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Garotas sinuosas


 

Fruto da emancipação feminina, Valentina (de pé) gostava
de jazz, filosofia
e Eisenstein

Edições luxuosas exibem as sedutoras dos gibis e celebram Valentina, sua maior estrela

Natália Rangel

   E viva Valentina! A intrépida e sensualíssima fotógrafa, uma amante do jazz e da música clássica, fã do cineasta russo Serguei Eisenstein e das obras do escultor italiano Antonio Canova, acaba de ganhar uma luxuosa edição comemorativa pelos seus 40 anos de idade. Trata-se do livro Desnudando Valentina (Opera Graphica Editora, 384 págs, R$ 84), que nasceu da tese de doutorado de Marco Aurélio Lucchetti. Valentina, criada pelo mestre italiano Guido Crepax, era personagem coadjuvante num quadrinho antigo, Neutron, mas fez tanto sucesso que em 1965 ganhou vôo próprio. Tornara-se maior do que a obra que a originou, como disse Crepax à época.

   Valentina surge na Itália e seu estilo de vida celebra a emancipação feminina, especialmente a liberdade sexual conquistada, entre outras razões, pelo surgimento da pílula anticoncepcional. É tempo de culto à sensualidade feminina – que foi bela e generosamente filmada por Federico Fellini e Vittorio de Sica e encarnada por estrelas como Brigitte Bardot e Sophia Loren. A comparação com o cinema não é gratuita. O namoro entre cartunistas e cineastas é antigo. Orson Welles revelou ter se inspirado nos traços de Will Eisner, autor do gibi The Spirit, para compor Cidadão Kane.

   Milo Manara e Fellini criaram juntos a série de gibis Viagem a Tullum, editada no Brasil na década de 80. Nessa época surgem muitas heroínas eróticas nos quadrinhos, colegas de Valentina, como a Barbarella, de Edizione, e Molly Malone, de Milo Manara. As musas italianas mereceram um livro especial editado este ano: Tentação à italiana, de Gonçalo Junior, um perfil dos principais mestres do erotismo contemporâneo.

   Valentina foi desenhada à imagem e semelhança da atriz americana Louise Brooks. Em suas histórias, no traçado de seu desenho, ela flerta com as artes plásticas, a filosofia, a música, a literatura e o próprio universo dos quadrinhos. Lucchetti, o autor, dá a dica de alguns bons álbuns: Valentina intrépida e Valentina e os subterrâneos, que foram editados no Brasil pela LP&M. “Ela é um ícone intelectual da arte erótica. E fez sucesso porque é uma personagem de carne e osso. Humanizada”, diz Luchetti.

XNPress/Brainpix

Belas e feras: feita à imagem de Louise Brooks, Valentina deixou marcas em Brigitte Bardot, Béatrice Dalle e Angelina Jolie

(© ISTO É)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

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