ROMA - Os italianos têm medo dos estrangeiros e mais de 80% estimam que
há muitos imigrantes na Itália, segundo uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos
Sociais (Censis), publicada na semana passada. Segundo o Censis, um dos centros mais
prestigiados do país, que todo ano divulga um relatório, essa porcentagem reflete uma
distância "entre a realidade e a maneira de ver as coisas".
Itália, com efeito, é um dos países da União Européia (UE) que tem menos
imigrantes. Com uma população de 57 milhões de habitantes, há registrados um milhão e
meio de imigrantes e se calcula que o número de imigrantes clandestinos não supera meio
milhão.
O mesmo estudo indica que 88,1% dos italianos esperam
que o governo limite os fluxos de imigrantes para a península. Para 74,9% dos italianos,
existe um laço direto entre a presença de imigrantes e o aumento da criminalidade. No
total, 80,4% dos italianos afirmam que há muitos estrangeiros.
Mais de um italiano a cada dois (48,5%) estão
convencidos de que os imigrantes aumentam os riscos de enfermidades contagiosas. Para o
Censis, 32,2% dos imigrantes que residem na Itália reconhecem que foram vítimas de atos
de racismo.
A questão dos imigrantes é um dos cavalos de
batalha da campanha eleitoral que se realiza na Itália, com vistas às legislativas do
próximo ano, já que alguns partidos políticos, em particular de extrema-direita,
utilizam a imigração e o medo que desperta para combater a política do governo de
centro-esquerda de regulamentar os fluxos de entrada.
Os movimentos de direita, como o dos separatistas da
Liga Norte, exigem a "imigração zero", embora numerosos industriais dessa
região, os quais apóiam o movimento, solicitassem há poucos meses a abertura das
fronteiras a um maior número de imigrantes para trabalhar em suas fábricas, de maneira a
poderem respeitar os compromissos de produção.
Segundo o relatório anual do Instituto Nacional de
Estatística, divulgado em novembro, a Itália precisa dos imigrantes para equilibrar sua
queda demográfica (a taxa de natalidade é negativa) e responder às necessidades de
mão-de-obra.
Segundo cálculos oficiais, a população pode passar
dos atuais 57 milhões a 41 milhões em 2050, e necessita da entrada de 300.000 imigrantes
a cada ano. A Igreja Católica, e em particular alguns prelados, alimentam o medo da
população, que tem uma opinião sobre a questão, conforme o Censis, na base do que ouve
na televisão (66,2%).
Uma grande polêmica ocorreu recentemente após as
declarações do cardeal Giacomo Biffi, arcebispo de Bolonha, centro da Itália, que
denunciou "o perigo muçulmano", que "ameaça a identidade nacional
italiana".
Segundo o Censis, 49% dos
imigrantes provêm de países não-católicos, e as religiões que mais
cresceram no último ano são as igrejas evangélicas, a dos mórmons e a
das testemunhas de Jeová.
(Tribuna da Imprensa)
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