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700 anos depois, a Divina ainda é a obra italiana que mais emociona mundo afora

Obra de Dante (retratado no exílio em trabalho de autor desconhecido) continua sendo a mais representativa da literatura italiana
 

Escrita há mais de 700 anos – teria sido concluída em 1321 – a obra-prima do poeta-maior italiano continua insuperável e insubstituível no gosto dos leitores em diferentes partes do mundo. Ao menos é o que constatou mais uma das habituais pesquisas realizadas pelo site da Società Dante Alighieri, que indagou aos internautas qual o livro italiano que mais amavam, que despertava mais emoções e que dava vontade de ler novamente. A Divina Comédia, o poema épico de Dante Alighieri, conquistou o primeiro lugar nas preferências, com 9%.

No entanto, logo em seguida, aparece uma obra de um autor contemporâneo, o festejado Umberto Eco, cujo livro, O nome da Rosa, obteve 8% dos votos. Depois, I promessi Sposi, de Alessandro Manzoni, e Il Gattopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa, aparecem com 7% das preferência. Com 6%, a obra de Primo Levi, Se questo è un uomo, é outra bem cotada entre os leitores espalhados pelo mundo. 

Essa, na verdade, é a segunda vitória da obra de Dante Alighieri. Recentemente, a partir das consultas realizadas por estudantes brasileiros, especialmente vestibulandos, ao site Domínio Público, constatou-se que os arquivos da Divina Comédia eram os mais consultados, superando inclusive autores nacionais.

A obra-prima

Dante fez uma viagem ao mundo do além. Orientando pelo poeta Virgilio, conhece o inferno e o purgatório e depois, guiado por Beatriz, visita o Paraíso. Ao longo do percurso Dante encontra vários conhecidos seus e conversa com alguns deles. O inferno é um vale nas entranhas da terra formado por vários círculos que vão e afunilando: quando mais baixo estão, maiores os pecados daquelas almas que ali padecem grandes suplícios. Satanás, com quem se encontram, tem três caras e uma só cabeça e enormes asas de morcego.Saem do inferno e sobem a montanha do purgatório. Passam pelos sete círculos que representam os sete pecados capitais. Banhando-se em águas sagradas, na saída do purgatório, são absolvidos de toda a culpa. Dante entra no paraíso seguido por Beatriz, e aí encontra santos, sábios, teólogos, e outros espíritos. No ultimo céu, encontra São Pedro e faz um exame de fé. Beatriz ocupa um lugar no terceiro ciclo dos eleitos . No final da jornada, Dante vislumbra Deus em toda a sua glória.  

A obra-prima de Dante Alighieri e da literatura italiana não pode ser considerada uma epopéia, pois não é a história ficcional de um herói que, pela suas façanhas, fundou ou glorificou uma nacionalidade. A divina comédia não trata nem das origens nem da exaltação do povo italiano. Esta obra é classificada como um poema didático-alegórico: didático porque tem uma finalidade educativa e alegórica porque os ensinamentos são ministrados por uma serie de símbolos, ou seja, signos materiais que tem significação espiritual. A grandeza do poeta italiano reside em ter conseguido elevar à categoria da universalidade os problemas seus e se sua terra natal, através da força transformadora da arte,. O parentesco de A divina comédia com a poesia épica greco-romana é evidente. O próprio autor de Eneida, Virgilio, é escolhido Omo mestre e guia espiritual do poeta, sendo um dos três personagens principais do poema.

A divina comédia se constitui num compêndio onde todo o conhecimento do mundo clássico é transubstanciado pela cosmovisão de um homem da Idade Média.

Nesta obra se condensam e revivem em forma de arte dez séculos de concepção filosófica e religiosa, de instituições políticas e sociais, de cânones estéticos e morais. A motivação que determinou a transformação da enorme bagagem cultural de Dante em arte foi a realidade histórica e social. A divina comédia é a história de um homem – Dante Alighieri – que viveu seus últimos vinte anos de vida no exílio, peregrinando de uma cidade para outra, vivendo quase de esmolas, vítima de ódios políticos. È a história de um povo – o povo italiano do fim da Idade Média – dividido em várias cidades – estados em continuas lutas pela sobrevivência política, cada qual recorrendo à ajuda estrangeira ou ao poder papal. A divina comédia é também a história da humanidade toda, pois o seu protagonista assume o papel simbólico de cidadão do mundo, que sofre e luta para alcançar os ideais cívicos de união, justiça e amor nesta terra e a fé num mundo melhor no além.(Por tràs das Letras/Helio Consolaro)

(© Oriundi)

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