Rogério Cassimiro/Folha Imagem
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A estilista Sílvia Pretti, 42,
quer criar uma loja na Europa, mas espera desde 2006 |
Casos não são convocados há 1 ano e meio no Consulado Geral da Itália, em São Paulo; há quem já aguarde por mais de 10 anos
Segundo a cônsul Lucia Pattarino, impasse está no volume de pedidos e escassez de pessoal; órgão tem apenas 37 funcionários
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A fila para descendentes de italianos interessados em obter
reconhecimento da cidadania está parada em São Paulo. Há um ano e meio,
nenhum novo caso é convocado. E já existem aproximadamente 380 mil
pessoas com processos em análise -que chegaram desde 2003- nas mãos de
poucos funcionários do Consulado Geral da Itália, em São Paulo.
A contradição entre a alta demanda e o baixo número de técnicos para
avaliação faz com que a espera pela cidadania demore quatro, cinco anos.
Mas há quem já aguarde pelo direito há mais de dez anos.
Todo brasileiro descendente de homem italiano (pai, avô etc.) ou que
tenha nascido depois de 1948, se o ascendente é mulher italiana, pode
requerer a cidadania. O direito permite à pessoa, por exemplo, morar
legalmente na Europa.
Imigrantes
O Brasil e a Argentina são os países com mais casos de pessoas que
tentam hoje obter cidadania italiana no mundo. Entre os brasileiros, a
maior procura está em São Paulo e no Sul.
Segundo o consulado e a Embaixada da Itália no Brasil, existem 5
milhões de descendentes só na capital paulista e 9 milhões no Estado.
Eles integram um universo de 25 milhões de brasileiros descendentes
de italianos que, a partir do final do século 19, deixaram seu país para
viver no Brasil. Boa parte, na época, serviu para substituir a
mão-de-obra escrava nas lavouras.
Os herdeiros desses mesmos italianos enfrentam hoje na União Européia
um movimento antiimigração. Em julho, foi aprovada a Diretiva de
Retorno, que prevê uma restrição maior aos imigrantes ilegais como
detenção de até 18 meses e a deportação. A medida afeta 8 milhões de
irregulares, a maioria latino-americanos.
O Consulado alega que isso não acontece com os que têm direito no
Brasil. Prova disso, afirma, é que o governo italiano começou a
organizar uma força-tarefa com a vinda de mais funcionários para
analisar os pedidos de cidadania represados.
Segundo a cônsul Lucia Pattarino, o impasse está no volume de pedidos
e a escassez de pessoal. São 37 funcionários, do cônsul-geral ao
motorista, responsáveis por dar assistência aos italianos, conceder
passaportes e vistos, entre outros serviços, além de cuidar dos
processos de cidadania.
"Abrir mais fichas criaria confusão. Preferimos terminar os processos
em análise. Ocorre que a cada ficha que abrimos, descobrimos que são
pedidos para um, cinco, dez, 15 pessoas, e o trabalho aumenta", disse.
No site, desatualizado, só conseguem conferir seu número na fila as
pessoas cujos processos chegaram até 2004. Não é o caso do empresário
Tiago Mori, 27, que quer morar em Londres. Como outros na fila, ele
pensa em optar por uma alternativa cada vez mais comum: brasileiros que
vão "morar" na Itália, por alguns meses, para obter sua cidadania via
"comuni" (cidades ou vilarejos) italianas.
Para quem quer obter a cidadania italiana, a saga na volta às origens
começa em descobrir exatamente onde o parente nasceu. Muitas das
histórias contadas pelos avós não batem com a origem verdadeira ou o
nome foi trocado.
Outra falha é que, em 90% das fichas abertas, falta algum documento.
"Se chegar com os documentos corretos, não vejo por que em algumas
semanas não finalizar o processo", disse a adida consular Marina Rusca.
Há 136 mil pessoas que obtiveram a cidadania pelo consulado de São
Paulo. Só neste ano, 5.900 já tiveram o direito, e outras 2.000, que
iniciaram a ficha em São Paulo, finalizaram o processo na Itália.
Em 2007, saíram da fila 8.123 pessoas e, no ano anterior, 6.636.
(©
Folha de S. Paulo)
CIDADANIA
ITALIANA
380 mil
É o número estimado de pessoas
que aguardam reconhecimento da cidadania apenas no Consulado de SP
500 mil
É o número de brasileiros que
esperam reconhecimento de sua cidadania
Quem tem direito de requerer cidadania italiana?
Quem é casado com cidadão italiano ou quem tem
ascendência.
Neste caso, o interessado deve ser filho, neto, bisneto, e assim
sucessivamente, de italiano homem que, ao chegar ao Brasil, não tenha
renunciado sua cidadania italiana. Para descendentes de mulher italiana,
vale o processo para quem nasceu a partir de 1º.jan.48
Quem quer entrar na fila
Leia atentamente o site do Consulado Geral da Itália em
SP (www.conssanpaolo.esteri.it),
onde está a ficha de requerimento. Ela deve ser preenchida e mandada
apenas por correio. O consulado não recebe pedidos pessoalmente
Quem já está na fila
Mantenha seu endereço atualizado. Se você mudar o
telefone, envie uma carta comunicando a mudança; providencie com
antecedência a documentação de seus ascendentes; acompanhe pelo site
qual número de seu processo. O site está desatualizado, mas, haverá
renovação
(©
Folha de S. Paulo)
Nem no site vejo meu nome na
lista, diz empresárioEM SÃO PAULO
Depois de passar dois meses estudando na Inglaterra, em 2004, o
empresário Tiago Mori, 27, decidiu requerer a cidadania italiana para
voltar a morar na Europa.
Mas desde que encaminhou os documentos, no início de 2005, não
recebeu uma ligação do consulado em São Paulo.
Mori pleiteia o direito de se tornar cidadão italiano por meio do seu
tataravô Achilles Mori. Ninguém da família, no entanto, sabia a origem
do patriarca. Mori decidiu buscar ajuda de um escritório especializado.
Em um mês, descobriu que o bisavô veio de Minas Gerais e obteve o
documento do tataravô.
A saga só começava. "Mandei os documentos, mas não tinha idéia que
demorava tanto. Nem no site, quando tento pesquisar, encontro o meu nome
na lista de espera", disse.
O empresário, que já gastou R$ 8.000 com documentos, pensa em
investir um total de R$ 20 mil para morar alguns meses na Itália e
findar o processo.
A estilista Sílvia Pretti, 42, já se prepara para arrumar as malas
rumo à Europa. "Personal stylist" (espécie de consultor de moda e
estilo), Pretti possui clientes estrangeiros e sonha em criar uma loja
na Europa.
Ela deu entrada no processo em 2006. Com documentos e custos de
viagem, planeja gastar R$ 22 mil, um investimento que diz valer a pena.
"A fila aqui em São Paulo é de anos, não há a menor possibilidade de
esperar. É capaz de meu neto só conseguir", brincou.
(JC)
(©
Folha de S. Paulo)
Para evitar a longa espera,
descendentes com dinheiro e tempo vão direto à Itália
EM SÃO PAULO
Quem não quer esperar a fila dos consulados pode buscar direto à
fonte. Brasileiros descendentes de italianos, com dinheiro e tempo, têm
morado alguns meses na Itália até obter o reconhecimento da cidadania em
alguma das aproximadamente 8.500 "comuni" (cidades, vilarejos)
italianas.
Só neste ano, o consulado em São Paulo concedeu em torno de 2.000
declarações para finalizar processos de brasileiros que viajaram até a
Itália a fim de obter a cidadania. No ano passado, foram 3.115 casos.
O interessado deve conseguir residência fixa na Itália e precisa
morar, em média, três meses. Há guardas da "comune" que checam se o
indivíduo mora mesmo naquele endereço.
Existem também escritórios especializados que assumem todo o serviço
para o cliente, como a Girello Associados. Eles cuidam desde a
documentação original e tradução até passagem, moradia e alimentação no
período que durar o processo de cidadania. Os custos chegam a R$ 20 mil,
segundo a advogada Andrea Girello.
Foi o caminho escolhido pelo empresário Alvimar da Rocha Júnior, 29.
Ele passou quatro anos procurando a certidão de nascimento do bisavô,
Giovanni Zeneri. Contratou o escritório. Em fevereiro, foi para a Itália
e o processo saiu em junho. "Valeu a pena. Tenho negócios na Europa e
precisava da cidadania. Muitos esperam oito anos e eu, quatro meses."
(JC)
(©
Folha de S. Paulo)
Consulados terão força-tarefa
para agilizar análise de pedidosEM SÃO PAULO
O governo italiano iniciou uma espécie de força-tarefa para conseguir
dar vazão aos processos de pedido de reconhecimento da cidadania, que
estão represados em todo o Brasil.
Existem 500 mil brasileiros descendentes de italianos à espera do
reconhecimento, segundo a Embaixada da Itália no Brasil. Segundo a
cônsul Lucia Pattarino, de São Paulo, nove pessoas já passaram por
provas e foram contratadas exclusivamente para atuar na análise de
processos de cidadania.
"Nos próximos meses, receberemos mais funcionários, e haverá talvez
dez vezes mais pessoas só para os casos de cidadania", disse a cônsul.
O reforço nas equipes irá acontecer em todas os consulados,
especialmente nos de são Paulo e nos da região Sul do país que
concentram os pedidos, de acordo com a Embaixada da Itália no Brasil.
Deverão trabalhar na força-tarefa de digitadores a funcionários de altos
cargos para analisar documentos. (JC)
(©
Folha de S. Paulo)
Frases"Mandei os
documentos, mas não tinha idéia que demorava tanto"
TIAGO MORI
empresário que tenta obter a cidadania italiana para voltar a morar na
Europa
"Nos próximos meses, receberemos mais funcionários e terá, talvez,
dez vezes mais pessoas só para os casos de cidadania"
LUCIA PATTARINO
cônsul da Embaixada da Itália em São Paulo
(©
Folha de S. Paulo)
Consulado da Itália em
SP abre agendamentos para 2009: novamente, a corrida em busca de uma
vaga
Fila para atendimento em frente ao Consulado da Itália em SP é
rotina na Avenida Paulista. Foto: Arquivo Oriundi
Com os agendamentos para a legalização de documentos para fins da
cidadania italiana completamente preenchidos até dezembro de 2008, o
Consulado da Itália em São Paulo abriu, na semana passada, as inscrições
para 2009. Conforme informações obtidas por Oriundi, em menos de três
dias, o Consulado já havia recebido mais de 3 mil agendamentos.
O agendamento deverá ser feito no site do Consulado, no link “Agendar
atendimento”, preenchendo os dados nome, sobrenome, nacionalidade, local
e data de nascimento, endereço residencial, escolaridade, telefone e
e-mail do interessado, sem a necessidade de informar a respeito da
origem exata, de comune ou paróquia, do antepassado italiano transmissor
da cidadania.
Os pedidos deverão ser feitos exclusivamente mediante agendamento
para a legalização de certidões de registro civil para as pessoas que se
dirigem diretamente às Prefeituras italianas de residência ou junto aos
Consulados italianos em cuja jurisdição estejam residindo legalmente. Em
comunicado publicado no site do Consulado, o cônsul Marco Marsilli
ressalta que, em vista do elevado número de pedidos para este serviço, é
necessário que sejam evitados, ao máximo, marcações para antecipar ou
remarcar agendamentos.
Segundo informa o Consulado, o pedido de agendamento deve ser feito
unicamente em nome do interessado (ou seja, o usuário final da
documentação) que deverá se apresentar na data fixada para a entrega da
documentação junto ao setor URP do Consulado. Cada solicitação deverá
corresponder à entrega de documentos de uma só pessoa, ou seja, o
agendamento é individual e não vale para demais familiares da pessoa
agendada. Caso o agendado não possa comparecer no dia e hora fixados
poderá delegar formalmente uma terceira pessoa para a apresentação dos
documentos (que deverá mostrar o original da Procuração na data
marcada).
Ainda conforme o Consulado, a abertura de agendamento destina-se
unicamente ao serviço de legalização de documentos e não será
considerado válido para nenhum outro serviço consular. Serão legalizadas
exclusivamente certidões apresentadas em original, recentes e com firma
reconhecida em Tabelião de Notas de São Paulo – Capital, anexando um
comprovante de endereço, original e recente, em nome do interessado (as
traduções podem ser feitas também na Itália).
O Consulado aconselha que as certidões sejam apresentadas, pelos
interessados, no formato “inteiro teor” e avisa que a entrada no
Consulado será permitida mediante apresentação do e-mail de convocação e
documento de identidade original válido (RG ou RNE) em nome do
interessado ou de seu Procurador.
(©
Oriundi) |