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Obra de Tintoretto que faz parte do acervo
permanente do Museu do Prado |
Museu reúne 70 obras de artistas
do século 16, entre elas, dois estudos de Michelangelo para o "Juízo
Final" da Capela Sistina
DANIEL HORA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MADRI
A
história não seria a mesma se gênios como Michelangelo (1475-1564) não
ensaiassem antes de dar à luz suas criações. A importância do desenho
para as artes visuais vem dessa necessidade de estudo prévio a uma
composição. Esses experimentos podem alcançar o status de obras de arte
e formam um arquivo de imagens que contribui para a evolução da arte.
O
Museu do Prado, em Madri, apresenta ao público até fevereiro a exposição
"Um Século de Desenhos Italianos no Prado de Michelangelo a Carracci". A
mostra conta com 70 obras produzidas entre 1520 e 1620, período que
compreende do maneirismo ao barroco prematuro. O conjunto faz parte da
coleção de 600 exemplares dessa mesma época e procedência pertencentes
ao museu e catalogados pelo especialista britânico Nicholas Turner. O
trabalho promovido por ele nos últimos três anos resultou na publicação
do quinto volume do catálogo geral do acervo de 6.000 desenhos do Prado.
A pesquisa possibilitou o reconhecimento da autoria de duas obras de
Michelangelo, atribuídas até então a algum aluno da escola do artista.
Os
dois pequenos esboços, de um braço (165 mm x 35 mm) e de um ombro (150
mm x 115 mm), foram traçados pelo artista para o estudo de duas figuras
masculinas que aparecem no afresco do "Juízo Final", obra pintada por
ele na abóbada da Capela Sistina, em Roma. A catalogação desses
trabalhos confirma o já conhecido método de trabalho de Michelangelo, de
fazer rascunhos de partes específicas de suas amplas composições. Vários
desses desenhos eram feitos juntos em grandes folhas de papel, que
seriam recortadas pelos colecionadores nos séculos seguintes. Isto
acontecia porque se ganhava mais com a venda dos pedaços do que com a da
página inteira.
A
descoberta desses desenhos de Michelangelo é valiosa porque acrescenta à
historiografia novos pontos de referência a respeito de sua arte,
conforme explica o curador-adjunto da exposição, José Manuel Matilla.
"Se sabemos que estes pedacinhos de papel foram tirados de uma folha
maior, posteriormente aparecerão as demais peças com as quais vamos
montando o quebra-cabeça", afirma. Os esboços são exibidos ao lado de
reproduções da Capela Sistina que ajudam na localização das figuras
correspondentes.
Também fazem parte da mostra obras de distintas escolas regionais
italianas, com destaque para "São Lucas Pintando a Virgem", de Giorgio
Vasari, "Hércules Disparando seu Arco", de Luca Cambiaso, e "Adoração do
Bezerro de Ouro", de Jacopo Tintoretto. O material ilustra as
transformações sofridas pelo desenho ao longo do século 16, quando ele
se tornaria base para a criação artística. Durante o período, surgem
diferentes técnicas, aumenta a complexidade dos traçados e muda a
representação das formas humanas e a disposição espacial das imagens. O
saldo dessas inovações seria o abandono da descrição naturalista e
idealista do classicismo dos 200 anos anteriores, anunciando a chegada
do barroco.
Ingressos mais caros
Os
brasileiros em viagem pela Europa durante as férias de final e início de
ano pagarão mais caro para entrar no Museu do Prado a partir de 1º de
janeiro. O Ministério da Cultura espanhol aprovou uma proposta da
instituição para dobrar o preço dos ingressos, que atualmente custam 3
(R$ 11). O projeto surge após a revisão da natureza jurídica do museu
ocorrida no ano passado. A instituição segue sob controle do Estado,
porém terá que se esforçar mais para se autofinanciar.
O
diretor do Prado, Miguel Zugaza, prevê que após a mudança a arrecadação
anual com a venda de entradas vai dobrar para 6 milhões, alcançando em
2008 a cifra de 8 milhões. O museu defendeu a medida argumentando que o
valor de 6 por ingresso ainda está abaixo da média de seus pares
europeus e inclusive espanhóis.
Para visitar o Museu do Louvre, em Paris, por exemplo, é preciso gastar
8,50. Já no Museu Guggenheim de Bilbao, ao norte da Espanha, o bilhete
custa 10. O reajuste foi criticado por agências de viagens, por
associações de consumidores e pelo Partido Popular, oposição ao governo
do Partido Socialista.
A
proposta do Prado estendeu a gratuidade de entrada para estudantes e
professores. Atualmente, não pagam ingresso menores de 18 anos e maiores
de 65, aposentados, desempregados e portadores de deficiências, que
representam metade dos 2 milhões de visitantes recebidos anualmente. Aos
domingos o acesso é gratuito para todo o público.
(© Folha
de S. Paulo)
Museu também exibe retratistas e tela de
Rubens
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE
MADRI
Outras duas exposições temporárias merecem ser visitadas no Prado até
fevereiro de 2005. Em "O Retrato Espanhol - De El Greco a Picasso", o
museu propõe um retrospecto da produção retratista espanhola, com 87
obras de artistas como El Greco, Murillo, Velázquez, Goya e Picasso.
A
mostra liga o trabalho de pintores de diferentes épocas por meio das
influências que uns exerceram sobre outros, sugerindo uma tradição
nacional na arte da representação de personagens da monarquia e do
cotidiano.
A
exposição "Rubens - A Adoração dos Magos" conta com dez obras
relacionadas ao óleo de mesmo título, criado pelo artista em 1609 e
ampliado e modificado entre 1628 e 1629. Além do quadro tema, são
exibidos três esboços, um da tela e dois de figuras.
Há
uma cópia feita por um artista anônimo, uma radiografia do primeiro
esboço da obra, cinco outras pinturas do artista e uma de Paul Brill
retocada por ele, e uma gravura com autorretrato de Rubens.
(© Folha
de S. Paulo)
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