PADOVA, Itália - Altivole, no
nordeste da Itália, era uma cidade sem crime antes dos imigrantes começarem a chegar,
há seis anos. Pelo menos isso é o que diz o prefeito Gino Dalese.
"A população de Altivole é de cerca de 6.200
habitantes, incluídos 320 imigrantes legais. Mas estima-se que haja outros mil imigrantes
ilegais", afirma Dalese, pertencente à uma coalizão de centro-direita da qual faz
parte a xenófoba Liga Norte.
"Há seis ou sete anos, não tínhamos crime.
Agora nossos carros são arrombados e nossas casas, roubadas."Seus comentário
coincidem com a visão de partidos como a Liga Norte e a Aliança Nacional, aliados do
candidato de centro-direita Silvio Berlusconi, o favorito para conquistar nas eleições
deste domingo o cargo de primeiro-ministro da Itália.
A direita do país costuma relacionar a criminalidade
com o influxo de imigrantes. Embora as estatísticas revelem queda nos índices de
violência, uma pesquisa em janeiro apontou que a presença de trabalhadores estrangeiros
é a terceira maior preocupação dos italianos.
Altivole é um dos típicos vilarejos da região do
Veneto onde pequenos e médios negócios familiares foram capazes de transformar um local
empobrecido num dos pontos mais ricos da Europa. Com o surgimento de indústrias de alta
tecnologia, a região deixou de exportar imigrantes para começar a recebê-los como
mão-de-obra.
"Se os imigrantes trabalham, tudo bem. Já
estamos nos acostumando a isso. Mas a maioria deles parece estar na vadiagem", disse
Renato, motorista de táxi em Padova, perto de Veneza.
Umberto Bossi, líder da Liga Norte que causou
desconforto em alguns de seus aliados ao propor a construção de uma muralha de 260 km na
fronteira com a Eslovênia para barrar a entrada de imigrantes dos Bálcãs, é popular na
região.
Na última eleição geral, em 1996, a Liga
conquistou cerca de 30 por cento dos votos no Veneto. Apesar de ter perdido um pouco de
popularidade no pleito regional de abril de 2000, o bloco de centro-direita mantém o
controle das quatro regiões mais ricas do norte italiano.
Mas enquanto muitos temem a vinda de estrangeiros,
jornais locais afirmam que o Veneto precisa desesperadamente de mão-de-obra para que o
ritmo de crescimento industrial seja mantido.
Embora o Veneto seja responsável por apenas 1 por
cento da população a Itália, a região produz cerca de 15 por cento do total exportado.
As taxas de desemprego na região são de 3,3 por cento, bem inferiores à média nacional
de 9,9 por cento.
Um relatório conjunto do Ministério da Indústria e
da Câmara de Comércio publicado no mês passado disse que a região necessita de 30 mil
novos trabalhadores por ano para manter o padrão atual.
"É um paradoxo...das 8h às 17h os imigrantes
são necessários e vistos com úteis pela Liga Norte", disse Stefano Cecconi,
diretor de uma central sindical em Padova. "Mas depois que as fábricas fecham, eles
têm que desaparecer."O líder direitista da Aliança Nacional Gianfranco Fini indaga
por que imigrantes estrangeiros devem ser permitidos se em algumas partes do sul do país
os níveis de desemprego chegam a 20 por cento.
Sua lógica, porém, esbarra na tradição italiana:
os filhos costumam querer ficar próximos à família, e os empregadores do norte têm
extrema dificuldade em convencer os desempregados do sul a mudar de lugar.
Um estudo da ONU publicado em 2000
calculou que a Itália teria de abrigar 9 milhões de imigrantes ao longo
dos próximos 25 anos para conseguir manter uma força de trabalho que
viabilize sua economia.
(Julia Hancock, Reuters)