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Leonardo Da Vinci |
Em entrevista
exclusiva, o maior especialista na obra do pintor contesta dados
históricos
Antonio
Gonçalves Filho
O homem que contestou o
best-seller O Código Da Vinci, acusando Dan Brown de ter apresentado
Leonardo de forma 'inapropriada' e 'diminuído', está de volta à
polêmica. Agora, para defender informações contidas no próprio livro. A
editora Objetiva lança esta semana Leonardo Da Vinci - Arte e Ciência do
Universo (160 págs., R$ 35,90), do crítico italiano Alessandro Vezzosi,
diretor do museu que leva seu nome na cidade toscana de Vinci. O livro
integra a coleção Descobertas, idealizada pela Gallimard. É mais que um
guia introdutório à obra do gênio renascentista. Nele, Vezzosi, que
concedeu uma entrevista exclusiva ao Estado, contesta algumas teorias,
entre elas a de que a Mona Lisa seria o retrato de um amigo de Leonardo
travestido, revelando ainda a ficha policial de Da Vinci, que chegou a
ser denunciado publicamente por sodomia. Vezzosi fala também das
contradições de um vegetariano que dissecava animais vivos e explica as
razões de sua rivalidade com Michelangelo.
A vida desregrada de Leonardo é mencionada de passagem em seu livro,
quando o senhor cita o processo por sodomia no qual ele estaria
envolvido com o pintor Andrea Verrochcio. Em sua opinião, ele apenas
dividia o seu ateliê ou era homossexual?
A vida de Leonardo não era particularmente desregrada em relação ao
tempo em que viveu. Ele foi vítima de uma denúncia anônima de sodomia
num processo contra um rapaz da nobre família dos Tornabuoni. A partir
desse documento ficamos sabendo que Leonardo trabalhava e vivia, como
outros artistas, no ateliê de Verrocchio. Mas esse não estava entre os
acusados. Em seu ateliê também trabalhou Botticelli, que seria, muitos
anos mais tarde, vítima de uma denúncia anônima semelhante por sodomia,
ou Perugino, que talvez fosse homossexual. Ao contrário do que afirma
Dan Brown em O Código Da Vinci, Leonardo não era 'declaradamente
homossexual' e, em seus estudos de anatomia, demonstra ter tido
experiências sexuais com mulheres. Aquele que os livros de história da
arte consagram como seu amante era, na realidade, casado e teve cinco
filhos: Francesco Melzi.
Como explicar que Leonardo, considerando a guerra uma 'loucura
bestial', tivesse projetado tantas armas? Seu caráter era bélico?
Leonardo realiza desenhos extraordinários tanto do ponto de vista
estético como técnico de armas da tradição européia e asiática,
considerando que elas são necessárias para defender os bons e os justos
do poder de ambiciosos tiranos. Num de seus escritos, de 1487, Leonardo
justifica a invenção de armas fantásticas como instrumentos de defesa do
povo contra os tiranos. Na juventude, ele queria inventar um método
eficiente de afundar navios inimigos, mas na maturidade se recusa a
divulgar os segredos da guerra submarina por temer ser traído por
pessoas mal-intencionadas. Ele trabalhou, claro, para senhores da guerra
como César Bórgia, mas tinha sobretudo uma postura ética que o
habilitava a definir a guerra como 'pazzia bestialissima'.
(©
Agência Estado)
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