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Cena de Um Franco, 14
Pesetas, do espanhol Carlos Iglesias |
RUI MARTINS
Colaboração para o UOL, de Locarno, Suíça
Dois filmes exibidos
nesta segunda-feira no festival de Locarno
trataram da imigração, tema caro à Comunidade Européia nos dias de
hoje. Um é "Um Franco Igual a 14 Pesetas", do cineasta espanhol
Carlos Iglesias, filho de imigrantes que viveu seis anos, quando
criança, na Suíça alemã; o outro é "Das Fräulein", da cineasta
Andrea Staka, suíça de origem iugoslava.
O filme espanhol retrata apenas as boas recordações de uma família
imigrante temporária e suas decepções no retorno à Espanha de
Franco, mostrando uma Suíça ideal do começo dos anos 60, não mais
existente.
Iglesias conta que havia 4 milhões de imigrantes espanhóis pela
Europa, nos anos 60, quando seus pais partiram, atraídos pela
incrível taxa de câmbio - um franco suíço valia 14 pesetas. Para
fazer o filme, ouviu inicialmente os depoimentos de seus pais, mas
chegou a entrevistar 58 famílias espanholas e italianas daquela
época, todas com um visão positiva da experiência suíça.
Justificando seu filme otimista de uma Suíça guardada na sua memória
infantil, o diretor fala que o objetivo de seu filme é mostrar aos
espanhóis de hoje a obrigação de darem boa acolhida aos imigrantes
ali chegando da África, lembrando-se que, no passado, a Espanha foi
também um país que exportou imigrantes.
"Das Fräulein"
Se no róseo "Um Franco Igual
a 14 Pesetas" a família retorna para amargar durante o resto da vida
a ilusão de que tudo era melhor no outro país, apagando da memória
todas as dificuldades ali vividas, em "Das Frälein", as personagens
sabem ser uma ilusão a idéia de uma volta, uma vez que os filhos já
vivem no novo país.
O filme suíço-alemão de Andrea Staka retrata o sentimento de três
mulheres (bósnia, sérvia e croata) que vivem na Suíça urbana,
divididas entre o país no qual procuram se integrar e o país de
origem para onde nutrem sempre o desejo inconstante de retornar.
"Às vezes me acordo com um pesadelo: quando morrer, onde vou ser
enterrada?", pergunta uma delas, ao que outra responde: "Deixa prá
lá, depois de morta isso não me interessa!". Essa é uma das muitas
inquietações de qualquer imigrante que, enquanto luta para se
integrar, aprender o novo idioma e fazer bem seu trabalho, sente
saudade de seu país natal, não esquece sua música, suas tradições e,
geralmente, manda um dinheiro para a família lá deixada, enquanto
guarda uma parte para construir um casa ou comprar um apartamento e
assim preparar a volta.
A visão da boa e má imigração, num mesmo dia no Festival de Locarno,
chega num bom momento. Dentro de um mês, a Suíça vai escolher se
aceita ou não a nova lei de asilo, uma aberração jurídica que vai
contra os direitos humanos e que reedita a fobia aos estrangeiros
dos anos 70.
(©
UOL Cinema)
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