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Amor à flor da pele


 

O italiano Michelangelo Antonioni

Com episódios de Antonioni, Kar-Wai e Soderbergh, Eros trata do mistério do desejo

Ivan Claudio

   Muito comuns nos anos 60, os filmes em episódios parecem voltar à moda. Enquanto não chega Paris, je t’aime, no qual cineastas como Jean-Luc Godard, Gus Van Sant e Walter Salles filmam bairros parisienses, ganha as telas de São Paulo Eros (Eros,Itália/Estados Unidos/China, 2004), reunião de médias-metragens assinados por Michelangelo Antonioni (A perigosa linha das coisas), Steve Soderbergh (Equilíbrio) e Wong Kar-Wai (A mão). O melhor deles, sem dúvida, é o título de Antonioni, vítima de um derrame, que estava sem filmar desde Para além das nuvens, de 1995, quando teve a ajuda de Wim Wenders. Baseado em um conto de sua autoria, A perigosa linha das coisas promove uma verdadeira hipnose de imagens ao mostrar a aventura amorosa de um homem em crise com a mulher, que vai ao encontro de uma jovem vista de relance numa praia. Passado na Toscana, Itália, a história explora a arquitetura medieval e se envereda pelo mistério do próprio desejo.

   Ótimo também é o episódio de Kar-Wai, de Amor à flor da pele, que continua visualmente fiel às suas obsessões, no caso a Hong Kong dos anos 60, os hotéis de encontro, as chuvas intermitentes, as mulheres insinuantes e seus vestidos de seda. Não por acaso, o protagonista é um tímido alfaiate, Zhang (Chen Chang) contratado para fazer os trajes de uma cortesã, Hua (Gong Li), por quem se apaixona, mas não é correspondido. O amor se desenrola por anos até que a cortesã adoece, entrecho melodramático que Kar-Wai filma com maestria. Habilidade que faltou a Soderbergh no entediante Equílibrio, centrado numa sessão de psicanálise em que o analista está mais interessado no que vê pela janela. Entremeando os episódios, três animações de Lorenzo Mattotti servem de vinheta e trazem a bela canção Michelangelo Antonioni, de Caetano Veloso, cuja letra diz que o amor é “uma inútil janela”.

(© ISTO É)


Wong Kar-wai supera Antonioni e Soderbergh em "Eros"; veja fotos e trailer

Por Kirk Honeycutt

   TORONTO (Hollywood Reporter) - Apenas um dos três episódios do filme-antologia "Eros" cumpre o que promete o título. Três diretores mundialmente renomados -- Wong Kar-wai, Steven Soderbergh e o mestre atemporal Michelangelo Antonioni -- se reúnem para criar, cada um, um curta-metragem sobre erotismo e desejo.

   Seus nomes, somados ao título, devem suscitar bastante interesse no filme de arte da Warner Independent Pictures. Mas a decepção provocada por dois terços da antologia pode prejudicar sua bilheteria.

   O primeiro e mais bem-sucedido dos curtas é o dirigido por Wong. "The Hand" ("A Mão") é a história da obsessão de anos de um costureiro de Hong Kong (Chang Chen) por uma bela prostituta (Gong Li) para quem ele costura vários vestidos finos. Como alguns dos longas recentes do diretor, é uma história íntima e climática, narrada com closes filmados em ambientes quase claustrofóbicos.

   O erotismo paira pesado no ar. Chang Chen e Gong Li transmitem com habilidade a passagem dos anos e o ir e vir de uma vida em que um certo tipo de amor jamais pode ser retribuído.

   "Equilibrium", de Steven Soderbergh, é um esboço divertido ambientado no consultório de um psiquiatra, em 1955, entre o próprio psiquiatra (Alan Arkin) e um paciente que sofre de ansiedade aguda (Robert Downey Jr.). Tudo, menos o sonho recorrente do paciente, é filmado em elegante preto-e-branco.

   O sonho inclui visões fugazes de nudez feminina, mas um curta que gira em torno da invenção do despertador dificilmente pode ser considerado erótico. "Equilibrium" é inteligente, mas emocionalmente raso.

   Para muitos cinéfilos em todo o mundo, o grande diretor italiano Michelangelo Antonioni está acima do bem e do mal. Assim, seu curta, uma série de imagens livres girando em torno de um casal em conflito e seus encontros individuais com uma mulher de espírito livre, pode desencadear sugestões e provocações de todo tipo. Na realidade, é bom que o faça, já que, à primeira vista, o curta é emocional e cinematograficamente banal.

   O casal (Christopher Buchholz e Regina Nemni) discute, num diálogo travado e mal-pronunciado. Eles vão a um restaurante, e ali o marido vê uma jovem (Luisa Ranieri). Marido e mulher se separam, irados. O marido vai atrás da jovem e tem relações sexuais com ela. Algum tempo depois, no início do inverno, a esposa separada vai à praia, tira a roupa e então topa com a mesma jovem, que também está nua. Será que alguém de fato tiraria toda sua roupa na praia, no inverno?

(© UOL Cinema)


CINEMA/"EROS"

Antonioni espana o pó do cinema na abertura de longa de episódios

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

   O italiano Michelangelo Antonioni, um dos geniais diretores da história do cinema, tem 93 anos, se locomove numa cadeira de rodas e não consegue mais falar. Conserva-se, porém, perfeitamente lúcido e, por isso mesmo, não parou de filmar desde que sofreu um derrame, em 1985. Fez alguns curtas e, em 1995, um longa difícil e sublime, "Além das Nuvens", co-dirigido por Wim Wenders. Em 2001, iniciou "O Perigoso Encadeamento das Coisas", episódio de abertura de "Eros", composto de dois outros filmes curtos, dirigidos pelo americano Steven Soderbergh, 42, e pelo chinês Wong Kar-wai, 47.

   Soderbergh assina "Equilibrium", o menos interessante dos três episódios. O assunto é extremamente aborrecido, embora em tom de sátira: uma longa sessão de psicanálise, em que a perversão do analista supera a neurose do analisado. Apesar dos dois bons atores (Alan Arkin e Robert Downey Jr.), o filme de 26 minutos é redundante e pesadamente acadêmico.

   O episódio de Wong Kar-wai, "A Mão", é o que mais tem impressionado crítica e público, com o cuidadoso claro-escuro da fotografia (de Christopher Doyle), a elegância dos intérpretes (Gong Li e Chang Chen), a música nostálgica de Peer Raben (o compositor de Fassbinder) e a incrível síntese narrativa e poética.

   Ambientado na Hong Kong dos anos 60, o filme dura 45 minutos, que passam como se ouvíssemos uma longa canção triste. No tema, Wong é naturalista ao contar a história da paixão de um costureiro pobre por uma prostituta de luxo. No estilo, é um decadentista, com seu gosto por fetiches e sublimações, certa idealização mórbida da mulher e o sensualismo melancólico das imagens.

   A comparação entre os três filmes coloca em evidência a liberdade formal e a atualidade de Antonioni. Enquanto Soderbergh prende o seu filme num escritório, montando um autêntico esquema paranóico, Antonioni libera a câmera para vagar em constantes e minuciosos travellings, acompanhando um casal em crise. Enquanto Wong veste e reveste a sua musa, Antonioni despe suas atrizes quase o tempo todo, sem pudor. Pois é disso que trata o seu filme: dos desencontros entre amor e sexo, da positividade do desejo feminino, do erotismo como força exterior aos sujeitos, como energia enigmática que encadeia espaço, corpo, psique, narrativa e mito.

   Soderbergh e Wong filmam como se as formas cinematográficas fossem um conjunto de empoeiradas peças de museu. É incrível que o idoso Antonioni tenha feito o inverso com seu filme de 31 minutos: espanar o pó da linguagem e provar a vitalidade da velha sétima arte.

Eros
   
Direção: Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh e Wong Kar-wai
Produção: EUA/China/Itália, 2004
Com: Gong Li, Robert Downey Jr.

(© Folha de S. Paulo)

Para saber mais sobre este assunto (arquivo ItaliaOggi):

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