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Migrazioni ItaliaOggi

 

Fila para cidadania italiana tem 500 mil brasileiros

04/06/2008

Ter o passaporte italiano facilita a entrada nos EUA e na Inglaterra, por exemplo.


Números da Embaixada da Itália, em Brasília, mostram que cerca de 500 mil brasileiros estão na fila de espera em consulados para o reconhecimento da cidadania italiana.

O número é praticamente o dobro do total de brasileiros que já conseguiu cidadania por descendência.

"O número de brasileiros que já conseguiu obter a cidadania italiana por descendência é de cerca de 215 mil", informou à BBC Brasil o primeiro conselheiro do Departamento de Assuntos Consulares da Embaixada Italiana, em Brasília, Alberto Colella.

Apesar de ter direito garantido à segunda nacionalidade, a grande maioria não sabe quando o documento chegará. Apenas que poderá demorar meses, anos e até mesmo décadas.

Isso porque os consulados não se prepararam para a grande demanda e o governo italiano ainda não acenou com processos de informatização, ou mesmo contratação de novos empregados para lidar com o crescente número de pedidos.

"Os principais consulados no Brasil fazem uma média de 50 a 60 legalizações por mês, em processos que englobam famílias de cinco, seis e até dez pessoas", disse Imir Mulato, diretor da Agência Brasitalia, especializada em buscas genealógicas e serviços sobre cidadania italiana. "O governo italiano sabe que se colocasse mais funcionários, acabaria com as filas. Sabe também que, se fizer isso, mais ítalo-brasileiros irão para a Itália".

Segundo Imir Mulato, dentro dessa média, demoraria 30 anos para que todos os pedidos feitos no Brasil até o momento terminassem de ser avaliados.

Opção mais rápida

Para os que não querem esperar tanto, a opção é encaminhar a papelada diretamente em uma prefeitura italiana e comprovar residência fixa no país. Nesse caso, bastaria esperar de dois a quatro meses até se conseguir o reconhecimento da cidadania.

Foi o que fez a empresária Silvia Lezcano, que mora nos Estados Unidos há mais de uma década e resolveu passar uma temporada em Roma.

"Decidi encaminhar a papelada para facilitar a vida da minha filha mais velha", disse. "Ela sonha em fazer uma faculdade em Londres. Com o passaporte italiano, tudo se tornaria mais fácil".

A cidadania italiana é regulamentada pela lei número 91 de 5 de fevereiro de 1992. Baseia-se no princípio do jus sanguinis – termo latino que indica direito de sangue – e pode ser transmitida a todos que têm ascendência italiana por parte de pai em todas as gerações. Podem ser filhos, netos, bisnetos ou mesmo descendentes de gerações mais distantes.

Já do lado materno, a nacionalidade é restrita a quem nasceu depois de 1948, quando a Itália igualou direitos de homens e mulheres.

Mercado

Em função do contingente de cidadãos brasileiros com direito à segunda nacionalidade, a quantidade de escritórios especializados em processos de cidadania italiana é grande. Alguns escritórios cobram até R$ 5 mil para reunir e encaminhar documentos aos consulados.

Se o cliente desejar o auxílio na Itália, alguns escritórios arrumam residência fixa no país, onde a pessoa ficará morando até conseguir a cidadania. O serviço custa em média 2,5 mil euros (R$6,7 mil).

Por ter uma das legislações mais flexíveis da União Européia, a Itália criou vantagens para seus descendentes inexistentes nos países do bloco europeu, que limitam a concessão da cidadania a filhos e netos.

Para os descendentes de italianos é tudo mais fácil. Um bisneto, por exemplo, pode obter a cidadania italiana e trabalhar regularmente em Londres ou Madri, o que é impossível para um bisneto de espanhóis, que não tem direito ao passaporte.

Estima-se que entre 300 e 400 brasileiros com passaporte italiano viagem à Itália todos os meses. Desses, apenas 10% ficam no país, 10% retornam ao Brasil, 40% vão à Inglaterra e os restantes 40% têm como destino outros países europeus, principalmente Espanha e Portugal.

"O sonho do imigrante brasileiro na Europa é ir para Londres", assinala o demógrafo do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC-Minas, Duval Fernandes. "Lá trabalha-se por hora, o mercado é desregulamentado e ganha-se numa moeda estável e forte."

Rumores de mudança

Apesar dos rumores no ano passado de que a lei da cidadania mudaria, restringindo o direito apenas a filhos e netos de italianos nada aconteceu.

Mas um Projeto de Lei de iniciativa do governo está em análise na Câmara dos Deputados e prevê algumas modificações.

Entre elas, a introdução do jus soli – nacionalidade pelo lugar de nascimento –, como princípio de transmissão da cidadania, e o direito dos descendentes de italianas nascidos antes de 1948.

"Não existe nenhum projeto de lei ou emenda que prevê alguma limitação ao jus sanguinis", afirmou o senador Edoardo Polastri, eleito em 2006 pelos italianos que moram na América do Sul.

(© BBC Brasil)


Michê na Itália sustenta a família no Brasil

Valquíria Rey

Muitos recém-chegados enfrentam dificuldades para encontrar emprego.
Antes de chegar a Roma, Cássio*, de 32 anos, já sabia da existência de um grande número de travestis brasileiros no mercado do sexo na Itália. Não imaginava, no entanto, que ele também entraria no mundo da prostituição masculina.

"Não sou gay. Faço isso apenas por dinheiro", disse à BBC Brasil. "Entrei nesse mundo por desespero. Estava sem emprego, sem nenhum centavo no bolso e precisava enviar alguma coisa para a minha família."

Ele se prostitui há pouco mais de dois anos, mas – até hoje – não teve coragem de contar o que faz à família nem pensa em fazer isso.

"Morro de vergonha. Não conto o que faço ao meu melhor amigo nem a ninguém. É uma grande humilhação", disse, com lágrimas nos olhos. "Também me cuido muito. Não tenho nenhuma relação sem camisinha."

Segundo o curitibano, há outros brasileiros na mesma situação, que se definem heterossexuais, mas são levados pelas dificuldades da vida no exterior a fazer programas com outros homens.

"É o desespero que nos leva a isso", garantiu. "Me arrependo todos os dias de ter entrado nesse mundo e choro todas as noites por isso. Mas ainda preciso juntar mais dinheiro e comprar uma casa para a minha família."

Desemprego

Ainda no Brasil, Cássio pensava que poderia conseguir trabalho facilmente em restaurantes ou hotéis e mandar dinheiro para sustentar a mulher e os dois filhos que ficaram em Curitiba, no Paraná.

Mas, nos primeiros três meses na capital italiana, conseguiu apenas distribuir panfletos por alguns dias, ganhando 18 centavos de euros (equivalente a quase R$ 0,50) por cada um. No mês seguinte, outro emprego temporário, como atendente em uma pizzaria três vezes por semana.

O que ganhava mal dava para pagar pelo transporte, alimentação e o aluguel do quarto – 250 euros mensais (cerca de R$ 682)– que dividia com um amigo na casa de uma família italiana. Nos quatro primeiros meses na Itália, não conseguiu enviar nada para a família no Brasil.

"Saía todos os dias para procurar um emprego de verdade. Mas não aparecia nada", lembra. "Um dia, resolvi botar anúncio em um jornal e fiquei muito surpreso com o que aconteceu: tinha apenas anunciado que era um brasileiro recém-chegado na Itália, buscando emprego como enfermeiro, garçom, ou acompanhante de idosos. No entanto, vários homens me ligaram achando que eu estava me oferecendo para fazer programas".

Cássio dizia que não estava interessado e que queria apenas um trabalho. Mas os homens eram insistentes e não paravam de ligar.

Pensou durante dois dias até que cedeu. Depois do primeiro encontro, surgiu o segundo, o terceiro e ele não parou mais.

"Vim para a Itália com o compromisso de trabalhar, economizar e comprar uma casa para minha família no Brasil. Mas a situação foi ficando cada vez mais difícil. Não tinha documentos e o dinheiro estava acabando", afirmou. "Não poderia ficar aqui sem ganhar nada. Nem emprego temporário estava aparecendo."

Caminho fácil

Ex-gerente de uma loja de roupas masculinas no Brasil, Cássio diz que, apesar de humilhante, fazer programas é um caminho rápido e fácil para ganhar dinheiro.

O paranaense se define como de classe média na Itália. Está morando sozinho em um apartamento em uma cidade vizinha a Roma e comprou um carro para fazer os programas em domicílio com mais tranqüilidade.

"Não marco nenhum encontro na minha casa para evitar confusões", disse. "Meus clientes nunca ficam sabendo onde moro e só faço contatos através da Internet e pelo celular."

Em comparação com a situação de muitos travestis brasileiros que se prostituem nas ruas de Roma, Cássio tem uma vida tranqüila.

Chegou à Itália com o dinheiro da indenização do último emprego no Brasil e não contraiu dívidas.

Dívidas

Muitos transexuais brasileiros, no entanto, chegam no país devendo até 10 mil euros (cerca de R$ 27 mil) para agenciadores que arrumam passagens aéreas, passaportes, dinheiro para o ingresso na Itália e hospedagem.

A situação dos homens é mais complicada do que a das mulheres. Geralmente, a dívida delas fica em torno dos três mil euros (cerca de R$ 8 mil), facilmente paga em um mês com uma média de três a cinco programas por noite. Os travestis levam muito mais tempo.

Mas eles são tão requisitados quanto elas. Em uma das avenidas conhecidas de prostituição masculina, a Campi Sportivi, em Roma, homens em carros elegantes chegam a fazer filas em busca de um programa.

Muitos transexuais são vítimas da exploração de quadrilhas que se dedicam ao recrutamento no Brasil. Esses grupos são responsáveis por colocá-los na rua, obrigando-os a pagar parte do que recebem diariamente para saldar o débito que contraíram para chegar no país, as despesas com moradia e o pedaço de calçada em que trabalham.

"É difícil saber o número total de transexuais do Brasil que se prostituem nas ruas da capital italiana, mas, certamente, são muitos", disse o major Lorenzo Sabatino, comandante do Núcleo dos Carabinieri de Roma.

Na avaliação de Sabatino, existem inúmeros grupos que se aproveitam da situação de ilegalidade dos brasileiros para explorá-los e ganhar dinheiro.

*Nome fictício

(© BBC Brasil)


Paulistana troca faxinas por prostituição


 
 
Ela chega a receber o equivalente a R$ 4 mil por noite.
A paulistana Valentina*, de 24 anos, não se orgulha do que faz em Roma para ajudar a família e juntar dinheiro no Brasil. No entanto, considera a prostituição um trabalho como outro qualquer, com a diferença de ser muito mais rentável que outros desempenhados por brasileiras na Itália.

Há três anos, ela decidiu que não queria mais, como descreve, sentir-se sempre cansada, cheirar a desinfetante, ter as unhas quebradas e pouco dinheiro no bolso, limpando casas por oito euros – pouco mais de R$ 20 – a hora.

"Já no primeiro emprego que arrumei, meu patrão ficou se insinuando, prometendo jóias e outros presentes se eu ficasse com ele. O homem era casado e decidi cair fora. Mas passei pela mesma situação outras vezes", contou à BBC Brasil.

Sem tempo para se divertir, fazer academia de ginástica e comprar roupas novas, resolveu seguir o conselho de algumas amigas. Abandonou as faxinas para entrar no mundo dos programas de luxo na capital italiana.

"Pintei os cabelos de loiro, comprei roupas mais sensuais, fiz fotos de biquíni e montei uma página na Internet. Foi assim que tudo começou", disse a paulistana, que mora em Roma há pouco mais de quatro anos.

"No início, trabalhei na casa de um ítalo-argentino com outras quatro brasileiras, até que consegui alugar um apartamento só para mim no centro histórico da cidade".

Hoje, Valentina conta a propaganda feita por seus clientes entre conhecidos e faz os programas sempre agendados por meio de três números de telefones celulares.

Inscrita em uma escola de italiano – que freqüenta esporadicamente –, seguindo recomendação de um cliente, ela conseguiu a documentação de estudante para permanecer no país.

Entre seus clientes, estão empresários, atores, jogadores de futebol, políticos e estudantes, que são atendidos das 12h às 20h e pagam entre 100 e 300 euros (cerca de R$ 270 e R$ 810) por programa. Fora desses horários, ela cobra muito mais. O atendimento em domicílio é o dobro do preço.

O faturamento depende da quantidade de programas que faz. De acordo com ela, não é muito difícil ganhar 1,5 mil euros por dia (cerca de R$ 4 mil). Certa vez, ela conseguiu ganhar quase 30 mil euros (cerca de R$ 80 mil) em um mês.

"Eles pedem para ouvir bossa-nova, querem que eu dance samba e que fale palavrões em português", disse. "Eu não me importo, fico amiga deles, dou muitas risadas. Tenho clientes que me visitam todas as semanas. A única coisa que não faço é trabalhar de graça. Nunca deixo de cobrar."

Mas nem todas as prostitutas brasileiras na Itália são altas, exuberantes e têm a mesma sorte de Valentina. A maioria não consegue faturar o mesmo ou trabalhar de maneira independente.

Chegam a Roma, a Milão, ou a qualquer outra cidade italiana devendo mais de 3 mil euros (cerca de R$ 8 mil) para amigos ou agenciadores, que oferecem os recursos para viajar, como passaporte, passagem, dinheiro para o ingresso no país, recepção e hospedagem.

Quase todas são exploradas por um ou mais gigolôs –que ficam com o maior percentual dos rendimentos –, trabalhando em clubes ou apartamentos, e ganhando menos de a metade daquelas que trabalham de forma independente.

"Esse é um fenômeno bem conhecido no país, difundido nas grandes e também nas pequenas cidades", disse à BBC Brasil Domenico Condello, diretor de um comissariado da polícia no centro de Roma, que, recentemente, desmantelou uma quadrilha que explorava prostitutas brasileiras.

Segundo a antropóloga Adriana Piscitelli, que estudou o fenômeno da prostituição de brasileiras em alguns países europeus, a maioria das prostitutas faz isso porque quer.

Muitas das que entrevistou enviavam dinheiro para o Brasil, onde estavam comprando imóveis ou terrenos.

"Elas não amam a profissão, mas dizem que a Europa ofereceu melhores condições de vida e boas oportunidades econômicas para quem tem nível de escolaridade baixo."

De acordo com a antropóloga, a motivação dessas mulheres para ir à Itália é sempre econômica, e o mesmo ocorre na Espanha e em Portugal.

*Nome fictício

(© BBC Brasil)

Para ler+ sobre o tema, clique aqui (Brasileiros Sem Fronteiras, Especial  da BBCBrasil)

 

 

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