Governo interino fracassa e presidente tem que ceder à oposição; Berlusconi é favorito ao cargo de premiê Associated Press e Reuters ROMA - O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, dissolveu formalmente o Parlamento nesta quarta-feira, 6, segundo um porta-voz, preparando o país para realizar eleições antecipadas, provavelmente em meados de abril. O pleito poderá marcar o retorno ao poder do magnata da mídia Silvio Berlusconi. O presidente tomou a decisão depois que o governo de centro-esquerda do premiê Romano Prodi caiu no mês passado e os esforços posteriores para a formação de um governo interino para mudar as leis eleitorais fracassou. A data da eleição foi confirmada numa reunião de gabinete para 13 e 14 de abril, dando tempo hábil para as campanhas. Pela lei, a eleição tem de ser realizada até 70 dias depois da dissolução do parlamento. O primeiro-ministro interino da Itália, Romano Prodi, confirmou sua decisão de não voltar a se apresentar como candidato nas próximas eleições gerais. "Espero que minha decisão contribua para serenar os ânimos" e que sirva para "uma campanha serena e pacífica". Prodi disse que, no entanto, continuará no Partido Democrático e apoiará o líder dessa legenda, o atual prefeito de Roma, Walter Veltroni. A Itália afundou numa crise política quando o governo Prodi desmoronou em 24 de janeiro depois de apenas 20 meses no poder. Em uma seqüência dramática de acontecimentos, o premiê Romano Prodi renunciou no mês de janeiro, depois de aliados deixarem sua coalizão e de as tentativas de montar um governo interino fracassarem. Prevaleceram os pedidos de Berlusconi por uma eleição imediata. A tentativa de Napolitano de conseguir apoio em todos os partidos para reformar as confusas regras eleitorais italianas antes de uma nova eleição enfrentou dura resistência de Berlusconi. "Lamento hoje ter que convocar os eleitores de volta às urnas sem essas reformas terem sido aprovadas", disse Napolitano após ele e Prodi, hoje o premiê interino, assinarem um decreto para dissolver o Parlamento três anos antes do previsto. Berlusconi, um bilionário de 71 anos que foi primeiro-ministro duas vezes, aparece com vantagem nas pesquisas de opinião, batendo a fragmentada centro-esquerda de Prodi por até 16 pontos. O ex-premiê rechaçou qualquer acordo para a emergência de um governo provisório, já que as atuais leis eleitorais foram aprovadas no final de seu mandato em 2006 e tendem a beneficiar sua coalizão de centro-direita. O rival dele será o prefeito de Roma, Walter Veltroni, de 52 anos, que havia dado apoio para mudar as regras eleitorais que foram amplamente responsabilizadas pelas fragilidade do governo Prodi.
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Estadão) Itália já planeja eleições para abrilDissolução do Parlamento vai ser oficializada hoje; pelas pesquisas, Berlusconi seria o novo premiê Presidente italiano cumpriu ritual pré-dissolução; bloco de esquerda será chefiado pelo prefeito de Roma, mas conservadores são favoritos DA REDAÇÃO O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, anunciará hoje a dissolução da Câmara e do Senado, no desfecho de uma crise política que poderá levar novamente ao poder o líder do bloco conservador e magnata da mídia Silvio Berlusconi. A dissolução se tornou inevitável desde que Franco Marini, presidente do Senado, tentou por quatro dias, até segunda-feira, montar um governo-tampão, com todos os partidos e a missão de negociar uma reforma eleitoral que desse ao país gabinetes mais estáveis. O governo anterior, chefiado por Romano Prodi à frente de uma coalizão de centro-esquerda, caiu no fim de janeiro por perder um voto de confiança no Senado. Foi o 61º governo na Itália do pós-guerra, no poder por apenas 20 meses. Prodi e seu bloco haviam derrotado o então premiê Berlusconi em abril de 2006 por uma curtíssima margem de 25 mil votos num eleitorado de 40 milhões. A lei eleitoral em vigor deu a Prodi 55% das cadeiras da Câmara. No Senado, a maioria era de poucas cadeiras. O bloco de centro-esquerda irá às urnas sob a liderança de Walter Veltroni, prefeito de Roma e líder do Partido Democrático, fusão do ex-Partido Democrático de Esquerda (por sua vez, o ex-PC) com formações de centro, ao qual também pertencem Romano Prodi e o presidente Napolitano. A discussão ontem no PD era sobre a maneira pela qual seus candidatos se apresentarão ao eleitorado. Caso concorram com programa próprio, os candidatos do partido manteriam sua identidade política. Mas, se negociarem desde já um programa conjunto com seus ex-aliados, eles poderão cometer o mesmo erro da coalizão de Prodi que, de tão pluralista, tornou-se vulnerável às investidas parlamentares da direita. Um dos dirigentes do PD, Goffredo Bettini, disse que a tendência era definir um programa exclusivo para em seguida negociá-lo com os partidos aliados em potencial.
"Presente a Berlusconi" Os Verdes já defendiam ontem um programa conjunto, argumentando que, sem ele, "iríamos entregar o poder de presente a Berlusconi". Essa discussão não tem por enquanto muito sentido, diante do amplo favoritismo eleitoral do bloco conservador, com uma dianteira de dez pontos nas intenções de voto. Veltroni não se dá por derrotado por antecipação. Ainda ontem procurou se comparar com o democrata americano Barack Obama, "há dois meses um azarão nas pesquisas". Prodi, economista católico originário da Democracia Cristã e ex-presidente da Comissão Européia, e que ainda é nominalmente o premiê, foi convocado para as 11h30 de hoje pelo presidente Napolitano, que lhe entregará o decreto de convocação de eleições legislativas antecipadas, provavelmente para o dia 13 de abril. O presidente Napolitano desencadeou ontem à tarde os procedimentos legais em caso de eleições antecipadas. Recebeu separadamente no palácio do Quirinal, entre 18h e 19h30, os presidentes do Senado, o mesmo Marini que quase foi premiê, e da Câmara, Fausto Bertinotti. À saída, ambos se recusaram a dar declarações. A Constituição obriga o chefe de Estado a informar as duas Casas sobre a redação iminente do decreto de dissolução. Depois de publicado, começa a correr um prazo de 70 dias para que as eleições se realizem. O dia 13 de abril teria sido escolhido pelo presidente porque já estão marcadas naquela data três eleições regionais (Friuli, Sicília e Vale da Aosta) e 13 provinciais, entre elas a de Roma, e em mais 500 municípios. Mas Berlusconi se opõe a essa coincidência de calendário, porque, segundo um de seus porta-vozes, "isso acabaria gerando muita confusão".
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Folha de S. Paulo) |