Em 1878, o jornal Província de São Paulo anunciava o loteamento de
vários terrenos da Chácara do Bexiga, pertencente a Antônio José Leite
Braga. Foi nesse momento que teve origem a história de um dos mais
importantes bairros da cidade de São Paulo: o Bixiga
No início, a região foi povoada por imigrantes italianos, a maioria
da região da Calábria, que viam ali oportunidades de trabalho mais
atraentes que as lavouras de café do interior paulista. Mas os baixos
preços dos lotes viriam a convidar portugueses, espanhóis e negros
recém-libertos.
Apesar das transformações decorrentes do tempo, dos viadutos,
edifícios e tráfego intenso, o Bixiga ainda preserva, nos dias
atuais, algo da essência dos seus primeiros habitantes, os imigrantes
italianos da Calabria. E o Bixiga de hoje pode ser visto agora numa
coletânea inédita de fotografias. As imagens estão expostas na mostra O
Meu Bixiga, em cartaz até 31 de julho, na Casa de Dona Yayá. A curadoria
é assinada por Ângela Garcia, Boris Kossoy e Maria Lucia Bressan
Pinheiro.
Trata-se de uma amostra dos mais de cem trabalhos inscritos na
primeira edição do Prêmio de Fotografia do Centro de Preservação
Cultural (CPC) da USP, realizado em 2008. Segundo Maria Lucia, a
exposição busca identificar a comunidade do bairro com o bem tombado
Casa de Dona Yayá, que foi uma das primeiras chácaras do bairro. É uma
“espécie de balão de ensaio”, conta, uma vez que o concurso estava
aberto a todo tipo de trabalho.
Voltado a fotógrafos amadores nas categorias adulto e
infanto-juvenil, o prêmio teve como objetivo “estimular, conhecer e
divulgar múltiplos olhares sobre o paulistaníssimo bairro do Bixiga”. Os
trabalhos tiveram como tema a arquitetura, os logradouros públicos e as
paisagens culturais do bairro, que abriga lugares como a Escadaria do
Bixiga, a Igreja de Nossa Senhora da Achiropita e a própria Casa de Dona
Yayá.
As lentes dos fotógrafos descobrem ângulos inusitados, detalhes
normalmente despercebidos e a percepção de ambientes peculiares. Algumas
imagens optam por captar os tipos humanos característicos do bairro, mas
a grande maioria registrou a arquitetura. No entanto, conforme explica
Maria Lucia, as imagens “extrapolam o mero registro do patrimônio
edificado”. Através de detalhes arquitetônicos ou fachadas de casas,
mostram a deterioração do patrimônio e problemas sociais.
A mostra fica em cartaz até 31 de julho, de segunda a domingo, das 10
às 16 horas, na Casa de Dona Yayá (Rua Major Diogo, 353, Bela Vista, São
Paulo). Entrada franca. Será lançado ainda, em data a definir, um
catálogo gratuito com todas as fotos expostas.
Hipóteses
Conforme relata Domingos Ricardo Chiappetta, historicamente o Bairro
do Bixiga foi inaugurado com o nome de Bela Vista, e também recebe o
nome de Bexiga, origina-se de três denominações, sendo a data instituída
o dia primeiro de outubro como: o Dia da fundação do bairro do Bixiga,
conforme é comemorado anualmente e consta do Calendário Oficial de
Eventos da Cidade de São Paulo, da Câmara Municipal. A primeira hipótese
de denominação do bairro foi como Estalagem do Bixiga, que teria se
transferido para a Chácara do Bixiga, e em seguida para o bairro,
formado pelos imigrantes italianos; a segunda hipótese: teria sido
oriundo de um MATADOURO que existia no final da atual rua Humaitá, onde
se vendiam ou davam bexigas de boi e de porco; a terceira: porque os
portadores de varíola (Bexiga) se refugiavam na Chácara do Bixiga).
Em outubro de 1878, o loteamento foi inaugurado solenemente com a
presença do Imperador D.Pedro II, que visitava a cidade de São Paulo. O
Bairro do Bixiga é particularmente querido, visto congregar uma
expressiva maioria de descendentes de imigrantes italianos, famosos por
sua alegria contagiante e suas festas de rua ou salão, principalmente a
de Nossa Senhora Achiropita. No ano passado, o Bixiga comemorou 130 da
chegada dos imigrantes.
Chiappeta destaca figuras tradicionais do Bixiga, como Adoniran
Barbosa cantor e compositor, que tem rua com seu nome no bairro. Além
disso, há atradicional Banda do Candinho, com suas mulatas, Rainha e
Princesas; a Escola de Samba Vai-Vai, com seus ensaios na G.R.C.E.S. e
comemorações de vitórias do Carnaval nas ruas do Bixiga, com o Mestre
Tobias e, naturalmente, as Cantinas e pizzarias, algumas 24
horas, servindo os indefictiveis Brodos.
Enfim o Bixiga, mesmo transformado por Viadutos e tráfego intenso,
conserva o espírito dos Imigrantes Italianos, hoje acrescido dos
Portugueses, Espanhóis, assinala Chiappetta.
Um dos momentos mais importantes da vida da comunidade polignanesa e
italiana de uma maneira geral, em São Paulo, é a tradicional Festa de
São Vito, que acontece nos meses de maio e julho desde 1918. Neste ano,
o evento ocorreu entre os dias 30 de maio e 12 de junho, no bairro do
Brás.
Um desentendimento ocorrido em meados dos anos 90 entre os
organizadores (Igreja e Associação) fez com que o evento organizado por
essas duas Instituições e que nasceu por motivação religiosa se
dividisse em dois, um atualmente mantido pela Associação Beneficente São
Vito Mártir (Festa particular realizada em recinto fechado) e outro pela
Igreja de São Vito (Festa de Rua São Vito Martir - Festa Litúrgica,
Gastronômica e Cultural), evento oficial da Cidade de São Paulo e da
Igreja Católica.
A Festa de Rua de São Vito Mártir é considerada uma das mais
tradicionais festas italianas da cidade de São Paulo. Durante seis
finais de semana, com início no último de maio e término no primeiro de
julho, atrai milhares de visitantes por noite, que buscam encontrar um
lugar agradável com muita diversão, comidas típicas e o melhor da música
italiana ao vivo. O evento faz parte do calendário festivo e folclórico
da cidade de São Paulo e a festa Litúrgica é celebrada em 15 de junho.
A Festa é composta por diversas barracas de comidas típicas, bebidas
e também por uma cantina a céu aberto. Neste último ambiente, o
visitante paga pelo convite e tem direito a um prato de espaguete ao
sugo além de desfrutar de um local privilegiado, assistindo aos shows
sentado e em frente ao palco. Aos sábados com show ao vivo de espoentes
da música e aos domingos irão se apresentar grupos folclóricos italianos
e de MPB.
Nas barracas de comida típica italiana, a culinária pugliesa, com
tradição e qualidade consagradas, é sem dúvida um dos principais
destaques da festa. As tradições culturais são transmitidas às gerações
de descendentes italianos e transformam o Brás, no período da Festa,
numa rota cultural-gastronômica.
Toda esta animação ainda tem mais uma vantagem: o caráter social. As
mammas, responsáveis por estas delícias, integram o grupo de voluntários
e toda a renda da festa é destinada às obras sociais da paróquia em prol
da comunidade.
Neste ano, serão montadas cerca de 35 barracas. Quem preferir, pode
se acomodar nas cantinas, cujas entradas custam R$ 30 (sábado) e R$ 25
(domingo). Toda a arrecadação será destinada para a manutenção das obras
sociais da paróquia, a implantação de novas frentes pastorais e sociais,
à continuidade das reformas, à montagem da cozinha industrial e de um
consultório dentário na paróquia.
A devoção a são Vito, jovem mártir siciliano do início do quarto
século, foi trazida da Itália por imigrantes provenientes de Polignano a
mare, nas Apúlias, hoje província da Puglia, ao sudeste da Itália. Os
imigrantes se instalaram no bairro do Brás, em São Paulo. A localização
relativamente central da capela então construída explica sua crescente
importância desde a origem, em 1912, até a criação da paróquia.
Neste ano, o evento terá o apoio dos alunos do curso de Eventos da
Universidade Anhembi Morumbi. Enfocando a responsabilidade social, os
estudantes dão uma contribuição técnica na organização e no planejamento
da festa. Esse trabalho faz parte da grade curricular do curso. O apoio
é importante para os organizadores, já que, durante seis finais de
semana, a paróquia de São Vito receberá milhares de visitantes por
noite.
Entre os imigrantes italianos, a celebração existe há 91 anos, desde
que chegaram à cidade. A festa de rua, porém, acontece há 13, tempo
suficiente para transformá-la em tradição marcante no calendário festivo
e folclórico da cidade de São Paulo. Mas além de todo o entretenimento,
há um cunho religioso: celebrar o padroeiro do Brás, São Vito.
Serviço
Festa de Rua São Vito Mártir
Data: fins de semana de 30 de maio a 12 de julho
Horário: sábados, das 17h às 24h; domingo, das 17h às 23h
Endereço: Rua Polignano A. Maré, próximo à praça São Vito – Brás
Convites antecipados: 3227-2296 ou 3228-8114
A paróquia
Os primeiros imigrantes polignaneses (vindos de Polignano a Mare, a
pequena cidade situada ao sul da Província de Bari, capital da região
de Puglia), se juntaram primeiramente na Rua do Carmo, porque no Brás
ainda não existia nada, além da várzea do Rio Tamanduateí, e foram
trabalhar diretamente na lavoura, em Fazendas do interior paulista, com
subsídio do governo brasileiro.
Porém, a partir de 1890 começaram a chegar os chamados imigrantes
"espontâneos", que se estabeleceram, em sua maior parte, na Capital, e
diferentemente dos primeiros, estes eram carpinteiros, sapateiros e
outras categorias profissionais tipicamente urbanas.
Como primeiro gesto, cuidaram da perpetuação da memória de seu
padroeiro em São Paulo, com a edificação da Igreja de São Vito Mártir,
obra exclusiva de polignaneses e da Associação surgida em 1919,
responsável pela construção da capela inicial, transformada em paróquia
em 1940, em 1944 a construção da Igreja atual e, o Centro Social São
Vito, já na década de 80, onde colocaram a imagem original de São Vito,
trazida da Itália.
O estado onde habitam cerca de 3 milhões de descendentes de italianos
comemora, em 2009, de maneira tímida, os 134 anos da chegada dos
imigrantes italianos. Com algumas exceções, entre elas a iniciativa da
presidência da Assembléia Legislativa do Estado, que promove um
seminário sobre o papel da imigração italiana no Rio Grande do Sul, a
data passará sem uma manifestação popular mais representativa para os
ítalo-descendentes. A começar pela capital, Porto Alegre, onde nenhum
evento foi anunciado.
É praxe valorizar mais as chamadas datas redondas (130, 140), mas de
qualquer maneira chama a atenção o descaso das autoridades e
instituições gaúchas – com exceção da Assembléia Legislativa. Seria
redundante destacar a importância cultural e econômica da imigração
italiana para o Estado.
E uma data como o dia da etnia italiana tem o seu sentido exatamente
na medida em que consagra um processo histórico, ativando elementos
culturais para manter a memória popular. Trata-se, em última análise, de
algo que diz respeito essencialmente à formação e à educação de um povo.
De qualquer forma, em se tratando do Rio Grande do Sul, esse
"esquecimento" não chega a surpreender de todo. Afinal, para além do
ufanismo regionalista que impregna as (in)consciências, o fato é que o
Estado, a partir de suas autoridades, ficou para trás também quando se
trata de aproveitar os laços que o unem com a Itália.
A começar pelo aspecto econômico. Apesar da origem italiana dos
últimos dois governadores - Germano Rigotto e Yeda Rorato Crusius - o
Estado não promove - e pelo visto não se interessa - em aprofundar as
relações comerciais e empresariais com a Itália, bem como as trocas e a
cooperação no âmbito da tecnologia e de outros setores.
Enquanto governadores de outras regiões - como Santa Catarina, Minas
Gerais, Rio de Janeiro - vão à Itália, recebem italianos, fecham acordos
e entendimentos, o Rio Grande do Sul vive em seu marasmo contemplativo.
Isso pode ser facilmente comprovado a partir do noticiário de Oriundi.
Não transcorre um mês, para não falar em um espaço de tempo mais curto,
que não seja noticiado uma ou mais informações nesse sentido, sempre
envolvendo outros estados.
Sob o ponto de vista cultural, apenas eventualmente o Estado é
incluído em roteiros de apresentações italianas, seja em que âmbito for,
do musical às artes plásticas. Nesse sentido, nem mesmo a existência de
um consulado sediado na capital ajuda a aproximar pelas artes a Itália
de hoje não apenas dos descendentes, mas de toda a população.
De Porto Alegre, aliás, pouco se poderia esperar mesmo. Afinal, quem
não recuperou o monumento à Garibaldi e Anita, que passou o ano do
bicentenário do herói depredado e sujo como sempre, não teria tempo para
pensar em algo como o Dia da Etnia Italiana. Que, mesmo encarada apenas
sob o ponto de vista pragmático, já seria o suficiente para ser melhor
considerada.
O início da imigração
A chegada de italianos no Rio Grande do Sul começou a ser planejada
pelo governo da província no início da década de 1870 com a criação das
colônias Conde d’Eu (Bento Gonçalves) e Dona Isabel (Garibaldi), e a
demarcação de lotes coloniais e a assinatura de contrato com firmas
encarregadas de trazer os imigrantes. Entretanto, dada a ineficácia do
contrato, em 1875, o governo imperial retomou as colônias e passou a
promover a imigração. Nesse mesmo ano, o Império fundou uma nova
colônia, denominada “Fundos de Nova Palmira”, que dois anos depois,
passou a chamar-se Colônia Caxias. Em maio de 1875, chegaram os
primeiros imigrantes que foram, inicialmente, instalados em um barracão
na localidade de Nova Milano, atual município de Farroupilha e,
progressivamente, foram alocados nos lotes coloniais já criados.
A maior parte dos imigrantes dessa região procediam do Norte da
Itália - Vêneto, Lombardia, Trieste. Alguns entraram no Brasil com
nacionalidade austríaca, apesar de serem etnicamente italianos. Esses
homens saíram de sua terra natal devido às profundas modificações na
estrutura agrária e instabilidade causadas pela unificação da Itália e
pelo processo de industrialização que expulsavam o agricultor e o
artesão das suas aldeias. Entre 1831 e 1930, dez milhões de italianos
migraram para a América com a esperança de conseguir terras e uma vida
melhor.
Para o Brasil, deu-se preferência à vinda de famílias de casais
jovens com dois a três filhos. No Rio Grande, os lotes destinados aos
italianos variavam de preço e de tamanho, entre 16 a 30 hectares, de
acordo com as condições do terreno, entretanto, nem todos tinham boas
condições para a agricultura. O trabalho inicial foi árduo, havendo a
necessidade da derrubada da mata para a construção da casa e para a
abertura de campo para o plantio. Não trazendo técnicas aprimoradas,
utilizaram os sistemas de roçado e de queimada, como os demais
agricultores da região. Técnicas que, no longo prazo, trouxeram o
desgaste do solo e a redução da produtividade.
As colônias
Cada colônia era dividida em léguas e estas, em linhas ou travessões
de cerca de 13 quilômetros, nos quais se alinhavam os lotes. No centro
da colônia havia um espaço destinado ao núcleo urbano, onde era
construída a igreja e a sede administrativa. Neste centro,
estabeleceram-se aqueles imigrantes que eram artífices, contribuindo
para a auto-suficiência da colônia. Ao contrário do que ocorreu na
imigração alemã, em pouco tempo, as colônias foram emancipadas, passando
a fazer parte dos municípios já existentes. Ocupadas as três primeiras
colônias da região – Conde d’Eu, Dona Isabel e Caxias -, atravessou-se o
Rio das Antas, fundando-se a Colônia de Alfredo Chaves (Veranópolis) em
1884. No ano seguinte, foram fundadas São Marcos e Antônio Prado.
Nas colônias, desde o início, a ação dos comerciantes estabelecidos
no vale do Rio Caí viabilizou a comercialização da produção colonial.
Esses faziam o papel de intermediários entre os produtores e Porto
Alegre. Nas pequenas propriedades, usando mão-de-obra familiar,
produzia-se alimentos, criava-se pequenos animais e plantavam-se
parreiras. A produção de milho, trigo, vinho, porcos, banha, ovos,
queijos, madeira era transportada em carretas puxadas por mulas até os
portos de Caí e Montenegro, onde eram embarcadas para a Capital.
Nos primeiros anos o artesanato supria as necessidades da colônia
mas, na progressivamente, com a inserção da colônia na economia de
mercado, os produtos trazidos pelos comerciantes passaram a substituir
os produtos artesanais.
As casas de comércio nas colônias desempenhavam diferentes funções,
como a de abastecimento, transporte, banco, beneficiadora de produtos
locais (moagem de cereais, abate de animais e preparo do vinho). A maior
parte das transações comerciais eram realizadas sem dinheiro vivo. O
comerciante mantinha um livro de registro de crédito (produção entregue
pelo colono) e débito (compras e mais despesas feitas pelo colono). O
colono também confiava suas economias ao comerciante que se encarregava
de fazer pagamentos e guardar o dinheiro.
A medida em que os comerciantes foram enriquecendo, investiram parte
de seus lucros em alguns ramos da indústria, especialmente na produção
de vinho, na exploração da madeira, na moagem de cereais e no
beneficiamento de produtos de origem animal. Nesse processo, Caxias
tornou-se rapidamente o pólo comercial da zona colonial italiana.
A religião
A religião foi um fator de aglutinação da sociedade colonial. Em cada
linha da colônia foi construída uma capela dedicada ao santo de devoção
dos colonos, em geral o mesmo da Itália. Essa capela não era apenas o
local de culto, mas também o centro social da linha. Ao seu lado,
funcionava a escola e um salão onde eram realizadas as festas e os
encontros da comunidade.
Na ausência de padres para as capelas, surgiram os padres leigos,
homens da comunidade escolhidos pela sua idoneidade moral. Entre suas
funções estavam a direção do culto, a explicação do catecismo, a reza do
terço dominical, a celebração do batismo. Fazia as orações da missa, mas
não ministrava a eucaristia. Com a chegada do padre ordenado, esse
indivíduo passou a exercer as funções de sacristão.
A expressão de religiosidade dos colonos era vivenciada através de
manifestações exteriores como o uso de velas e fogos, cerimônias
litúrgicas como as rezas, procissões, cantos, veneração de imagens e
reza diária do rosário. Daí a importância dos santos e suas imagens,
muitas vezes dadas como milagrosas. Poucas imagens foram trazidas da
Europa, a maior parte foi esculpida em madeira por artesãos locais,
normalmente, um agricultor sem grandes conhecimentos artísticos. Essas
estátuas eram em geral muito semelhantes entre si. O corpo era feito de
uma armação de madeira e arame recoberto por vestes de tecido. Eram
essas vestes e seus adornos que identificavam o santo.
As festas dos padroeiros mobilizavam a comunidade. Em Caxias do Sul,
Santa Tereza; em Nova Prata, São Pedro; em Farroupilha, Nossa Senhora do
Caravágio. Também eram comemoradas as datas litúrgicas como o Natal, a
Páscoa, Corpus Christi, nas quais as procissões eram solenes, com
imagens, símbolos e sinais.
A partir do final do século XIX, começam a chegar às colônias as
ordens religiosas, entre elas, os Capuchinhos, os Carlistas, as Irmãs de
Santa Catarina, as Irmãs de São José de Montiers, os Maristas e os
Salesianos. Sua missão era prestar assistência religiosa aos colonos,
servindo como ponto de partida para a renovação religiosa. Nesse
movimento, foram criadas escolas religiosas, jornais católicos e
seminários.
Habitação
As casas dos colonos, inicialmente, eram cabanas provisórias, de
pau-a-pique, cobertas com capim. Com o decorrer dos anos, foram
substituídas por construções melhores e funcionais.
A construção da residência ficava a cargo de um prático a quem cabia
a direção da obra. As técnicas vindas da Itália foram adaptadas à
realidade local, utilizando-se a pedra, madeira e tijolo.
As casas nos núcleos urbanos se assemelhavam à moradia rural: o
primeiro pavimento era reservado à zona de serviços como cozinha,
depósito de vinho e comestíveis. Esse “porão” construído em pedra
basalto proporcionava o ambiente de convívio diário da família durante o
cozimento dos alimentos e as refeições. O calor produzido nas lidas do
porão aquecia o segundo pavimento de assoalho em madeira e era bem vindo
nas noites frias da serra. Sobre essa base, a construção era usualmente
em madeira, com um ou dois níveis. A cobertura era também de madeira,
com tabuinhas chamadas scândole. O sótão servia de dormitório para os
filhos mais velhos e de local para secagem dos grãos.
Nos primeiros anos, os móveis eram feitos à mão e polidos com
navalhas. Usavam mesas largas e rústicas, bancos de madeira que, com o
tempo, foram substituídas por cadeiras revestidas de palha.
Nas casas da cidade, acrescentando-se beirais com lanternins
recortados, pequenos alpendres a partir do segundo piso e detalhes de
acabamento um pouco mais sofisticados. Na grande maioria das vezes, o
pequeno comércio instalava-se na base da casa, permanecendo a área
superior para moradia.
As igrejas eram outro tipo de construção característica da região de
imigração italiana, normalmente inspirada nos modelos europeus. Estas,
em comparação às moradias, demonstraram principalmente a
monumentalidade, tendo visto a importância do seu papel junto ao seu
entorno. Além da igreja dominante com sua alta torre, era possível
observar as capelas hexagonais junto às estradas, atendendo aos
viajantes e aos habitantes das vilas.
Mútuo socorro
As associações surgiram com o instrumento de solidariedade para
vencer as dificuldades da vida na nova terra, cultivar tradições e
consolidar os laços da comunidade.
As associações de ajuda mútua visavam socorrer os recém-chegados,
tornando mais fácil a integração nas colônias já estabelecidas,
superando as dificuldades dos primeiros meses, até que as lavouras
pudessem sustentar a família.
A mais antiga foi fundada em 1871, em Bagé, a Società italiana di
Soccorso Mutuo e Beneficenza, com os objetivos definidos em estatuto:
socorrer os sócios nas doenças, propagar o conhecimento da língua
italiana, estreitar os vínculos de fraternidade entre os italianos
domiciliados no município. Estes objetivos passaram a ser copiados pelas
demais associações de mútuo socorro fundadas no Rio Grande do Sul. Em
Porto Alegre foi criada, em 1877, a Sociedade de Mútuo Socorro Vittorio
Emanuelle II, cujo presidente honorário era Giuseppe Garibaldi. Em 1873,
foi fundada em Pelotas a Società Italiana Unione e Filantropia. Em
Caxias do Sul, surgiu a Príncipe di Piemonte, em Garibaldi Società
Italiana de Mutuo Soccorso Stella d’Italia, e em Bento Gonçalves, Regina
Margherita. Em Antônio Prado, a Società Italiana Croce Rossa
encarregava-se do trabalho da lavoura e da assistência do sócio doente,
e no caso de morte desse, assistia e cultivava as terras até a
maioridade dos filhos.
Além dessas, outros tipos de associações surgiram em diversas áreas
como cooperativas de produção, associações de profissionais de classe,
clubes recreativos, irmandades religiosas, associações mantenedoras de
escolas entre outras. (Fonte: Liana Bach Martins e Marcia Eckert
Miranda/historiógrafas MJC)