Ricardo Stuckert/PR,
09/04/2005
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Presidente
Lula e Dona Marisa durante visita à Basílica de São
Francisco de Assis, na Itália |
da
BBC, em Londres
O caso da primeira-dama brasileira,
que também é cidadã italiana e pode votar nas próximas eleições na
Itália, foi usado criticar o abuso na concessão de passaportes para os
“oriundi” e para defender o direito de voto dos estrangeiros que moram e
trabalham no país.
A crítica teria vindo do
ex-premiê Massimo D’Alema, um expoente da coalizão de centro esquerda,
muito ligada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e foi tema de um
artigo publicado no principal jornal italiano, o Corriere della Sera.
O título do artigo é “A mulher de
Lula vota, a babá de meus filhos não”. D’Alema, que é amigo de Lula, é
presidente do maior partido da esquerda italiana, o DS (Democráticos da
esquerda).
De acordo com o jornal, ele acha
uma disparidade que os italianos residentes no exterior possam votar e
os imigrantes que estão no pais há anos não tenham esse direito.
O presidente do DS teria usado
como exemplo o caso da primeira-dama Marisa Letícia, bisneta de
italianos, que obteve o passaporte, com direito ao voto. O exemplo foi
citado durante uma conferência do partido, segundo o jornal.
O político teria contado que numa
de suas viagens ao Brasil, Marisa Letícia contou a ele pessoalmente que
tinha recebido o certificado eleitoral.
“Ela fala apenas português, não
sabia o que era”, teria dito D’Alema, definindo como absurdo que a babá
de seus filhos, que vive legalmente há dez anos em sua casa e paga os
impostos, não tenha o mesmo direito.
A primeira-dama brasileira obteve
o passaporte italiano porque seus bisavós emigraram para o Brasil no
início de 1900. Segundo uma lei italiana, aprovada em 1992, isto é
suficiente para que o descendente conquiste a cidadania.
Massimo D’Alema teria citado o
caso para criticar a política da direita italiana na concessão da
cidadania aos estrangeiros que moram no país. Ele considera que é
necessário dar o direito de voto aos imigrantes que trabalham
legalmente.
Outro ponto criticado por D’Alema
teria sido a facilidade de obter o passaporte para quem mora no
exterior. Ele teria definido a Itália como uma espécie de “fábrica de
passaportes”.
Os cidadãos italianos que vivem
no exterior com direito ao voto são cerca de 3 milhões, segundo dados do
Ministério para os Italianos no Mundo.
Nas próximas eleições, para
renovar o parlamento e eleger o novo primeiro-ministro, pela primeira
vez o voto dos italianos no exterior vai ter um peso relevante. E os
partidos já estão disputando estes votos.
D’Alema parece seguro que Marisa
Letícia vai ser um voto garantido para seu grupo. “Para nós do centro
esquerda, é um voto seguro”, teria declarado.
O partido de D’Alema informou que
as declarações do presidente não contradizem o apoio da agremiação à
legislação sobre os “oriundi”, embora considere que de um lado há muita
facilidade em distribuir passaportes italianos e, de outro, excessivas
limitações para os estrangeiros que vivem no país.
(© UOL)
BARBARA GANCIA
Pizza e polenta e olhe lá!
Há
pouco mais de um mês, comentei neste espaço a cidadania italiana obtida
pela primeira-dama, dona Marisa Letícia Lula da Silva. Desde então, não
paro de receber e-mails indignados de descendentes italianos que estão
há anos (literalmente) na fila tentando sem sucesso conseguir o
passaporte.
Uma reportagem publicada na última quarta no jornal italiano "Corriere
della Sera" revela que o passaporte obtido por dona Marisa não irritou
apenas os "oriundi" que acreditam que a mulher do presidente tenha
furado a fila dos candidatos à cidadania.
Massimo D'Alema, ex-primeiro-ministro italiano e atual presidente do
Partido Democrático da Esquerda, também vociferou contra o direito
adquirido pela primeira-dama. Relatou ao jornal que, em recente visita a
Lula em Brasília, dona Marisa teria perguntado a ele sobre um "estranho
documento" que lhe fora enviado pelo consulado. D'Alema percebeu que
dona Marisa nem sequer fala italiano. E deduziu que o documento em
questão era a cédula eleitoral para votar no referendo pela utilização
das células-tronco.
Segundo o ""Corriere", dona Marisa reagiu com surpresa quando foi
informada de que, junto com a cidadania italiana, ganhara direito ao
voto. A mulher do presidente afirma que só pediu a cidadania por
insistência dos filhos e que nunca fez questão do passaporte. "Ninguém
de nós quer ir embora do Brasil", diz ela. "É só uma oportunidade para
os meninos."
D'Alema não questiona a oportunidade, mas a conversa com dona Marisa em
Brasília chamou sua atenção para outro problema. O ex-primeiro-ministro
declarou que gostaria de ver os direitos dos descendentes italianos
estendidos aos imigrantes estrangeiros que vivem na Itália. "Por que
dona Marisa pode votar, enquanto a babá dos meus filhos, uma imigrante
que ajudou a criar as crianças e que paga impostos na Itália, não tem
esse direito?", pergunta ele.
O
"Corriere" atesta que a ascendência italiana de dona Marisa "é um tanto
remota" e trata sua "italianidade" com ironia, dizendo que a
primeira-dama não conhece a língua de Dante. "No nosso idioma, ela só
sabe dizer pizza e polenta", afirma a reportagem assinada, do Rio de
Janeiro, por Rocco Cotroneo.
Pois, não me importo se dona Marisa nunca ouviu falar em Michelangelo ou
Sophia Loren. O que eu quero saber é que oportunidade é essa que os
filhos de Lula vêem na Itália. Será que, como nós, eles também estão
fartos de viver num país que só escorrega na lama?
(© Folha
de S. Paulo)
Papa acaba com
independência de franciscanos em Assis
Vaticano -
O papa Bento XVI acaba de pôr um ponto final
nas quase quatro décadas de independência dos frades franciscanos da
cidade de Assis, na região central da Itália. O
Vaticano tornou público um decreto que submete os religiosos à
autoridade do bispo local e da Conferência Episcopal da Itália. A ordem
dos franciscanos foi fundada no século 13, por São Francisco de Assis.
São esses religiosos que até hoje guardam o corpo do santo. A cidade de
Assis, com as basílicas de São Francisco e de Santa Maria dos Anjos, é
um dos mais importantes centros católicos de peregrinação do mundo.
Desde o final dos anos 60, por decisão do papa de então, Paulo VI, os
franciscanos das duas basílicas gozavam de total independência jurídica
em relação à Igreja italiana. Os religiosos acabaram sendo vistos como
exageradamente esquerdistas por muitos católicos italianos. Os frades já
receberam figuras polêmicas, como o falecido líder palestino Yasser
Arafat e o iraquiano Tariq Aziz, que foi vice-primeiro-ministro de
Saddam Hussein. Todos os anos, na época da Páscoa, os franciscanos
realizam em Assis uma marcha pela paz, que é freqüentada por líderes da
esquerda e boicotada por políticos do centro e da direita.
Analistas acreditam que o decreto seja um acerto de contas do papa Bento
XVI. Segundo o escritor italiano católico Vittorio Messori, os problemas
do então cardeal Joseph Ratzinger com os franciscanos teve seu ápice em
outubro de 1986, quando foi realizado o primeiro encontro de líderes
religiosos em Assis. Na ocasião, os franciscanos permitiram que
animistas africanos sacrificassem galinhas no altar da Basílica de Santa
Clara e que índios americanos dançassem no templo. "Foi nessa época que
Ratzinger percebeu que não era possível que se mantivesse o enclave
franciscano fora do controle jurídico da Igreja", explicou o escritor.
(© O
Estado de S. Paulo) |