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Migrazioni ItaliaOggi

 

Cooperação européia falha diante do afluxo de imigrantes no sul

12/09/2006

Desiree Mantin/AFP

Imigrante exausto é socorrido por turistas: rumo à Europa

Philippe Ricard
Enviado especial a Lappeeranta, Finlândia


O afluxo contínuo de imigrantes africanos às ilhas Canárias, mas também a Malta e à Sicília, constitui um temível batismo de fogo para a nova agência européia Frontex. Encarregada há quatro meses de ajudar os países do sul a administrar a situação, sua ação é considerada demasiado lenta e ineficaz por Madri.

Mais de 1.400 imigrantes clandestinos chegaram em embarcações de pescadores à costa das Canárias nos últimos sábado e domingo (2 e 3), o número mais elevado para um fim de semana desde janeiro.

Instalada em Varsóvia em 2005, a Frontex tem por missão coordenar os esforços de cooperação entre os 25 países membros da União Européia em suas fronteiras externas. Ainda falta que os meios sejam disponibilizados.

Em Madri, o governo pede que a Europa "faça mais" para ajudá-la. Foi o que repetiu o chefe da diplomacia espanhola, Miguel Angel Moratinos, no sábado (2) durante a reunião dos ministros das Relações Exteriores da UE organizada pela presidência finlandesa em Lappeeranta, na fronteira entre a Finlândia e a Rússia.

"Diversos problemas surgiram na implementação das operações ao largo das ilhas Canárias", reconhece o diretor geral da Frontex, o finlandês Ilkka Laitinen, também convidado a Lappeeranta. Mas ele minimiza o alcance das dificuldades encontradas nas Canárias: "É claro que a cooperação com os espanhóis pode ser melhorada, mas ela funciona", considera. "Essa operação piloto é satisfatória, já que ao mesmo tempo somos solicitados em Malta."

O órgão deve dedicar por enquanto o essencial de seus efetivos - 65 pessoas - às duas missões realizadas no Mediterrâneo. Uma situação que deverá ser "excepcional", na opinião de Laitinen.

Além das costas mediterrâneas, a Frontex identifica três outras "zonas de risco" em termos de imigração: as fronteiras orientais da Europa, as dos Bálcãs ocidentais e os principais aeroportos internacionais. Suas equipes também devem intervir na formação de guardas de fronteira dos 25 países, analisar os riscos migratórios e acompanhar as operações conjuntas de repatriação.

A pedido de Madri e do comissário de Assuntos Internos, Franco Frattini, os responsáveis da Frontex lamentam que só um punhado de países membros - Itália, Portugal, Alemanha, Finlândia e França - tenha respondido a suas solicitações para ajudar as autoridades espanholas.

"Ficaríamos muito contentes de precisar escolher entre capitais candidatas a trabalhar conosco, mas não é o caso", disse Laitinen para incitar os 25 "a mobilizar-se mais".

No caso do Mediterrâneo, o órgão precisa de navios e aviões para participar das operações comuns. "A cooperação é difícil, pois cada um quer conservar sua soberania e seus meios, ao mesmo tempo desejando se beneficiar do apoio dos outros em caso de necessidade", observa o diretor da Frontex. Ele lamenta que certos países membros - Bélgica, Chipre, Irlanda e Eslovênia - ainda não tenham colocado o menor pessoal à disposição de seus serviços.

Até 2010, porém, a agência prevê duplicar seus efetivos e seu orçamento (15,8 milhões de euros este ano). Laitinen também se surpreende com "a complexidade" das negociações com o Parlamento Europeu para receber as verbas previstas para garantir o desenvolvimento de seus serviços. Diante das dificuldades encontradas, em campo assim como em suas relações com as capitais, ele estima que "haverá necessidade de vários anos antes de atingir o nível" que deseja ter.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

(© Le Monde)


Rota para o paraíso

As Ilhas Canárias são a nova porta de entrada de imigrantes africanos na Europa

Ruth Costas

Encravadas no Oceano Atlântico, as Ilhas Canárias são um dos mais populares balneários da Europa. Todos os anos, quase 10 milhões de turistas – cinco vezes a população local – desembarcam em seus portos e aeroportos para curtir o clima ameno, banhar-se em águas termais ou se divertir em cassinos e campos de golfe. Neste ano, um novo grupo de visitantes está chegando aos milhares ao arquipélago, por uma rota bem mais arriscada e com outros objetivos: os homens e mulheres que fogem da miséria e do desemprego da África Subsaariana em pequenos barcos apinhados. Tornou-se comum os turistas europeus terem de abandonar seu banho de sol na praia para socorrer refugiados exaustos e desidratados, que chegam às ilhas depois de viajar por até 1 500 quilômetros em mar aberto. Como pertencem à Espanha, as Canárias são parte da União Européia e, portanto, do paraíso – ao menos do ponto de vista dos imigrantes africanos. Desde o início do ano já chegaram às areias do balneário 21 500 clandestinos, quase cinco vezes mais que no ano passado. A Cruz Vermelha estima que outros 3 000 morreram na tentativa – nos últimos oito meses, foram encontrados 490 corpos nas praias canárias.


As Ilhas Canárias são apenas a nova rota de um problema antigo: a tentativa frustrada da Europa de barrar o crescimento desenfreado da população de imigrantes ilegais e com baixa qualificação profissional. Estima-se que 15% dos 56 milhões de estrangeiros que vivem na Europa sejam clandestinos. Nos últimos anos, com o aumento do patrulhamento no Mar Mediterrâneo e o reforço nas cercas que protegem os enclaves espanhóis do norte da África, os traficantes tiveram de encontrar caminhos mais seguros para colocar seus clientes em território europeu. Inicialmente, partiam com seus barcos abarrotados do Marrocos em direção às Ilhas Canárias, a apenas 160 quilômetros de distância. Quando o governo marroquino intensificou o policiamento de sua costa, os imigrantes tiveram de partir de lugares cada vez mais distantes, como o Senegal e a Mauritânia. Os moradores das Ilhas Canárias temem que a enxurrada de imigrantes acabe por arruinar o turismo, responsável por quase 40% da economia da região. O enrosco maior, no entanto, acontece no continente. Como o arquipélago não possui infra-estrutura suficiente para abrigar tantos africanos, eles são transferidos pelo governo espanhol para a Península Ibérica. A lei do país só permite que fiquem detidos por quarenta dias. Como muitos não têm documentos, é praticamente impossível extraditá-los. Resultado: os imigrantes clandestinos são colocados na rua com um sanduíche, uma garrafa d'água e um ofício determinando que voltem para sua terra. Não é difícil concluir que a maioria prefira ignorar a ordem e ficar na Espanha ou se mudar para outro país europeu.

A Espanha passou as últimas semanas pedindo ajuda à União Européia para resolver a crise, com o argumento de que se trata de um problema de todos os europeus. Os espanhóis querem uma estratégia conjunta de seus parceiros na Europa para controlar as fronteiras, além de mais dinheiro para reforçar a vigilância marítima e pagar os custos do repatriamento de imigrantes. Apesar de a livre circulação de pessoas já ser uma realidade em grande parte dos países-membros da União Européia, cada um tem sua política migratória. A Espanha, por exemplo, foi criticada no ano passado por causa de um projeto para anistiar mais de 600 000 imigrantes ilegais, em uma tentativa de aumentar o volume de impostos arrecadados e controlar as condições de trabalho desses estrangeiros. Com a anistia, o governo espanhol tentou dar uma solução pragmática para uma questão que divide os europeus: o paradoxo da imigração. Por um lado, teme-se o choque cultural que a invasão de estrangeiros poderia causar. Por outro, a chegada de trabalhadores de fora é uma injeção de vigor na economia da região.

Os imigrantes trabalham na colheita, constroem edifícios e limpam casas, garantindo a mão-de-obra jovem e barata necessária para preencher postos de trabalho rejeitados pelos europeus. De acordo com uma pesquisa de um banco catalão, não fosse pelos estrangeiros, na última década a economia espanhola teria caído 1% por ano, em vez de crescer a uma média de 3,6%. Mesmo admitindo a entrada de trabalhadores como uma necessidade econômica, muitos europeus ainda temem que o ritmo com o qual ela vem se intensificando seja insustentável. A Inglaterra, por exemplo, no ano passado, deu vistos de permanência a 180.000 estrangeiros, três vezes mais que em 1996. Pelas estimativas mais conservadoras, outros 600.000 imigrantes já vivem ilegalmente no país. Na Espanha, os estrangeiros passaram de 2% para 10% da população na última década. Apenas uma minoria veio em barquinhos saídos da África. A imagem de pessoas exaustas e famintas chegando às praias canárias, no entanto, é a face mais dramática de um dos maiores desafios do bloco europeu neste início de século.

(© Veja)


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