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Gianni Ratto, no centro da foto |
Roberta
Oliveira
Ocenógrafo, iluminador e diretor de teatro Gianni Ratto estava na Itália
gravando imagens para o documentário “A mochila do mascate”, de Gabriela
Greeb, quando o celular de sua filha Antônia, que o acompanhava, tocou.
Era um primo italiano que tinha visto uma foto dele no jornal e queria
vê-lo. O encontro com o parente que Ratto nem sabia existir resultou num
dos momentos mais emocionantes do filme.
— Foi tudo surpresa. Nem a gente
sabia o que podia acontecer. O espírito do filme era estar sempre atento
e filmar as primeiras impressões, emoções de Gianni — diz Gabriela.
A idéia de transformar em filme a
trajetória deste artista italiano de 89 anos, que adotou o Brasil em
1954, partiu de sua filha Antônia.
— Quando ela me procurou, depois
de ver o meu curta documentário “Floreados do repique”, a idéia era
fazer um documentário sobre o pai o mais rápido possível — lembra
Gabriela, que escreveu o roteiro a quatro mãos com Antônia. — O livro em
que me baseei foi a própria Antônia, porque ela tinha todas as
informações.
Juntas, as duas fecharam o mote
de “A mochila do mascate”: aos 86 anos (hoje, tem 89), um artista se
dispõe a perambular pelo mundo para contar sua própria história. A
aventura começa na Itália, onde Ratto nasceu e se formou. Um dos
primeiros lugares que ele visita no filme é a escola onde estudou na
infância. É emocionante ver o diretor falando de sua mãe, de como foram
duros os tempos passados à distância e como soube que ela tinha morrido.
Bem como vê-lo entrar no Piccolo Teatro di Milano, que ajudou a fundar
ao lado de Giorgio Strehler, ou no La Scala, onde trabalhou por anos:
“Sempre gostei dos cenários que fiz para o La Scala. Agora, olhando para
eles melhor, vejo que eram bons mesmo”, brinca Ratto no documentário,
enquanto folheia os croquis.
Diretora descreve seu filme como humanista
O filme acompanha também a viagem
de Ratto para o Brasil, onde logo se juntou a Fernanda Montenegro, Ítalo
Rossi e Sérgio Britto, entre outros, para formar o Teatro dos Sete.
Trabalharia ainda como cenógrafo, mas também como diretor e iluminador,
profissões descobertas no novo país.
— O documentário vai além do
teatro, as escolhas de Ratto são humanistas — analisa Gabriela. — Ele
veio para o Brasil movido pelo amor e, nesta terra nova, desenvolveu a
criatividade dele. Não é um filme fechado para o meio teatral, é um
filme sobre um humanista, uma pessoa que atravessou a guerra, que define
teatro como vida, algo que pode influenciar as pessoas. Daí, a gente ter
incluído imagens poéticas, como as do mar, porque representam elementos
caros a Ratto, e ilustram seus pensamentos.
(© O
Globo) |