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Lazio quer punir torcedores racistas

02/05/2001

 

 

Clube vai perder mando de campo e pretende evitar problemas no futuro

ARAUJO NETTO

   ROMA - A inevitável punição que hoje deve ser aplicada pelo juiz esportivo da Liga Italiana de futebol - de interditar o Estádio Olímpico de Roma, o maior da Itália, por um ou dois jogos do Lazio - levou o principal acionista e presidente do atual campeão italiano a pedir que a justiça abra processo penal contra o grupo conhecido como dos ''irredutíveis nazistas e racistas'' da sua torcida. Aquele grupo que no clássico Roma 2 x 2 Lazio, disputado no último domingo, ofereceu a milhões de telespectadores da partida transmitida para o mundo inteiro um espetáculo de violência e preconceitos.

   O pedido do presidente do Lazio, Sergio Cragnotti, é para que a policia investigue e a justiça processe a ação de ignoti, pessoas de identidades ignoradas por ele, mas que provavelmente poderão ser localizadas por policiais e magistrados, porque eram as mesmas que ostentavam faixas, exibiam dísticos e formaram coros que agrediam o Roma, por ser ''uma equipe de negros'', por ter uma torcida de judeus e por ser um clube de ''merda''. Coreografia e momentos deprimentes que foram fartamente documentados por todas as emissoras de televisão e centenas de fotógrafos (inclusive os da própria polícia) que se encontravam domingo à noite no Estádio Olímpico, considerado o campo oficial do Lazio e do Roma, os ferozes rivais que há mais de um século dividem as simpatias e antipatias dos romanos.

   A dificuldade maior que os investigadores encontrarão será a de indicar a que facção da torcida laziale se poderia atribuir a autoria e encenação do triste espetáculo que emoldurou um dos mais antigos clássicos do futebol da Itália. Quem esteve domingo no Olímpico ou já assistiu em Roma a qualquer partida do Lazio, terá percebido que aquele tipo de comportamento não se limita a um único setor ou grupo de torcedores do clube.

   Nos estádios italianos, o título de campeão de racismo e nazi-fascismo sempre foi disputado pelas torcidas do Verona e do Lazio. A verdade é que o racismo, a politização do esporte e as tentativas de recriar aos domingos, nos campos de futebol, as guerras entre cidades-estados que por séculos dividiram a Itália, vêm se observando em quase toda parte.

   Ocorre com freqüência em Reggio Calabria, cidade meridional, que sempre sofreu com as violências e discriminações étnicas praticadas contra os calabreses. No último amistoso disputado pela Seleção Italiana contra a Finlândia, Fabio Liverani, nascido na Itália e filho legítimo de italianos, primeiro jogador de cor (mulato) a jogar pela Azzurra, disputou ótima partida, ganha pela Itália, mas sempre que esteve com a bola nos pés, ouviu o ''Bu-uu-uu'', coro com que os racistas dos diversos clubes italianos ''celebram'' as jogadas de jogadores mulatos e negros. Isto para não chamá-los de macacos.

(Jornal do Brasil)

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