Foto Indymedia
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Cartão postal com apelo
sexual produzido há alguns anos pelo próprio governo do Ceará. Combate a
esse tipo de turismo, eleito como a prioridade do Conselho Nacional de
Turismo em 2005, começa a dar resultados. Dois vôos só com italianos
solteiros foram proibidos de aterrissar em Fortaleza
Oliviero Pluviano, da
Agência Ansa
Fortaleza – "Porcos italianos, voltem para casa". Este
grito, de um missionário italiano em uma praia de Fortaleza, é o que
melhor sintetiza a revolta dos religiosos e das ONGs brasileiras contra
o turismo sexual, que atualmente desencadeia prisões em série de agentes
turísticos na Itália e na América do Sul.
"É fantástico que se comece a
prender pessoas", disse o padre Renato Chiera, de 62 anos, já há 26 no
Brasil, trabalhando nas favelas do Rio de Janeiro, e há 3 na linha de
frente também em Fortaleza. "É preciso dar um basta a esta tragédia. É
revoltante ver homens com mais de 40 anos passeando com meninas por
Fortaleza. São situações que me mortificam. Vou às praias para
salvá-las, enquanto que há italianos - como eu, que estão lá para abusar
delas. Certa vez, de tão revoltado, comecei a gritar".
Chiera tentou filmar
informalmente os turistas sexuais na famosa orla de Fortaleza, avenida
diante do Atlântico que, junto com a praia de Iracema e os seus bares,
concentra a prostituição infantil numa das principais metrópoles do
nordeste brasileiro.
"Era muito perigoso", disse o sacerdote da italiana Mondoví.
"Existe uma rede criminosa propriamente dita ligada ao tráfico infantil.
Os próprios taxistas de Fortaleza são cúmplices. Eles pegam estas
prostitutas infantis pelas ruas e as levam para os hotéis, onde são
aguardadas pelos europeus. Vi com meus olhos meninas brincando de boneca
enquanto esperavam os clientes".
As coisas começam a mudar também
no Brasil, principalmente depois da cruzada contra o turismo sexual
lançada pelo governo federal. Um italiano suspeito de pedofilia foi
preso em Salvador, na Bahia, em 6 de dezembro passado. No mesmo período,
dois vôos charter provenientes da Itália foram recusados pela polícia
federal de Fortaleza: a bordo, só havia solteiros.
"Estou particularmente satisfeito
com o sucesso desta importante operação", diz o novo embaixador da
Itália em Brasília, Michele Valensise. "É fruto de uma colaboração e
coordenação plenas entre as autoridades italianas e brasileiras, às
quais agradeço pelo seu desempenho".
"Pela primeira vez, para este
tipo de crime, Itália e Brasil começaram uma investigação conjunta.
Juntos trabalhamos há meses com muito empenho e discrição, para
conseguir desmascarar a vil exploração sexual de menores", disse
Valensise.
O sacerdote de Verona Adolfo
Serripiero, de 66 anos, que há 32 anos trabalha nas favelas brasileiras,
também confirma que os tempos estão mudando.
"Os frutos que estamos colhendo
não vêm só do aumento da repressão. Há anos realizamos um trabalho
preventivo de conscientização nas favelas, para que as meninas entendam
os verdadeiros valores da vida. Agora ele começa a dar resultados",
disse o sacerdote, por telefone, direto de um hospital de Fortaleza. "Há
muitos italianos entre os turistas sexuais, mas muitos outros estão
ajudando. Um mosteiro de freiras defende há anos as meninas".
Segundo padre Serripiero,
registra-se um aumento constante no número de menores grávidas, mas não
por culpa dos turistas. "Pela primeira vez há meses, não vejo casos de
mocinhas engravidadas por estrangeiros de passagem".
O que preocupa é que o turismo
voltou a crescer. O Brasil, assim como a Argentina, é muito favorável ao
euro e atrai legiões de turistas.
"Há também muitos aposentados
italianos que passam meses vivendo no Brasil porque é barato", afirma
padre Cheira. "São os que menos respeitam as crianças em Fortaleza, mas
também no Rio de Janeiro, Recife e Belém. Certamente, o Brasil com Lula
está melhorando, mas é preciso que também na Itália se perguntem sobre o
porquê deste fenômeno. Os governos e as polícias são importantes, mas a
sociedade também precisa se indignar".
(©
Agência Carta Maior)
Conselho Nacional de Turismo quer
dedicar 2005 à luta contra turismo sexual
Agência Brasil
Salvador - A
decisão do Conselho Nacional de Turismo de dedicar 2005 ao combate ao
turismo sexual foi tomada na primeira semana de dezembro, em reunião
realizada durante o Fórum Mundial do Turismo, em Salvador. O ministro do
Turismo, Walfrido dos Mares Guia, respaldou a opção.
"Precisamos nos conscientizar de
que estamos num novo momento de cidadania", afirmou o presidente da
Federação Nacional dos Convention Bureaux, João Luiz dos Santos Moreira,
que também é do conselho. Moreira prometeu envolver na questão as 4.600
empresas associadas.
Na reunião, foi proposta também a
criação de uma espécie de "selo ético" que será usado por todo
"equipamento turístico" que se envolver na campanha, desde restaurantes,
táxis, hotéis, pousadas, bares e outros estabelecimentos. O selo seria
criado pela Federação Nacional dos Hotéis, Restaurantes, Bares e
Similares, prometeu o presidente Norton Linhares. "Vamos atrair outros
setores para esta iniciativa, porque é um trabalho de responsabilidade
social e, por isso, será importante que os empresários do setor adotem o
código de conduta", completou Linhares.
Um estudo apresentado no Fórum
afirmou que o turismo sexual, muito presente em países como Brasil,
Tailândia e Filipinas, existente na Tailândia e outros países, entre
eles o Brasil e as Filipinas, é responsáveis por 10% , ou 100 mil casos,
do total de crianças e adolescentes exploradas sexual e comercialmente
em todo o mundo.
Outra frente da luta contra o
turismo sexual será feita pela Organização Mundial de Turismo (OMT) e
pelo Ministério do Turismo, que lançaram em 29 de novembro a campanha
"Brasil, quem ama, protege". Segundo Sidney Alves Costa, representante
da OMT, a campanha é permanente e não se restringirá ao período do
verão. Entre as ações previstas, estão a veiculação de vídeos de um
minuto de duração na mídia e em aviões com vôos internacionais. Além
disso, há a distribuição de folders, cartazes e painéis nos aeroportos
de mais de 20 cidades brasileiras.
"A campanha não tem a única
finalidade de dissuadir o estrangeiro dessa prática (exploração sexual),
mesmo porque ela não se dá só por estrangeiros. Com relação a esses, as
ações são bem mais profundas, no sentido de que temos toda uma
estrutura, por meio dos escritórios de promoção do Brasil e das nossas
representações no exterior, trabalhando na origem, junto aos operadores
de turismo estrangeiros, para dissuadi-los de trazerem pessoas para essa
prática no Brasil, por estarmos com uma política forte de repressão e de
combate", explicou Costa. Na primeira fase da campanha, serão destinados
R$ 3 milhões do orçamento do Ministério do Turismo.
(©
Agência Carta Maior) |