|
|
|
Verona: Um campeão de intolerância |
01/02/2001
ROMA, ITÁLIA -
Giambattista Pastorello, rico homem de negócios que nos últimos cinco anos se tornou
maior acionista e presidente do Hellas Verona Football Club, entrevistado por uma
televisão regional, reconheceu que a torcida extremamente racista de seu clube continua a
impedí-lo de contratar jogadores de cor, negros ou mulatos que sejam. Para evitar o que
aconteceu em julho de 1999, quando as ameaças feitas por 50 dos mais exaltados torcedores
veroneses obrigaram o presidente e seu filho, Federico, a desistir da contratação do
lateral brasileiro Zé Maria (José Marcelo Ferreira), hoje titular do time do Perugia, o
proprietário e principal dirigente do Verona achou melhor nem pensar na troca de um
atacante branco como Bonazzoli por Patrick Mboma, titular da seleção de Camarões,
atualmente contratado pelo Parma.
''Se mandássemos embora Bonazzoli, os torcedores me assariam
numa grelha... Se além disso, lembrássemos que para substituir Bonazzoli chegaria um
jogador de cor como Mboma, é melhor nem pensar numa coisa do gênero... Infelizmente a
torcida do Verona é assim mesmo. É mal feita, pelo menos quando se trata de jogadores de
cor'', reconheceu o presidente Pastorello, antes de terminar sua explicação com um
sorriso e uma frase irônicos: ''Só poderia concluir uma transação como essa se fosse
à Finlândia buscar o substituto''.
Fundado há 98 anos numa das mais bonitas e ricas cidades
da região do Veneto, no norte da Itália, campeão nacional da série A em 1984-85, o
Hellas Verona tem uma história que parece animada e acidentada pelos altos e baixos de
uma gangorra, que o tornou um dos clubes com maior numero de retrocessos para a série B e
promoções para a série A, desde os seus primeiros dias de vida (na primavera de 1903)
até hoje, o Verona só foi regular e constante pelo comportamento de uma torcida que
sempre fez tudo para assegurar ao seu clube o pouco invejável título de campeão mundial
da intolerância.
Ódio para qual muito tem contribuído o grupo que se
identifica como o dos ultra-nazistas, que freqüentemente se fazem ver nos estádios
ostentando bandeiras com a cruz suástica e bonés militares usados pelas tropas de elite
da Alemanha do ditador de Adolf Hitler. Nos últimos anos, o Verona vem se destacando
ainda como um dos poucos times italianos integrados apenas por jogadores brancos.
Certamente não é por acaso que os seis estrangeiros que este ano o defendem preenchem os
requisitos exigidos dos melhores arianos. Como o brasileiro Adailton, o argentino
Camoranesi, o croata Cvitanovic, o dinamarquês Larsen e o australiano Serica.
Uma das primeiras e mais escandalosas manifestações do
racismo da torcida do Verona foi vista em 1996, no Estádio Bentegodi, da cidade que
deveria ser inspirada pelo amor de Romeu e Julieta. Decididos a protestar contra a
presença de um jogador negro (Ferrie), contratado para jogar naquele campeonato com a
camisa azul-amarela do Verona, provavelmente os mesmos torcedores que hoje impedem a
contratação de Mboma, levaram e mostraram no estádio um boneco de pano preto, pendurado
numa forca, e com o nome de Ferrie. (Araujo Netto, Jornal do Brasil)
Racismo no
futebol gera reação na Itália
MILÃO, 30 (Reuters) - O presidente do Verona Giambatista Pastorello está
sendo duramente criticado após insinuar, numa entrevista a uma rede de TV italiana, que
poderia deixar de contratar jogadores negros por causa das atitudes racistas que a torcida
de sua equipe e de diversas outras do país têm tomado em relação aos atletas.
- Acho que é grave pensar que uma dúzia de
torcedores estão fazendo o presidente do clube de refém - disse o prefeito de Verona
Michella Sironi Mariotti.
A indignação do prefeito teve origem na
declaração de Pastorello sobre uma possível troca do atacante Emiliano Bonazzoli pelo
africano Patrick Mboma. O presidente do Verona disse que a saída de Bonazzoli irritaria a
torcida e que trazer um jogador negro não resolveria o problema.
- Nossos torcedores têm agido mal, pelo menos no que
se refere aos jogadores negros. Se a torcida faz isso, é preciso paciência - argumentou
Pastorello, cuja equipe não tem sequer um atleta negro.
O Verona soltou uma nota oficial em seguida negando
que o presidente quisesse insinuar que Mboma não seria contratado por causa da cor de sua
pele. O clube disse ainda que vai continuar condenando a intolerância racial.
Mas, antes disso, terá de pagar US$ 20 mil de multa,
pena estabelecida nesta terça-feira pela justiça esportiva italiana, por causa das
ofensas racistas que a torcida do Verona dirigiu ao francês Lilian Thuram, do Parma, no
jogo de domingo passado.
Nos últimos dias, a questão racial no Campeonato
Italiano até saiu do foro esportivo e entrou no campo político. A ministra da cultura do
país, Giovanna Melandri, chegou a escrever uma carta aberta ao Comitê Olímpico Italiano
expressando "preocupação com os episódios de violência e racismo no
futebol". (O Globo) |
|
|
|
|
|
|
|