Clube vai perder mando de campo e pretende evitar
problemas no futuro
ARAUJO NETTO
ROMA - A inevitável punição que hoje deve ser aplicada pelo juiz esportivo da Liga
Italiana de futebol - de interditar o Estádio Olímpico de Roma, o maior da Itália, por
um ou dois jogos do Lazio - levou o principal acionista e presidente do atual campeão
italiano a pedir que a justiça abra processo penal contra o grupo conhecido como dos
''irredutíveis nazistas e racistas'' da sua torcida. Aquele grupo que no clássico Roma 2
x 2 Lazio, disputado no último domingo, ofereceu a milhões de telespectadores da partida
transmitida para o mundo inteiro um espetáculo de violência e preconceitos.
O pedido do presidente do Lazio,
Sergio Cragnotti, é para que a policia investigue e a justiça processe a ação de ignoti,
pessoas de identidades ignoradas por ele, mas que provavelmente poderão ser localizadas
por policiais e magistrados, porque eram as mesmas que ostentavam faixas, exibiam
dísticos e formaram coros que agrediam o Roma, por ser ''uma equipe de negros'', por ter
uma torcida de judeus e por ser um clube de ''merda''. Coreografia e momentos deprimentes
que foram fartamente documentados por todas as emissoras de televisão e centenas de
fotógrafos (inclusive os da própria polícia) que se encontravam domingo à noite no
Estádio Olímpico, considerado o campo oficial do Lazio e do Roma, os ferozes rivais que
há mais de um século dividem as simpatias e antipatias dos romanos.
A dificuldade maior que os
investigadores encontrarão será a de indicar a que facção da torcida laziale se
poderia atribuir a autoria e encenação do triste espetáculo que emoldurou um dos mais
antigos clássicos do futebol da Itália. Quem esteve domingo no Olímpico ou já assistiu
em Roma a qualquer partida do Lazio, terá percebido que aquele tipo de comportamento não
se limita a um único setor ou grupo de torcedores do clube.
Nos estádios italianos, o título de
campeão de racismo e nazi-fascismo sempre foi disputado pelas torcidas do Verona e do
Lazio. A verdade é que o racismo, a politização do esporte e as tentativas de recriar
aos domingos, nos campos de futebol, as guerras entre cidades-estados que por séculos
dividiram a Itália, vêm se observando em quase toda parte.
Ocorre com freqüência em Reggio Calabria, cidade meridional, que sempre sofreu com as
violências e discriminações étnicas praticadas contra os calabreses. No último
amistoso disputado pela Seleção Italiana contra a Finlândia, Fabio Liverani, nascido na
Itália e filho legítimo de italianos, primeiro jogador de cor (mulato) a jogar pela Azzurra,
disputou ótima partida, ganha pela Itália, mas sempre que esteve com a bola nos pés,
ouviu o ''Bu-uu-uu'', coro com que os racistas dos diversos clubes italianos ''celebram''
as jogadas de jogadores mulatos e negros. Isto para não chamá-los de macacos.
(Jornal do Brasil)