Nazarenno Mollicone
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Questura de
Roma, no bairro Flaminio Nuovo, um dos locais onde podem ser
apresentados documentos para a solicitação do permesso de
soggiorno. |
Por Olivia Bertolino, de Roma
De acordo com dados do Ministério do Trabalho na Itália, referentes a
2005, existe no país um milhão de italianos "desocupados”. Esse número
se deve ao fato de parte da população não estar disposta a fazer
trabalho “braçal” ou que represente desprestígio social, exercendo
funções como pedreiro, empregada doméstica e acompanhante de idosos.
Estas são profissões normalmente desempenhadas por imigrantes que chegam
ao país vindos de diferentes Continentes: do leste Europeu (Albânia e
Romênia), do norte da África (Argélia, Marrocos e Líbia), da América do
Sul (Chile, Peru e Brasil) e da Ásia (Filipinas e Bangladesh).
Os filipinos, peruanos e brasileiros, geralmente, trabalham como
empregados domésticos, acompanhantes de idosos, babas e, no setor de
serviços, como funcionários de hotéis. Os marroquinos atuam, na maior
parte, como comerciantes ambulantes ou donos de postos telefônicos. Já
os romenos, predominantemente, trabalham na construção civil.
A idade desses imigrantes costuma variar de 23 a 35 anos. A maioria
completou os estudos até o ensino médio, mas há aqueles que, embora
tenham cursado a universidade em seus países de origem, exercem funções
menos valorizadas na Itália.
As oportunidades de trabalho são atraentes na Itália para os
imigrantes, no entanto não basta querer. É preciso mais do que isso.
Atualmente, na Itália, há cerca de 2,5 milhões de imigrantes
extracomunitários (pessoas oriundas de países que não fazem parte da
União Européia). Aproximadamente, um milhão destes vivem de forma ilegal
no país, ou seja, não possuem o permesso de soggiorno (permissão de
permanência), no caso dos trabalhadores, permesso de soggiorno de
lavoro. Esta permissão dá o direito de trabalhar na Itália e de ter
acesso a assistência médica.
Segundo dados do Ministério do Interior, em 1998 foram concedidos
1.090.820 permisso de soggiorno, computados os de trabalho, turismo e de
estudante. Em 2003, este número passou para 2.227.567. Desses, 36% para
a América do Sul, sendo 11,34% somente para oriundos do Brasil.
Há duas formas de se obter o permesso de soggiorno: por iniciativa do
empregador, que faz a solicitação junto aos ministérios do Trabalho e do
Exterior italianos, e ao Governo brasileiro - o que pode demorar até um
ano. A outra opção, pouco aconselhada, é ir para a Itália como turista e
torcer para que o governo italiano determine a sanatoria, que é uma lei
que regulariza todos os trabalhadores ilegais.
- De tempos em tempos, o governo italiano se dá conta de que há
muitos trabalhadores irregulares, e então decreta a sanatoria que torna
legal aqueles que já estão trabalhando no país - explica Nazzareno
Molicone, secretário Confederale, da União Geral do Lavoro, entidade que
cuida dos direitos do trabalhador na Itália. Segundo Nazareno, está em
curso uma tratativa do governo italiano com o de outros países para a
criação de escritórios locais que cadastrem os interessados em trabalhar
na Itália. “Estamos tratando disso, mas ainda não há data para que
exista um escritório em todos os países, mas queremos fazer isso
brevemente”, garantiu.
Um imigrante regularizado, dependendo da profissão, uma acompanhante
de idosos, por exemplo, ganha em média 900 euros por mês, mais
assistência médica.
O imigrante ter o sobrenome italiano ajuda, ainda que isso não
assegure nada. “Com certeza, é mais fácil o descendente de italiano
estar aqui e se habituar, temos a tendência de procurar alguém parecido
conosco”, ressalta Nazareno.
(©
Oriundi)
Por ALINE BUAES
SÃO PAULO (ANSA) - O drama da imigração
africana para a Europa, temática rara no cinema europeu, retratado por
um cineasta sobrevivente da época em que a política dominava os roteiros
dos filmes italianos e que defende a "função cultural do cinema", foi
apresentado em São Paulo pelo mestre Vittorio
De Seta, que recebeu o Prêmio Humanidades na
premiação da 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Aos 83 anos, após passar quase 20 anos
longe do mundo do cinema, De Seta, que recebeu o Prêmio de Melhor Filme
no Festival de Veneza de 1961 pelo filme "Banditi a Orgosolo", voltou à
ativa com "Cartas do Saara" (2006) motivado em "interpretar a realidade"
da dramática imigração africana, que todos os anos leva milhares de
pessoas a atravessarem o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida melhor
nos países europeus.
"Cartas do Saara", apresentado este ano em
Veneza dentro de uma mostra especial, conta a história de um jovem
imigrante clandestino do Senegal, que interrompe seus estudos para
emigrar para a Itália. De Seta, que escolheu um tema ignorado pela maior
parte dos artistas italianos, conta que levou dez anos para escrever o
roteiro e que utilizou como fonte de informações diversos romances
publicados na Itália por jovens imigrantes provenientes do norte da
África.
Em conversa com a ANSA, o diretor, que foi
convidado pela Mostra de Cinema de São Paulo no âmbito da Retrospectiva
Cinema Político Italiano dos anos 60 e70, afirma que escolheu o tema da
imigração, "tão dramático na Itália e na Europa de um modo geral", para
mostrar sua mensagem de "otimismo" e salientar que o cinema também
possui "uma função cultural, não apenas de diversão".
"É preciso construir uma civilização
multiétnica juntos, é a única solução", defende o cineasta, que lembra
que "a indústria italiana também precisa disto, estamos cheios de
imigrantes trabalhando por lá, é preciso encontrar uma solução para
essas milhões de pessoas que chegam do mundo todo".
O diretor, que admitiu que a boa recepção
do filme entre o público italiano surpreendeu a todos da equipe de
trabalho, explicou à ANSA que foi procurado principalmente por
professores e diretores de escolas públicas, que desejam projetar o
filme para seus alunos devido à importância do tema tratado, pois "nas
escolas italianas, 10% dos alunos são estrangeiros não-europeus".
De Seta confirma, deste modo, sua
tendência a buscar retratar no cinema a realidade, especialmente a
temática dos povos marginalizados. Os pastores sardos retratados em
"Banditi a Orgosolo" eram marginalizados "porque eram considerados
bandidos" na Sardenha dos anos 60, enquanto os imigrantes africanos
retratados em "Cartas do Saara" são marginalizados porque "passam meses
como clandestinos esperando por um visto de permanência" na Itália dos
anos 2000.
Sobre o público brasileiro, o diretor
acreditava que apenas a poesia de "Cartas do Saara" poderia ser
compreendida totalmente, mas "o argumento principal talvez não, pois
aqui não existe esta temática da imigração", mas ao longo da conversa
reconheceu a semelhança com as migrações internas, especialmente do
Norte e Nordeste para o sudeste do Brasil.
(©
Ansa Latina)
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