ROMA - Pelo bem da Itália, para preservar sua identidade nacional, o
cardeal-arcebispo de Bolonha, Giacomo Biffi, revelou ter solicitado ao atual governo de
centro-esquerda drásticas medidas para recusar vistos de entrada no país aos imigrantes
muçulmanos. Aplaudido por cerca de 300 sacerdotes católicos da sua cidade e da região
da Emilia Romagna, numa cerimônia pública realizada num palácio de Vila Revedin, nas
colinas bolonhesas, o cardeal Biffi justificou sua proposta, que foi imediatamente
criticada por italianos mais tolerantes e aplaudida por expoentes da Liga Norte, o partido
separatista e mais racista da Itália.
"Se vocês querem realmente o bem da Itália e poupar tantos sofrimentos, não
podem deixar entrar todos os imigrantes. Devem privilegiar o afluxo dos católicos. (...)
Os critérios para admitir os imigrantes não podem ser só econômicos. Devem se
preocupar seriamente em salvar a identidade da nação. A Itália não é um território
desabitado, sem história e sem tradições, que deve ser povoado
indiscriminadamente", disse o cardeal Biffi, nascido em Milão há 72 anos, arcebispo
de Bolonha desde 1984, muito prestigiado por João Paulo II, membro de três importantes
comissões pontifícias - para a evangelização dos povos, para o clero e para a
educação católica.
O cardeal Biffi revelou também que seu conselho favorável à exigência do
"passaporte religioso" para imigrantes foi transmitido por ele a um
"inteligente ministro do governo nacional", que o teria ouvido com atenção e
interesse.
Decidido a enriquecer e tornar mais convincente a explicação da exigência do
"passaporte religioso", o cardeal Biffi lembrou que "nem todas as culturas
dos recém-chegados são favoráveis à convivência". E os muçulmanos se incluiriam
entre os incompatíveis com pessoas e fiéis de outras religiões. Recordando que há
muitos anos vem prevenindo e pedindo iniciativas para evitar a islamização da Europa, o
cardeal-arcebispo de Bolonha, falando ao clero de Bolonha e da Emilia Romagna, fez outras
revelações sobre o diálogo que teve com o "inteligente ministro" do governo
de centro-esquerda que ouviu a sua recomendação. "Admiro-me de vocês não terem
ainda parado para pensar e refletir sobre os riscos que a Europa corre de transformar suas
sextas-feiras em dias de feriado; de aceitar e oficializar a prática da poligamia; de
discriminar a mulher; de reconhecer como legítimo o "integrismo" dos
muçulmanos, para os quais a política e a religião são a mesma coisa."
Intelectuais e jornalistas leigos temem que o discurso do cardeal Biffi faça parte do
projeto de transformação da Itália num estado teocrático que está ganhando adeptos
neste fim de século. Os números dos "passaportes religiosos" dos imigrantes
que vivem e trabalham legalmente na Itália não dariam razão aos argumentos alarmistas
do cardeal Giacomo Biffi. Hoje, os imigrantes muçulmanos são 457 mil; os católicos, 342
mil; outros cristãos, 276 mil; de diversas religiões orientais, 81 mil. (Araújo Netto,
AJB)
Cardeal italiano critica imigração muçulmana
ROMA - Os comentários de um importante cardeal, que defendem
restrições à imigração muçulmana por parte do governo da Itália a fim de preservar
a identidade católica do país, detonou na quinta-feira uma acirrada polêmica.
Ministros e até mesmo alguns padres condenaram como perigosas e
reacionárias as palavras do cardeal, Giacomo Biffi, contra os muçulmanos.
Os comentários foram feitos em uma carta enviada à Arquidiocese de
Bolonha.
Apenas a Liga do Norte, separatista, e a Aliança Nacional, de
extrema-direita, deram apoio a Biffi, um conservador mencionado algumas vezes como
possível sucessor do papa João Paulo II.
"Li sobre as palavras do cardeal Biffi sem acreditar",
disse Livia Turco, ministra dos Assuntos Sociais. Turco, cujo órgão determina em parte
as políticas de imigração, é uma católica praticante.
"Um Estado secular e democrático não pode nunca aceitar a
discriminação feita com base na religião, na etnia ou na cultura."Para Paolo
Ferrero, importante membro do Partido da Refundação Comunista, "esse é um
posicionamento racista, que rende homenagem ao pior tipo de xenofobia de direita da
Europa."Apesar de serem uma minoria, o número de muçulmanos ultrapassou o de judeus
na Itália, fazendo deles o segundo maior grupo religioso do país depois dos católicos.
Há cerca de 500 mil imigrantes muçulmanos registrados.
Críticas às declarações de Biffi também foram feitas por
economistas, segundo os quais a mão-de-obra imigrante é fundamental para o
desenvolvimento econômico da Itália.
(Reuters)
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