Está chegando a hora da materialização de um sonho: a inauguração do
Moinho Colognese, com o seu Museu do Pão e uma escola de gastronomia,
marco inicial do Caminho dos Moinhos, no município de Ilópolis, a 176
quilômetros de Porto Alegre, na região do Alto Vale do Taquari,
ocorrerá no próximo dia 22. Um dos mais representativos projetos de
resgate da história e da cultura da imigração italiana no Rio Grande do
Sul, o projeto visa promover o desenvolvimento sustentável da região,
por meio da recuperação patrimonial e da valorização das tradições dos
imigrantes, que ali se estabeleceram a partir de 1905.
O conjunto arqutetônico e museológico, em uma área de 550 metros
quadrados, é um diálogo entre tradição e modernidade, unindo as raízes
de um passado sofrido, marcado pelo trabalho duro, mas também pela
poesia, a um futuro com muitas expectativas. Envolve o Moinho colonial
que, restaurado, volta a funcionar e a produzir farinha nos moldes de
antigamente; o Museu do Pão, que conta o percurso milenar desse
alimento, cujo simbolismo universal sempre se expressou de maneira
contundente no cotidiano dos italianos; e a Oficina de Panificação, que
se insere no resgate da culinária tradicional dos imigrantes e na
formação e capacitação de jovens para o exercício da profissão.
O projeto, que contou com a colaboração do Instituto Ítalo
Latino-Americano,do Ministério das Relações Exteriores da Itália, do
Ministério da Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande
do Sul, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), da Prefeitura Municipal
de Ilópolis, da empresa Brasil Arquitetura, da Associação dos Amigos dos
Moinhos do Vale do Taquari, tem o patrocínio da indústria de produtos
alimentícios Nestlé do Brasil, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do
governo do Estado. O investimento foi superior a R$ 1 milhão.
Erguido em 1917, com tábuas de araucária, o moinho, que deu origem ao
projeto, foi uma herança deixada pelos imigrantes italianos no Vale do
Taquari. Para evitar a demolição do prédio, a prefeitura sugeriu à
comunidade a formação da Associação dos Amigos dos Moinhos que, com
patrocínio da Nestlé, comprou o imóvel em julho de 2004.
Vista externa do museu à noite: diálogo arquitetônico entre o
moderno e o antigo
O grupo e a prefeitura buscaram apoio do Ministério da Cultura, que
conseguiu uma parceria com o Instituto Ítalo-Latino-americano. Agora, o
moinho ficará em operação para mostrar aos visitantes o processo de
moagem de grãos. Em seu interior, funcionará uma Bodega.
O Museu do Pão vai mostrar o início do cultivo do trigo na história
da humanidade até a imigração italiana na região. As explicações serão
repassadas em vídeos e também em painéis que estarão relacionados a
peças antigas, como ferramentas da agricultura e da culinária, que foram
sendo coletadas junto à comunidade do município de 4,5 mil habitantes e
de cidades vizinhas.
A escola de panificação oferecerá cursos profissionalizantes para
padeiros, a partir de convênios firmados com a Universidade de Caxias
do Sul, campus de Flores da Cunha, e com a Univates, de Lajeado, que têm
experiência em cursos de gastronomia.
Segundo o coordenador-geral do projeto, Manuel Touguinha, a escola
pretende formar profissionais capazes de manter uma tradição ameaçada
pela praticidade da vida moderna, que trouxe os pães feitos em série e
com massa pré-misturada.
Erguido em 1917, com tábuas de araucária, o moinho, que deu
origem ao projeto, foi uma herança deixada pelos imigrantes
italianos no Vale do Taquari
- Estamos perdendo a arte milenar de preparo do pão, o alimento mais
nobre e com maior simbolismo universal. No Estado, são raros os padeiros
que fazem um pão com arte - acentua Touguinha. Ele também destaca os
entendimentos que já estão sendo mantidos no sentido de levar para a
escola a arte da culinária mediterrânea.
O diferencial arquitetônico do complexo fica por conta da harmonia do
velho com o novo, atesta o arquiteto responsável pelo projeto, Marcelo
Ferraz. Enquanto o moinho é um prédio antigo, o museu e a escola são
construções contemporâneas, que vão privilegiar o uso de vidros, mas têm
paredes e teto de concreto que imitam a madeira.
Nesta obra a arquitetura tem um diálogo com intervalo de quase cem
anos - observa Ferraz.
Tal característica inclusive rendeu ao projeto um convite para
ilustrar o Atlas de Arquitetura Contemporânea, que será lançado em maio,
na Inglaterra.
Interior da escola que resgatará a gastronomia dos imigrantes
italianos
O projeto mais amplo do Caminho dos Moinhos envolve a recuperação e a
inclusão de outros cinco moinhos. Em um deles, o moinho Castaman, no
município de Arvorezinha, estudantes já realizam um levantamento visando
a restauração. Outro moinho, o Fachinetto, em Arvorezinha, já foi
recuperado por iniciativa dos proprietários.
Sem disfarçar a emoção, o coordenador-geral do Projeto, Manuel
Touguinha, assinala ainda que a história da imigração italiana e a
história do pão serão disponibilizadas em dvd, que poderão ser
adquiridos pelos visitantes.
A mostra, que integra os eventos da Festa da Uva, apresenta 48
fotografias feitas por Aldo Toniazzo, mostrando o pão feito de
forma artesanal. Foto: Aldo Toniazzo/Divulgação
Produzida pelo Projeto Elementos Culturais das Antigas Colônias
Italianas do Nordeste do Rio Grande do Sul – Ecirs, unidade do Instituto
Memória Histórica e Cultural da Universidade de Caxias do Sul, a mostra
fotográfica “O trigo, o milho, a farinha, o pão”, foi inaugurada nesta
quinta-feira (14). Integrando a programação da Festa da Uva, a mostra
apresenta um conjunto de 48 fotografias feitas por Aldo Toniazzo,
mostrando o pão feito de forma artesanal, além de aspectos
significativos das lavouras de trigo e de milho, para a produção da
farinha, e dos cenários onde ocorrem tais processos.
A mostra fica aberta até nove de março, de segunda a sexta-feira, das 9
horas às 22 horas e, nos sábados, domingos e feriados das 15 horas às 22
horas, na Sala de Exposições do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique
Ordovás Filho (Rua Luiz Antunes, 312, bairro Panazzolo).
Já nos pavilhões da Festa da Uva, a partir de 21 de fevereiro, o
estande da UCS terá como atração a Mostra Fotográfica “Uvas e Vinhos”,
também produzida pelo ECIRS, com fotografias feitas nas décadas de 80 e
90, por Aldo Toniazzo e Ary Trentin (in memoriam).
São 20 imagens de parreirais, de colheita da uva e do vinho
produzido, simbolizando nesse conjunto fotográfico o processo de
trabalho e dedicação que transformou nossa região num pólo de
desenvolvimento e de crescimento respeitado e reconhecido no mundo
inteiro.
(©
Oriundi)