Retornar ao índice ItaliaOggi

   

Notizie d'Italia

   

 

Vínculo entre a máfia e a política permanece o ponto fraco da Itália

08/02/2008

Salvatore Cuffaro
 

Jean-Jacques Bozonnet
Correspondente em Roma


No mesmo momento em que o presidente da República italiano, Giorgio Napolitano, terminava as consultas visando a solucionar "a situação complicada e difícil" provocada pela queda do governo Prodi, o relatório anual da Direção Nacional Antimáfia (DNA) denunciava oficialmente uma das causas desta situação. O documento, que foi publicado na terça-feira, 29 de janeiro, em Palermo (Sicília), apresentou evidências da existência das ligações perigosas cultivadas por políticos italianos com os chefes de clãs mafiosos, sobretudo durante os períodos eleitorais, em particular no sul do país.

No decorrer do ano passado, cerca de vinte processos foram abertos na Campânia, em Calábria, na Sicília, fundamentados no artigo 416 do código penal que sanciona "a distribuição de dinheiro em troca da promessa de votos eleitorais, originada de uma associação mafiosa". Essas ações judiciárias têm como alvos não só eleitos de todos os partidos, como também um grande número de responsáveis de administrações públicas. Na segunda-feira, 28 de janeiro, a prisão em Calábria de 18 pessoas, entre as quais um conselheiro regional e diversos dirigentes dos serviços regionais de saúde, contribuiu para escorar as estatísticas divulgadas pelo procurador nacional antimáfia, Pietro Grasso.

Esta importante operação policial, realizada como parte do inquérito sobre a morte do vice-presidente da região da Calábria, Francesco Fortugno, assassinado em 14 de outubro de 2005, "demonstra a existência de vínculos entre a máfia, os homens políticos, os serviços de saúde e a administração pública", explicaram os carabinieri. Francesco Fortugno havia sido alvejado com cinco balas por um comando de homens mascarados, no dia das eleições primárias organizadas pela esquerda, quando ele estava saindo de um centro de votação na sua cidade de Locri. Os investigadores haviam imediatamente diagnosticado "um crime político de tipo mafioso", mas o motivo do crime já foi desvendado e os seus autores confundidos, conforme demonstrou o relatório do inquérito, de mais de 1.000 páginas, que foi divulgado pelos magistrados de Reggio Calabria: o administrador Fortugno havia sido eleito inesperadamente na lista da Margarida (centro-esquerda), no lugar do candidato apoiado pela Ndrangheta, a máfia local. A sua eleição "vinha questionar, e até mesmo destruía, os equilíbrios políticos e econômicos impostos pela máfia", escreveram os juízes.

O assento conquistado por Fortugno havia sido herdado pelo candidato que aparecia logo depois dele na lista da Margarida, Domenico Crea, que desde então havia mudado de legenda, passando para a centro-direita, e que acaba de ser indiciado por "cumplicidade com uma associação mafiosa". O inquérito apurou, entre outros, as incontáveis intervenções de Crea no sentido de condicionar o sistema calabrês de saúde pública não só em proveito da Ndrangheta, como também do seu enriquecimento pessoal, por intermédio de uma clínica privada administrada pelo seu filho.

Segundo o ministério público antimáfia de Reggio Calabria, a eleição inesperada de Francesco Fortugno, um homem político pouco conciliador, "havia privado a Ndrangheta do seu intermediário ideal". Domenico Crea não havia obtido mais do que 237 votos em Locri, em vez dos 500 a 700 votos que lhe haviam sido anunciados como "garantidos" por Alessandro Marciano, um mafioso que foi preso em junho de 2006 sob a acusação de ser um dos supostos mandantes do assassinato. As 18 prisões e os 27 indiciamentos com aberturas de inquéritos que foram efetuados na segunda-feira, literalmente decapitaram a organização do sistema de saúde da Calábria, atingindo um grande número de chefes de serviço e de diretores de administração pública. A Calábria é "irrecuperável", comentou com certo desespero o presidente da região, Agazio Loiero (centro-esquerda), ele mesmo envolvido num bom número de casos judiciários que dizem respeito ao sistema de saúde.

Vontade de permanecer no cargo

Na região de Nápoles, também foram as relações entre o poder político e o setor da saúde que valeram sérios problemas a Clemente Mastella, o ex-ministro da justiça de Romano Prodi. Mastella foi obrigado a pedir demissão depois que a sua mulher, Sandra Lonardo Mastella, a presidente de um conselho regional da Campânia, foi acusada de ter exercido pressões com o objetivo de obter nomeações para cargos de responsabilidade. Após ter se demitido do seu cargo, Clemente Mastella, que é o líder do pequeno partido democrata-cristão Udeur, contribuiu então para a queda do governo Prodi ao retirar o seu partido da coalizão. A colocação da sua mulher sob regime de prisão domiciliar foi suavizada, na terça-feira, pelo tribunal de Nápoles: ela pode sair da sua casa, mas não da sua comuna.

Condenado a cinco anos de prisão por ter avisado os mafiosos de que eles estavam sendo alvos de escutas telefônicas no quadro de um inquérito judiciário, o presidente da região da Sicília, Salvatore Cuffaro, membro da União dos Democratas do Centro (UDC), pediu demissão no sábado, 26 de janeiro. A sua vontade explícita de permanecer no cargo apesar da condenação havia provocado uma onda de protestos, inclusive de políticos da direita.

Em 2007, no momento em que o seu processo estava em curso, e apesar das suspeitas de manter relações secretas com a máfia, Salvatore Cuffaro havia sido reeleito com grande facilidade para um segundo mandato. O seu chefe hierárquico, Pierferdinando Casini, já teria lhe assegurado de que ele encabeçaria a liste da UDC para a disputa pelo Senado em caso de eleições legislativas antecipadas. (LE MONDE)

Tradução: Jean-Yves de Neufville

(© UOL Mídia Global)


Ex-comunistas rejeitam aliança na Itália

Partido Democrático, de Walter Veltroni, tem mais chances contra Berlusconi se disputar sozinho; pleito será em abril

Presidente dissolve Câmara e Senado; crise começou após queda de Prodi há duas semanas, em decorrência da quebra da coalizão no poder

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a Itália já mobilizada pela campanha para as eleições que renovarão a Câmara e o Senado em 13 e 14 de abril, Walter Veltroni (foto), líder do Partido Democrático, maior formação de centro-esquerda, anunciou ontem que não fará coligações e concorrerá com candidatos próprios em todos os distritos.

O presidente Giorgio Napolitano assinou ontem à tarde, conforme previsto, decreto de dissolução do Parlamento, pondo fim à segunda legislatura mais curta do país no pós-Guerra. A crise foi desencadeada em fins de janeiro, quando o Senado negou voto de confiança ao premiê Romano Prodi, no poder havia só 20 meses.

Napolitano qualificou a dissolução de "uma anomalia" e lamentou que os italianos votassem com três anos de antecedência, sem uma nova lei eleitoral que desse mais estabilidade aos próximos gabinetes.

O bloco conservador, liderado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi, é dado como favorito nas pesquisas de intenção de voto. O magnata da mídia poderá chefiar pela terceira vez um governo italiano.

Veltroni, que é também prefeito de Roma, afirmou que disputar eleições sem estar coligado "é uma grande novidade política", mas que a "experiência é necessária" em razão da fragmentação de propostas que enfraqueceu o governo Prodi.

"Cada eleitor, ao votar no PD, saberá que estará votando em posições claras e unívocas, e não precisaremos mediar divergências entre 18 partidos aliados", afirmou.

Por detrás dessa posição há, no entanto, um cálculo eleitoral. O instituto Ipsos revela que uma coligação liderada pelo PD ficaria hoje dez pontos atrás do bloco de Berlusconi. Mas se o partido de Veltroni disputar sozinho, como ele pretende, essa diferença cairia para três pontos. Ou seja, no caso de reverter o atual quadro e obter a maioria parlamentar, Veltroni estaria em condições de impor aliança com os partidos menores.

"Bandeja de prata"

Ainda ontem, quatro partidos à esquerda do PD enviaram carta a Veltroni pedindo para que ele reconsiderasse sua decisão, "que entregaria a Itália de presente numa bandeja de prata a Berlusconi".

Esses partidos propõem, como alternativa, concorrer com um candidato próprio a premiê. Seria Fausto Bertinotti, presidente da Câmara dissolvida e líder do Partido da Refundação Comunista -que rejeitou as sucessivas mudanças e fusões do ex-Partido Comunista Italiano, o atual PD, de Prodi, Napolitano e Veltroni.

Quanto a Berlusconi, tudo indicava ontem que sua coligação -com a extrema direita, autonomistas lombardos e católicos conservadores- permanecia de pé. Emissários do ex-premiê procuravam atrair ao bloco a Udeur, pequeno partido de centro chefiado por Clemente Mastella.

Mastella, ex-deputado e hoje senador, foi o ministro do Trabalho do governo de direita de Berlusconi e, no último gabinete de centro-esquerda, ministro da Justiça de Romano Prodi. Foi sua saída da coalizão, forçada por acusações de corrupção contra sua mulher, que provocou a atual crise política.

(© Folha de S. Paulo)

Publicidade

Pesquise no Site ou Web

Google
Web ItaliaOggi

Notizie d'Italia | Gastronomia | Migrazioni | Cidadania | Home ItaliaOggi