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Aquecimento global: temor pelas
geleiras alpinas |
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Criança toma lições
de esqui. Cena que poderá não se repetir no futuro |
A Itália vê com preocupação o recuo do gelo em suas montanhas.
Desde 1860 não havia um mês de janeiro tão brando como este
María-Paz López
em Roma
Nestes dias de pouco esqui e turismo invernal lastimável, circula pelo
ciberespaço italiano uma piada lúgubre. Um esquiador encontra uma placa
diante do teleférico que diz: "Instalações fechadas por falta de neve".
Um século depois, outra placa diz: "Antigas instalações para esqui de
valor histórico, fechadas por falta de geleiras". Realmente, na região
do Piemonte, norte da Itália, ou na dos Abruzos, próxima de Roma,
tradicionais centros de esportes de inverno, a situação não está para
brincadeiras. Ambas as regiões anunciaram que pediram o estado de
calamidade natural. O esqui nos Alpes italianos está definhando, e nos
Apeninos também.
Desde 1860, quando a Universidade de Modena
iniciou o registro das temperaturas, não havia na Itália um janeiro tão
quente como o que se vive hoje, sobretudo no norte, onde Aosta atingiu
22 graus, Turim 19, Milão 18 e a sofisticada e lendária Cortina
d'Ampezzo, 10 graus. O mês de dezembro passado também foi o menos frio
de todos os dezembros desde 1860, depois de um outono tão suave que fez
despencar a venda de casacos. Agora as liquidações os mostram nas
vitrines em busca de compradores que, vestidos quase de meia-estação,
olham para o outro lado.
Fala-se com freqüência no temor pelas geleiras alpinas, sobretudo porque
o fenômeno vem sendo registrado há anos, mas só neste inverno anômalo
parece ter causado alarme nos especialistas. Segundo a Agência Européia
do Meio Ambiente, desde 1900 as geleiras alpinas perderam em média 40%
de sua massa, o que equivale a um recuo de 30% de superfície. Em 9 de
janeiro passado, um repórter do jornal "La Repubblica" acompanhou o
alpinista Fausto De Stefani em uma subida de reconhecimento por regiões
alpinas a 2.600 metros, de que os mais velhos lembram como brancas.
Relatório: a geleira da face norte do Adamello havia desaparecido, a de
Lobbia se afastou do antigo refúgio próximo e a de Pian di Neve
retrocedeu 1 quilômetro. "Tudo isso acontece diante dos nossos olhos e a
uma velocidade superior à prevista. Neste ritmo, em 15 anos não haverá
geleiras nos Alpes", lamentou o montanhista.
Na verdade, segundo as previsões dos especialistas, o desastre total
ainda não está tão próximo, mas nem por isso é menos real. Se a
temperatura média subir 3 graus, 80% das geleiras poderão desaparecer;
em 2100 poderia não restar nenhuma no Val d'Aosta, a região italiana
fronteiriça com a França.
A outra face do inverno quente afeta a agricultura. Há algum tempo
certos cultivos migraram e hoje se plantam oliveiras nos sopés dos Alpes
e amendoins na planície do rio Pó. Segundo a organização agrícola
Coldiretti, algumas plantas, confundidas pelo ambiente cálido, acreditam
estar na primavera e estão florescendo. É o caso das mimosas na Ligúria
e das amendoeiras na Sicília, para não falar nos cereais do Pó, que
cresceram até quase 20 cm, a altura típica para daqui a um mês. Se em
fevereiro ou março houver gelo, os prejuízos poderão ser volumosos,
talvez de bilhões de euros.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
(©
UOL Mídia Global/La Vanguardia)
Itália já sente conseqüências de altas temperaturas no
inverno
Roma
(EFE) - O
inverno muito quente registrado em toda a
Europa já apresenta conseqüências negativas
na Itália, onde, nos Alpes, foram batidos
recordes de temperatura para esta época do
ano, espécies confundem seus processos
vitais, ursos não têm completado seu
processo de hibernação e há ameaça de seca.
O Vale de Aosta e o
Piemonte são as regiões do norte da Itália
onde os efeitos do tempo quase primaveril
são mais pronunciados, já que, em vez de
neve e temperaturas abaixo de zero,
características desta época do ano, os
termômetros marcam 20 graus em cidades
conhecidas por suas paisagens nevadas.
Neste inverno, prossegue a tendência de
2006, que teve o mês de dezembro mais quente
desde 1860, segundo o serviço de medição
meteorológica do observatório geofísico da
Universidade de Modena (norte).
Este serviço já classificou 2006 como o
terceiro ano mais quente desde 1860 e o
quinto mais seco desde 1830.
"A chegada do verdadeiro inverno acontecerá
entre 25 e 30 de janeiro para depois
continuar até fevereiro ou, talvez, até
março", segundo os meteorologistas
italianos.
O risco de avalanchas e incêndios - um deles
já causou a intoxicação de um bombeiro que
apagava uma queimada entre as cidades
alpinas de Piemonte e Vale de Aosta - são
alguns dos fenômenos que as altas
temperaturas podem provocar, segundo os
especialistas.
A falta de chuvas e de neve, além das altas
temperaturas, preocupam o setor agrícola da
Itália, que já fala em "desastre anunciado"
e teme que se repitam os prejuízos de até €
5 bilhões (US$ 6,500 bilhões) que
aconteceram em 2003.
As organizações de agricultores
Cia-Confederazione Italiana Agricoltori e
Coldiretti ressaltaram hoje sua preocupação
com a perda de suas produções e com os
efeitos negativos que ela poderia causar na
economia italiana.
Outro foco de preocupação deste setor é o
risco de geadas repentinas que colocariam a
perder os cultivos que floresceram
precocemente por causa do calor que
caracterizou todo o outono.
A maior preocupação, segundo a
Cia-Confederazione, é com os cultivos de
cereais, arroz, frutas e hortaliças, e, por
isto, os agricultores chamam a atenção do
Governo de Roma para uma situação "cada vez
mais difícil".
O alarme sobre as mudanças no clima também
soou na natureza.
As amendoeiras já florescem na Sicília, como
se fosse março ou abril, e os ursos do
parque nacional de Abruzzos - região do
centro da Itália - não têm completado seu
processo de hibernação, o que altera seu
relógio biológico.
O setor turístico das regiões montanhosas
também está sendo afetado pelo clima.
A região do Piemonte enviou cartas aos
ministérios do Turismo e do Trabalho nas
quais pede "uma avaliação das conseqüências
econômicas que a persistente falta de neve
está provocando na estação de inverno",
segundo a imprensa local.
O serviço de Defesa Civil também estuda este
fenômeno, e seu responsável, Guido
Bertolasso, se reuniu nas últimas horas com
quatro especialistas em meteorologia
italianos para criar um grupo de trabalho
para enfrentar as conseqüências da mudança
do clima.
"Temos que nos habituar a situações
extremas", afirmou Bertolasso em declarações
à imprensa local. "Temo que o cenário dos
próximos meses não esteja claro já que
haverá mudanças repentinas na situação
climática", disse.
Bertolasso insistiu que "é necessário um uso
mais racional das reservas" diante de uma
piora da situação.
(©
Último Segundo) |
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