegou a dividir apartamento. Mesmo depois de voltar a morar no Recife, eles continuaram se correspondendo por longo tempo. Apesar de amigos, La Greca rejeitava as obras de Portinari por estarem fora dos parâmetros da arte clássica.


 
Execução de Frei Caneca, um dos quadros mais famosos do filho de Vincenzo e Teresa. Foto: Divulgação

Tornou-se professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde conheceu e se apaixonou pela aluna Sílvia Decusati, também de origem italiana. Em 1936 eles casaram e foram morar na Itália, onde La Greca dedicou-se ao estudo dos afrescos. De volta ao Brasil, um mês antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial, ele recebeu o convite para pintar os afrescos da Basílica de Nossa Senhora da Penha, no bairro de São José, no Recife.

No Recife, exerceu atividade de professor da Escola de Belas Artes, instituição que ajudou a formar. Nesta época teve seu trabalho desprestigiado por gerações de artistas mais jovens, seguidores das novidades preconizadas pelas vanguardas modernistas, o que o fez afastar-se das lides artísticas por muito tempo, e deixando de promover exposições. Apesar disso, esse foi o período em que ele produziu alguns de seus trabalhos mais famosos, como Primeira aula de Medicina, encomendado pela Universidade Federal de Pernambuco e os retratos do engenheiro Vauthier e do Conde da Boa Vista, para a sede do Teatro de Santa Isabel. Destacou-se por pintar temas históricos, sendo um de seus quadros mais famosos O fuzilamento de Frei Caneca.

Com a morte da sua esposa em 1967, seu ritmo de produção diminuiu consideravelmente. Sílvia era para ele uma verdadeira companheira de profissão e musa inspiradora, tendo sido retratada em diversos de seus quadros.

Em homenagem à esposa, Murillo quis fundar um museu, onde constaria todo o seu acervo e haveria uma sala dedicada aos trabalhos de Sílvia, que também era pintora. Para realizar este sonho, conseguiu o apoio da prefeitura da cidade do Recife, sendo que o museu foi criado no mesmo ano de sua morte, 1985,  levando seu nome, Museu Murillo La Greca.

Comportando um acervo de 1.400 desenhos, com técnicas de fusain, crayon, pastel e sanguínea, o museu ainda possui discos, livros e mobiliários expostos em caráter de longa duração em quatro das oito salas de exposição. Há também 160 pinturas, entre paisagens, retratos e impressionistas e cartas, trocadas com Portinari e Giacometti. Foi nesse acervo que La Greca deixou sua marca inconfundível, tendo o seu forte na diversidade de sua obra artística, da aproximação com a arte contemporânea. Esse rico patrimônio está à disposição da população recifense, de forma atualmente mais intensa e orgânica.

Para divulgar e oxigenar este rico acervo está sendo desenvolvido um trabalho educativo, trazendo o Museu para um espaço mais dinâmico, incentivando a formação através de oficinas e cursos, além de curadorias como fomento à produção artística de nossa cidade. O Projeto Amplificadores é uma das estratégias que compõem o conjunto de atividades que reforçam a relação do Museu com artistas, curadores e a sociedade em geral.

(© Oriundi)

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