Ministério Público pretende trocar informações do Brasil e da Itália
sobre Parmalat, Telecom Italia, Tecnosistemi e Cirio
Negócios e remessas de empresas que faliram e suposta corrupção de
políticos e servidores públicos estão na mira
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Procuradoria Geral da República vai coordenar uma força-tarefa para
investigar suposta rede de lavagem de dinheiro e corrupção capitaneada
por executivos italianos no Brasil.
As ilegalidades, desconfiam os procuradores, teriam acontecido ao longo
de duas décadas, mas atingiram o auge entre 1997 e 2004.
O esquema envolveria grandes empresas italianas que tinham filiais no
Brasil. Na lista, estão Parmalat, Telecom Italia, Tecnosistemi
(ex-fornecedora da Telecom Italia) e Cirio (ex-controladora da Bombril).
Essas quatro empresas também são investigadas pelo Ministério Público na
Itália.
Assim como no Brasil, os inquéritos têm diferentes objetivos e correm em
separado -o que dificulta o cruzamento dos dados, na avaliação dos
procuradores locais.
No Brasil, as investigações são tocadas nas instâncias cível e criminal.
Estão espalhadas pelo Ministério Público de São Paulo e do Rio de
Janeiro e pelo Ministério Público Federal em Brasília, São Paulo e Rio.
Os promotores estaduais cuidam dos processos de falência e estão
interessados em descobrir se houve desvio de recursos que serviriam ao
pagamento de milhares de credores.
Os procuradores federais, por sua vez, querem saber de possíveis crimes
contra o sistema financeiro, de desvio e mau uso de dinheiro dos
contribuintes e de prevaricação por parte de servidores públicos.
De acordo com o que a Folha apurou, a intenção do Ministério Público é
formar um time para esquadrinhar documentos, evidências, relatórios e
testemunhos colhidos por colegas italianos.
A desconfiança dos procuradores italianos é que as filiais brasileiras
da Parmalat, da Tecnosistemi e da Cirio serviram à lavagem de dinheiro
das matrizes.
No Brasil, suspeitam as promotores italianos, o esquema teria funcionado
por meio de operações no mercado financeiro, como emissão de ações e
negócios fictícios. Já o Ministério Público daqui investiga se houve
corrupção de servidores públicos brasileiros e propinas pagas a partidos
e políticos para acobertar as operações.
Além das informações que pretende obter da Itália, o Ministério Público
Federal contará com a ajuda dos promotores estaduais que investigam a
Parmalat, a Tecnosistemi e a Cirio.
Esses inquéritos foram os primeiros a apontar indícios de que um grupo
de executivos italianos teria feito negócios suspeitos à frente de
filiais brasileiras dessas empresas.
A desconfiança é que o grupo era capitaneado pelo italiano Gianni
Grisendi, ex-presidente da Parmalat, da Telecom Italia e da Bombril. Ele
também era sócio minoritário da Tecnosistemi.
Outros nomes na lista de investigados na Itália são Calisto Tanzi e
Mario Mutti, que eram sócios na Parmalat. Mutti tornou-se, depois, dono
da Tecnosistemi. Tanzi e Mutti são acusados na Itália de terem lavado
dinheiro e promovido a falência fraudulenta da Parmalat e da
Tecnosistemi. Tanzi admitiu culpa diante dos tribunais italianos.
(©
Folha de S. Paulo)
Telecom Italia nega acusação de irregularidades
DA REPORTAGEM LOCAL
A Telecom Italia, por meio de sua assessoria, diz que não têm
fundamento as acusações de que tenha participado de esquema de
lavagem de dinheiro no Brasil.
Sobre as investigações que correm na Itália, a operadora afirma
não querer comentar o assunto enquanto as apurações dos procuradores
estiverem em andamento.
O advogado dos ex-controladores da Parmalat na Itália, Fabio
Belloni, confirmou que existem ações contra a empresa em Milão, Roma
e Parma. "Mas não há nada, que eu saiba, sobre lavagem de dinheiro
no Brasil", afirmou Belloni, que defende Calisto Tanzi.
O advogado de Gianni Grisendi, Luiz Fernando Pacheco, afirmou que
não há nenhuma acusação contra seu cliente no Ministério Público
Estadual.
Segundo ele, Grisendi está sendo investigado apenas pela quebra
da Parmalat, no Brasil e na Itália, e não foi acusado de nenhum
outro crime nos casos da Bombril, da Telecom Italia ou da
Tecnosistemi. "A sinalização da procuradoria italiana é a de que
Grisendi será inocentado lá", afirmou.
O advogado disse que Grisendi foi procurador e acionista da
Tecnosistemi "por apenas um mês" e classificou de fantasiosos os
depoimentos feitos ao Ministério Público Federal que sustentam que
seu cliente tenha lavado dinheiro italiano no Brasil. "Disseram até
que o dinheiro entrava por contêineres. Isso só causa perplexidade e
risada", afirmou.
Procurada, a Bombril não respondeu ao e-mail da reportagem até o
fechamento desta edição. Os advogados que defendem a Tecnosistemi e
Mario Mutti não foram localizados.
(©
Folha de S. Paulo) |